terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cristãos e mulçumanos - hora de repensar

Eduardo Ribeiro Mundim

Há algumas semanas recebi um correio eletrônico acompanhado por um vídeo. Não consegui identificar o autor da gravação, e nem o amigo que o enviou a sua lista de contatos. Em síntese, o vídeo defende a tese que uma cultura qualquer entra em processo de extinção quando a taxa de natalidade daqueles que a ela pertencem cai a partir de certo percentual. Este fenômeno aconteceria hoje na Europa, que estaria sendo ameaçada pela imigração de muçulmanos. E estes têm uma taxa de natalidade elevada. Termina com uma convocação subliminar para que os cristãos redobrem seus esforços a fim de evitarem esta derrota.

Algum tempo depois, outro amigo enviou-me um texto do pastor Eli reproduzido em diversos blogs (http://apologian.blogspot.com/2009/11/muculmanos-outra-vez-nao.html), que mereceu comentário favorável do Bispo Anglicano Robinson Cavalcante (http://www.dar.org.br/bispo/50-artigos/678-ameaca-islamica-e-narcisismo-diletante.html). Nele, o pastor Eli narra a evangelização de um muçulmano durante um voo de avião, e a irada reação doutro, que a tudo assistia. Este, envolvido em um projeto mundial de disseminação do islamismo por toda a terra - ele viria ao Brasil. Nova convocação.

E neste último domingo, dia 29 de novembro, os suíços entenderam, através de uma consulta plebiscitária, ser hora de proibir a construção de minaretes em uma determinada localidade (http://www.alcnoticias.org/interior.php?lang=689&codigo=15604). Um dos motes da campanha era manter a Suíça para os suíços e impedir sua islamização.

Há cerca de 1 mês, a Folha de S Paulo publicou uma coluna do filósofo Luiz Felipe Pondé (http://crerpensar.blogspot.com/2009/11/proibicao-da-cruz.html) a respeito da proibição da cruz em escolas públicas italianas, decidida por uma alta corte. O filósofo expõe o receio de que o evento mostre a perda de identidade cultural européia, e que a proibição "cospe na cara de 2.000 anos de história".

Por que tememos o islã?
Por ser uma fé mais palatável, com um esquema salvífico menos complicado e mais óbvio, de "salvação pelas obras"? Nós já temos a IURD e semelhantes destruindo o Evangelho da Graça através da teologia da prosperidade...
Por estar atrelado, em diversos países, a esquemas políticos ditatoriais, com perseguição polítca, religiosa e econômica? O ocidente tem seu católico Francisco Franco na Espanha, e o protestante "nascido de novo" George W Bush, defensor da tortura sistemática dos supostos inimigos do estado e da política do "grande porrete"...
Por ter uma face bárbara através da mutilação genital feminina, do cerceamento da mulher enquanto ser humano em igualdade de condições com os homens, do apedrejamento de adúlteras? Mas pessoas morrem de fome no nosso Brasil, políticos alimentam-se a si mesmos e aos seus (e acham a coisa mais natural do mundo) e o tráfico de drogas e a prostituição, inclusive infantil, encontra guarida em postos sociais inimagináveis...

Não encontro nas Escrituras a afirmativa que o cristianismo será a fé majoritária do planeta em alguma época. Encontro o ensino de que, na nova Jerusalém, haverá um só rebanho e um só Pastor - uma fé única. Encontro o ensino de que muitos são chamados, mas poucos os escolhidos; de que os salvos são incontáveis como a areia do mar, assim como aqueles que se excluem do Reino, ao negar o sacrifício substitutivo de Jesus; de que o número destes é muito maior que o daqueles; de que a vocação da Igreja é servir no presente século, e reinar, somente no Reino escatológico, onde apenas o Cordeiro se assenta no trono.

O diabo marcou um dos maiores gols de sua carreira quando convenceu o imperador Constantino a converter-se. Conversão bastante conveniente do ponto de vista político e questionável enquanto fato. Mas inquestionável o dano colateral produzido: o atrelamento do Evangelho à força política e ao estado. Jesus recusou-se a adorá-lo em troca do poder político, e a igreja aceitou o poder político sem adorá-lo, mas tornou-se permanente pedra de tropeço a incontáveis pequeninos. E Jesus alertou sobre que for pedra de tropeço para os vulneráveis...

Não quero a cruz como elemento de minha cultura. Desejo-a como minha vocação, inspiração e senhorio. Como lembrete das Escrituras e de que ela está vazia, pois nem a morte conseguiu detê-lo. Talvez eu tema mais o conformismo atual, que esvazia o seu conteúdo, igualando-o ao folclore, que uma eventual (e improvável) ditadura islâmica.

Um comentário:

  1. Eduardo, muito lúcidos seus comentários, que depreendemos apregoar a tolerância às diferenças de visão, inclusive religiosa. Mais relevante do que a fé abraçada, seja espiritualista ou mesmo materialista, é o Bem que somos capazes de fazer a nós e a outrem a partir de tais convicções. Que o foco fique maior no destino, nossa evolução moral e intelectual, e menor nas diferenças de caminhos para chegar a essa evolução, permitindo uma evolução nossa e de nosso Planeta. Abraços, Carla e Hendrio

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