O grupo de trabalho foi instituído depois que o 18o Concílio, reunido em 2006 na cidade de Aracruz, Espírito Santo, decidiu pela retirada da Igreja Metodista dos organismos ecumênicos que tinham a participação da Igreja Católica Apostólica Romana, como é o caso do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese).
Na revisão da carta pastoral sobre o ecumenismo, de 1999, o grupo de trabalho metodista detectou uma "área de resistência católica", que passa pelo Piauí até o Rio Grande do Norte, desce até o sul de Minas Gerais e norte de São Paulo, englobando ainda grande parte do Rio de Janeiro e o norte do Espírito Santo. Neta faixa localizam-se "bolsões de evangélicos", inseridos em área na qual 91% da população é católica
"Até os dias de hoje, em certas regiões, não há qualquer disposição por unidade da parte da hierarquia católica, que tende a tratar os metodistas de forma sectária e discriminatória", diz o documento elaborado pelo grupo de trabalho, divulgado na semana passada.
Depois de fazer uma análise histórica de movimentos – da missão, da prática e da doutrina - que culminaram com a criação do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) em 1948, o grupo de trabalho metodista destacou que todas essas fontes do movimento ecumênico têm origem no protestantismo e que a Igreja Católica resistiu bastante a nele se engajar, apesar de convidada.
"Demorou para a Igreja Católica se integrar ao movimento ecumênico: foi apenas após o Concílio Vaticano II (que terminou em 1965), convocado pelo papa João XXIII, que esta igreja reconheceu a existência e o valor do movimento ecumênico e incentivou a participação dos seus líderes e membros", assinala o documento metodista.
O grupo de trabalho lembra a trajetória do pastor anglicano John Wesley, no século XVIII, que se alimentou da herança da Reforma protestante, mas que não tinha intenções de iniciar uma nova igreja, no caso a Igreja Metodista. "Ele criou mesmo foi um movimento de avivamento dentro da sua Igreja Anglicana", reforça o texto do grupo de trabalho.
Wesley reconhecia o direito que as pessoas tinham de se apegarem a uma proposta religiosa diferente da dele, e que as pessoas não precisavam pensar de uma mesma forma, assim como não se deve impor o modo de entender a fé cristã aos outros que seguem o seu próprio modo de compreensão. "Não cuido, pois, de acalentar a presunção de impor meu sistema de culto a quem quer que seja", disse em sermão.
O fundador do metodismo pregava o diálogo e o respeito. Ele alertou, contudo, que o perigo não estava em relacionar-se com quem tem posições diferentes, mas de relacionar-se sem ter segurança da sua própria doutrina.
"Participar na caminhada pela unidade cristã requer que nos aperfeiçoemos no conhecimento e vivência de nossa identidade", admite o grupo que retomou o documento de 1999.
A Igreja Metodista no Brasil foi a primeira a se filiar ao CMI, participou da fundação do Conic, em 1982, da Confederação Evangélica do Brasil (CEB), fundada em 1934 e extinta pelas ações repressoras da ditadura militar. Integra o Conselho Latino-Americano de Igrejas (Clai), o organismo de serviço Diaconia e a Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (Aste).
O documento que faz a revisão da Carta Pastoral sobre ecumenismo da Igreja Metodista admite que a existência de várias igrejas cristãs não é, em si, um fato negativo. "As diferenças entre elas, no entanto, podem se tornar negativas quando as relações são caracterizadas por atitudes de competição, acusações mútuas, falta de diálogo e até conflitos", afirma.
É urgente trabalhar a unidade interna para resolver os problemas de relacionamento, propõe o grupo. "A prática da unidade cristã no dia-a-dia da Igreja Metodista nos mostra que, por vezes, encontramos maior tolerância para com as comunidades e lideranças não-metodistas do que com os irmãos e irmãs e lideranças da própria denominação", assinala.
Em relação à unidade com outras igrejas cristãs e movimentos, o grupo de trabalho recomenda que os metodistas mantenham-se abertos ao diálogo com quem está em coerência com o cristianismo, "buscando formas de cooperação e de testemunhos cristãos comuns, nos aspectos social, religioso e em ações de cidadania".
A busca da unidade, admite o documento metodista, não é a busca da união das igrejas numa única forma institucional. "Ela é, acima de tudo, a afirmação e o reconhecimento da diversidade de dons e ministérios concedidos por Deus ao seu povo. Portanto, pode-se dizer que a prática da unidade cristã é a busca e vivência da unidade na diversidade".
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