"Lembro-me de ter visto um adesivo que dizia: 'se o cristianismo fosse ilegal, haveria evidência suficiente para condená-lo?'. Naquela noite eu tive um sonho verdadeiro, e fui convocado à presença de um juiz.
A acusação tinha um caso contra mim. Eles iniciaram oferecendo ao juiz dúzias de fotos onde eu comparecia à igreja, falava em eventos religiosos, participava de orações e louvor. Após, ofertaram como evidência livros religiosos que eu lera, seguidos por CDs religiosos e botons. Aceleraram o passo e revelaram a corte alguns poemas, textos e anotações de diário que eu escrevera sobre fé. Então, para terminar, a acusação torceu a faca que brilhantemente estavam usando na ferida, oferecendo minha bíblia ao juiz. Um livro bem encapado, rabiscado, anotado, cheio de desenhos e todo sublinhado - evidência, se fosse necessária, que eu havia lido e relido este livro sagrado.
Durante a apresentação, eu fiquei sentado, tremendo, com medo, impregnado de suor. Sabia, do fundo do coração, que com aquelas evidências contra mim, prisão, ou mesmo a morte, era uma forte possibilidade. Em muitos momentos, eu estivera, por um fio, a levantar e negar Cristo. Mas enquanto esta ideia me assombrava, resisti a tentação e mantive-me centrado.
Após a acusação ter encerrado seu caso, o juiz inquiriu-me se havia algo que desejava acrescentar, mas permaneci em silêncio e resoluto, aterrorizado que, caso abrisse minha boca, seria suficientemente fraco para negar as acusações contra mim. Sou, então, levado enquanto o juiz analisa meu caso.
Após cerca de uma hora, sou novamente convocado de volta a sua presença para ouvir o veredito e a minha sentença. O juiz entrou na sala, ficou defronte mim, olhou profundamente nos meus olhos e declarou: 'das acusações apresentadas eu o declaro inocente'.
'Inocente'. Meu coração para. Então, numa fração de segundo, meu medo e terror são transformados em confusão e raiva. Apesar de mim mesmo, permaneci à frente do juiz e exigi que explicasse porque era inocente das acusações com todas as evidências apresentadas.
'Que evidências?', ele perguntou chochado.
Comecei apontando os vários poemas e as anotações no diário, mas ele simplesmente disse que elas mostravam que eu tinha jeito com as palavras.
Então, falei dos encontros onde discursara, nos cultos que participara e nas conferências que assistira.
Mas novamente ele sorriu simplesmente e disse-me que eram evidências de ser um orador público e com tendências a ator, representando ser o que não era - nada mais. E acrescentou que aquelas bobagens jamais poderiam me condenar.
O sonho termina com ele olhando-me nos olhos, como se informasse de um grande segredo, a muito esquecido: 'a corte é indiferente as suas leituras bíblicas e idas à igreja; não há preocupações em adorar com a boca e com a caneta. Permaneça desenvolvendo sua teologia e pintando telas de amor. Não temos interesses em artistas igrejeiros que usam seu tempo criando imagens de um mundo melhor. Nós existimos para aqueles que desistem da própria vida de modo semelhante ao de Cristo para criar um mundo como aquele.' "
traduzido de How (not) to speak of God, de Peter Rollins, pag 124-5
Texto profundo, me levou a refletir!
ResponderExcluirParabens pelo blog!