terça-feira, 9 de junho de 2009

O nome de Deus nas tragédias

Ageu Heringer Lisboa*

Acompanhamos pela TV o noticiário da trágica queda do avião da Air France. Perplexidade. Tinha toda a sofisticada tecnologia, estava preparado para todos os problemas previstos de antemão, com garantias de sobra. Raio não derruba avião (?), os pilotos eram preparados, as revisões de rotina rigorosas estavam em dia.
Mistério. O Titanic um dia não afundou? A usina atômica de Chernobil não vazou? A nave Apolo não explodiu? Surge em todos a frustração diante das tragédias. Elas pareciam estar definitivamente afastadas por "obra e graça" do rigor científico e tecnológico. Entretanto, sempre existem importantes variáveis não percebidas ou apenas fracamente consideradas.

Os familiares das vítimas apresentam-se com múltiplos sentimentos. Quem perdeu o avião dá graças a Deus. E quem morreu, como fica? Quem quis ou permitiu que acontecesse? Foi graças a quem?

Em acidentes assim, alguns sobrevivem e dizem graças a Deus; outros morrem, e quem dirá graças a Deus por eles? Então, graças a quem? Ou a ninguém, apenas uma fatalidade, que o próprio Deus não evitou? Quando Ele quis, sustou o final do desfecho, como no sacrifício de Isaque quase consumado por Abraão.

Como ficam os parentes dos mortos quando escutam alguém que não foi atingido dizer que foi salvo graças a Deus? Ele selecionou alguns? Desígnio de sua soberania? Não é esta uma resposta humana para justificar Deus por tão grande ausência de sentido? Não seria melhor guardar silêncio e simplesmente agradecer por estarmos vivos?

Fico inquieto com estas questões. Concluo que não se pode evocar o nome de Deus sem muita reflexão antes. Será que todos usamos em vão o Seu Nome?
Talvez devamos falar nada. Apenas, como Jó, entregar os pontos e exclamar: nada sabemos, apenas nos inquietamos; o Eterno sabe, Ele dá , Ele tira. Um dia saberemos.

Vejo Jesus como resposta a este e outros mistérios. Ele não veio explicar, veio estar com aqueles que sofrem, com os perplexos. Sua própria morte pode até ser entendida como ato de loucura de Deus cumprida por mãos humanas. Morte que depois foi vencida na Ressurreição.
Que nEle todos descansem em paz, mortos e vivos!

* Psicólogo, residente em São Paulo, Membro fundador e ex-presidente do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos

Nenhum comentário:

Postar um comentário