terça-feira, 13 de abril de 2010

Ciência e Bioética - um olhar teológico

Ciência e Bioética: diferentes pontos de vista

Eduardo Ribeiro Mundim*

A ciência, enquanto atividade humana, é essencial à sobrevivência desta espécie no planeta Terra. A perspectiva evolucionista aponta que foi com a tecnologia que o Homo sapiens dominou o ambiente, e tornou-se a espécie hominídea única. Mesmo os povos com o menor nível de desenvolvimento tecnológico sobrevivem lastreados pela capacidade inventiva e de solucionar problemas, a partir de alguma análise dos mesmos. E ciência é, antes de tudo, a atividade de observar, questionar, buscar respostas, novamente observar, novamente questionar e novamente buscar respostas. A princípio, é uma atividade sem fim, pois cada nova resposta propõe novas questões, incluindo se a resposta encontrada é a melhor resposta àquela questão específica.

A ciência vive da observação, da prática, do obter resultados. Uma tecnologia qualquer é ciência enquanto está sendo desenvolvida. Terminada, posta em uso, deixa de ser ciência, e passa a ser um produto desta, uma ferramenta, um recurso.

E quando observa, observa uma parte, e não o todo. Observa parcialmente porque aprendemos que trabalhar com o menor número possível de variáveis facilita o raciocínio, e, talvez, conduza a resultados mais rápidos. Observa parcialmente porque frequentemente a pergunta é objetiva e específica: o que é isto? como funciona? como produzir a ferramenta tal? como atingir o objetivo proposto? Observa parcialmente porque o meio utilizado para observar é limitado: a visão não abarca tudo ao mesmo tempo, seja uma montanha (imagem completa, mas sem detalhes) seja uma célula (riqueza de detalhes, mas sem o todo). Ao analisar um monte ele pode ser descrito na sua forma, composição rochosa, tipo de vegetação, fauna presente, microrganismos encontrados, cadeia ecológica existente, impacto sobre o clima da região em que está... O geólogo somente falará das rochas; o botânico, da flora; o zoólogo, na fauna; o biólogo, da ecologia; o microbiologista, dos germes; o meteorologista, do clima. O conhecimento do monte somente será extenso se todos os aspectos forem observados.

E quando o cientista começa com a escolha do objeto de observação, ele construirá uma hipótese, na qual usará de analogia, indução e imaginação. Certo da veracidade dela, verá desdobramentos subsequentes que não foram observados e estudados e "comprovados". Quanto mais longe de sua observação inicial, mais as conjecturas serão frutos de sua imaginação e menos de sua ciência.

E todo este processo, do objetivo ao imaginativo, é mediado pela linguagem - recurso simbólico usado para descrever a realidade por aproximação. E esta sempre parcial, condicionada ao horizonte cultural e imaginário do cientista. A realidade será sempre parcial, e será mais completa quanto mais observadores trabalharem a partir de diferentes instrumentos e áreas de pesquisa (ou, áreas de perguntas). Mas o quadro pintado não é a realidade em si, mas um retrato, e não necessariamente correto no todo, ou em partes.

A bioética compartilha da necessidade de observadores que adotam diferentes pontos de partida. Quanto mais observadores, mais questões e maior grau de riqueza da análise. Ela não pergunta "como?", mas "por que?", "com qual finalidade?", "onde leva?".

A bioética incomoda o cientista quando lhe pergunta se sua metodologia é é moral. Por exemplo, é moral inocular germes em uma pessoa para ver o que se sucede? É moral expor pessoas à radioatividade sabendo dos riscos, "para ver o que acontece"? A bioética questiona se todo conhecimento é um bem; se este suposto bem pertence a todos; se este suposto bem é seguro e traz felicidade a quantos; pergunta por democracia, por autonomia, por liberdade de crença e de vida.

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* reflexões que nascem da leitura do livro "Ciência e bioética: um olhar teológico", de Euler R. Westphal, publicado pela Editora Sinodal

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