sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Religião e Intolerância

Paulo de Castro


Religião é a tentativa humana de definir seu relacionamento com a divindade. A religião não é definida por Deus, ao invés disto, pela interpretação humana do que tal relacionamento demandaria.

Existe um grande conflito na busca da verdade. Percorremos caminhos inúmeros, nossas mentes vagam à procura de uma resposta, que muitas vezes não existe ou não se define como a imaginamos em primeiro lugar. Isso nos atordoa e confunde, logo, nos obrigamos a escolher uma abordagem, um lado do espectro para que nesse ambiente possamos encontrar um lado da verdade, que em última análise, corresponde à verdade, não obstante ser apenas um de seus muitos aspectos.

A vida é maior que cada um de nós. Como podemos analisar algo que nos envolve? Como nos distanciarmos daquilo que nos contém para obter uma visão do todo e então podermos afirmar do que se trata?

Cada um de nós, marcado por sua vivência e experiência, traz consigo um modo peculiar de perceber a verdade e interpretá-la, e embora todos estejam certos, ao mesmo tempo, incorrem no erro de impor sua parcela como sendo a expressão máxima do saber e que por consequência excluiria todas as outras opções automaticamente. Se eu estou certo, e eu estou, logo, você tem que estar errado. Inúmeros são os argumentos que tentam descredibilizar o outro ao invés de argumentar a favor da própria causa.

As guerras e contendas que vêm de nossos desejos, dos nossos deleites que inquietando-nos, nos atormentam a ponto de exigirem de nós a execração pública de nossa própria ignomínia, manifestada e personalizada naqueles que de nós discordam e conduzem sua existência de forma diferente. Bem-aventurado aquele que não se condena naquilo que aprova. Portanto, somos indesculpáveis quando julgamos quem quer que seja, porque nos condenamos a nós mesmos naquilo em que julgamos os outros.

Pensarmos de maneira diferente não nos separa. A forma como lidamos com a diferença nos separa. Afinal, de tudo que nos diferencia o que realmente é relevante? Não seria paradoxal que o mesmo Deus que nos criou únicos, singulares em todos os aspectos também quisesse que fôssemos produtos de uma linha de montagem, assumindo todos a mesma forma, a mesma função?

Ainda me incomoda a intolerância. Pensamos de forma diferente, somos diferentes e por isso não há alternativa a não ser eliminar da minha presença tudo o que aquele que é diferente representa, inclusive ele mesmo.

Sou da ciência, não posso ter religião. Sou da religião, não posso ter ciência. Até onde eu saiba a religião não ofereceu todas as respostas para que enfim definida, possamos dizer o que ela exclui ou não. A ciência por sua vez, acredita que tem as respostas até que uma nova descoberta mude tudo o que se acreditava e somos convidados a aprender (e crer em) tudo de novo.

Eu creio. E por isso mesmo questiono por que o Criador nos teria criado desta forma 'imperfeita'. Não naturalmente inclinados a reconhecer Sua própria divina existência. Por que somos capazes de recusá-lo? Negá-lo? Por que não fomos naturalmente pré-dispostos a procurá-lo e aceitá-lo, já que Ele é em si mesmo a fonte de toda vida e sem Ele nada do que é permanece? Onde estava a onisciência divina na criação do homem? Criaria eu um mundo sabendo de antemão que este ato levaria a morte, e uma morte terrível, do meu próprio filho? Por que um deus que quer tanto ser achado se esconderia com uma eficiência tamanha por tanto tempo?

Embora questione isso e muito mais, não me sinto abalado na fé. Continuo crendo na perfeição da criação e no sacrifício de Cristo por mim.

A beleza das coisas está na sua efemeridade ou em sua eternidade? Por que a vida é tão bela? Seria justamente porque cada momento pode ser o último, por isso vivamos intensamente o presente já que não sabemos o que virá amanhã? Precisamos do estímulo da morte para percebermos a vida?

Em nenhum momento a religião se faz tão necessária como quando confrontamos a morte. Não conseguimos explicá-la, entendê-la, aceitá-la. Precisamos da panaceia religiosa para aceitarmos o fato que somos mortais... Ou será que a fé, neste momento, é a atitude mais subversiva que se pode tomar diante da intrusa morte, que se impõe como um convidado que não estava na lista, como um desconcertante elemento que não estava no plano original do Criador? Porque assim diz o SENHOR que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada. O que é a morte? Se Deus tudo criou, e Deus é vida então o que é a morte? O que o Todo Poderoso criou que é o oposto d'Ele mesmo e anula sua mais preciosa dádiva: a existência?

A melhor definição da Divindade que já ouvi é esta: não se pode dizer o que Deus é, mas podemos dizer o que Ele não é. Ele não é homem, não é mulher, não é nada que já tenhamos visto ou definido e ao mesmo tempo também é.

Nada corrompeu mais o relacionamento humano com o Eterno do que a busca do poder. Homens buscando justificar sua posição creditaram ao mundo dos espíritos a fonte do seu poder. Declararam representar o Criador, ou uma instância qualquer do mundo espiritual e que, portanto deveriam ser respeitados, obedecidos, recompensados e seguidos sem questionamento. Chegam a se declarar infalíveis. Cheios de si mesmo e de seus desejos promovem a fé em um sistema de crenças baseado em suas próprias demandas e objetivos. Inebriados pelo poder, se alimentam de sua própria versão santidade, se fortalecem pela imposição das convicções. Prefiro votar em candidatos que não se declarando cristãos agem como se fossem a votar em candidatos que proclamam aos quatro ventos sua filiação religiosa, mas envergonham cotidianamente, por suas atitudes anti-éticas, toda uma nação.

Agora vemos em parte, mas então veremos face a face. A resposta para tudo??? A minha por enquanto é o amor. Não creio em um Deus que peça que eu me vingue por ele se alguém o ofendê-Lo. Nosso dever é amar a todos. TODOS. Amar é a verdadeira religião.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário