quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Teologia tem contribuições a dar às questões climáticas

Juan Michel/CMI

Genebra, terça-feira, 22 de dezembro de 2009 (ALC) - O que diz a Bíblia sobre a mudança climática? Quais idéias teológicas as igrejas podem oferecer ao mundo frente a uma crise ecológica sem precedentes?

Estas perguntas, propostas num seminário sobre "A criação e a crise climática", assistido por representantes de igrejas durante a Cúpula do Clima da ONU, reunida em Copenhague, parecem hoje ainda mais urgentes depois do fracasso do encontro, que não conseguiu produzir um acordo justo, ambicioso e juridicamente vincular que milhões de pessoas esperavam.

"Não há nenhuma relação evidente entre o evangelho e a mudança climática", disse o chefe do Departamento de Teologia Sistemática da Universidade de Copenhague, Jakob Wolf. A Universidade co-patrocinou o seminário junto com o Conselho Nacional de Igrejas da Dinamarca.

Mas como a mudança climática é conseqüência da atividade humana, ela recai sob o imperativo dos princípios éticos, porque os seres humanos são responsáveis de seus atos. A exigência ética de amar ao próximo se aplica aqui porque o "planeta Terra converteu-se em nosso próximo", disse Wolf.

Segundo o acadêmico, uma visão teológica do planeta e da vida que há nele como criação de Deus lhes confere um valor intrínseco, pelo que suscita "respeito e amor". "Quanto mais amamos a vida sobre a Terra mais dispostos estaremos a atuar de forma não-egoísta", sublinhou Wolf.

Esta é a contribuição que a fé e a teologia cristã podem oferecer à luta contra a mudança climática: uma motivação que é abarcadora, profunda e "bem mais vigorosa" do que aquela baseada apenas em "meros cálculos e frias obrigações".

Isto é fundamental, enfatizou Wolf, porque a humanidade "tem à mão todos os instrumentos" para adotar medidas em relação à mudança climática. "A única coisa que falta é a vontade."

A biblista Barbara Rossing, professora na Faculdade Luterana de Teologia de Chicago, Estados Unidos, concordou com Wolf de que "a Bíblia não diz nada sobre a mudança climática". Mas ela crê que os cristãos podem basear na Bíblia sua resposta ao fenômeno.

O ponto de partida de Rossing é a pergunta: "Onde está Deus nesta crise?" Ela recusa a noção de que Deus castiga a humanidade e acredita, antes, que Deus "se lamenta junto com o mundo".

Segundo sua leitura do livro do Apocalipse, "Deus chora pela terra, não a amaldiçoa". As famosas pragas não são predições, senão ameaças e advertências, telefonemas de alarme, projeções do futuro sobre conseqüências lógicas dos atos humanos, se não forem alterados os rumos.

No entanto, para Rossing, o livro do Apocalipse não anuncia o fim do mundo, senão o fim do Império. Por conseguinte, apesar das atuais pautas insustentáveis de consumo e de uma economia baseada no carbono, a teóloga estadunidense encontra nele uma mensagem de esperança: "A catástrofe não é necessariamente inevitável; ainda há tempo para mudar."

Esta "visão de esperança para hoje" é uma contribuição essencial que a teologia e a fé cristãs podem trazer aos esforços mundiais para enfrentar a mudança climática.

"De forma muito ameaçadora e inquietante, a crise do clima nos faz estar unidos como a humanidade una, como a comunidade una de crentes, como a igreja una ", disse o secretário-geral eleito do Conselho Mundial de Iglesias (CMI), Olav Fykse Tveit. 

"Somos chamados a mostrar um sinal do que significa ser a humanidade una, do que significa o fato de que Deus ama ao mundo inteiro", disse Tveit. Quando as igrejas se reúnem para oferecer este sinal, a luta contra a mudança climática "nos une de forma muito especial: como igrejas, como crentes".

A mensagem de que Deus ama ao mundo e a cada criatura que há sobre a terra "foi a sensação dolorosa que o movimento ecumênico enfrentou com relação à mudança climática", disse Tveit, recordando a longa história da preocupação do CMI pelas questões ecológicas.

Numa perspectiva ecumênica, a preocupação pela Criação tem estado sempre vinculada à preocupação pela justiça e a paz. "Não se pode dizer que este é um planeta para alguns de nós", disse o secretário-geral eleito, mas"é um planeta para todos nós".

O professor Jesse Mugambi, da Universidade de Nairobi e membro do grupo de trabalho do CMI sobre mudança climática, também destacou esse aspecto. "O mundo é um mundo no qual todos estamos relacionados por parentesco, mas teve algum momentos em que decidimos […] tratar-nos uns a outros como estrangeiros", afirmou.

Mugambi explicou que na África a mudança climática está causando graves secas, por uma parte, e inundações, por outra. Com a ajuda de mapas ele demonstrou que as partes do continente ricas em água e terras cultiváveis são também as zonas de maior conflito. Este conflito "não tem nada que ver com etnicidade, ele está relacionado com os recursos", disse.

Para Mugambi, a função da fé cristã e da religião em geral, por meio de seus líderes e teólogos é a de "fazer-nos voltar às normas" que possam contribuir para enfrentar um problema como a mudança climática.

"Não falamos de 'ajudar' os países africanos", disse Mugambi. "Não é questão de 'ajuda', senão da sobrevivência de todos nós".------------------------


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