segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Caso Marina Silva

Apolo Heringer Lisboa,

A Marina é uma entre milhões de pessoas que confiaram num PT ético, transformador e puro. Mas ela demorou muito a sair. Ficou neutralizada na época do Mensalão. Fez coisas inaceitáveis, talvez constrangida e achando que seria a última vez. Apoiou e endossou os transgênicos. Apoiou a transposição do São Francisco. Aceitou o desmembramento do Ibama. Não se manifestou em relação aos projetos das canalizações sistemáticas dos córregos e ribeirões urbanos a pretexto de saneamento aprovados pelo PAC e que irão produzir enchentes urbanas em todo o Brasil com altos custos de manutenção e perpetuamente. Teve uma visão muito limitada da questão ambiental, muito só amazônica e para efeito internacional. Mas trata-se de uma grande pessoa, com currículo de superação. É uma companheira, apesar dos erros cometidos, é respeitável.

Mas na política partidária e na administração dos negócios de Estado Maquiavel tinha razão. Há uma diferença entre ética e eticismo. Apesar de não aceitar certas atitudes do Lula e não praticá-las em minha vida privada, ainda que com incremento de minhas dificuldades pessoais e familiares de sobrevivência, não posso ser tão duro a ponto de acusá-lo de desonesto, muito menos de corrupção. Numa conversa pessoal poderia até dizer a ele alguns exemplos, de companheiro para companheiro que se conheceram no passado e nenhum contato mais mantemos. Vou dar exemplos. Eu acho o Lula ético. Acompanhei sempre sua trajetória, esforço, falas contraditórias, e cabeçadas. Mas acho o Suplicy eticista, e respeitabilíssimo em todos aspectos inclusive pessoais. Mas vi ontem o Suplicy ao lado do senador Agripino Maia, na Globo News, sendo entrevistado pela raposa do jornalismo Alexandre Garcia sobre a acareação da Dilma no Senado com a funcionária da Receita Federal. O Agripino emocionado falava e rolava de ética, elogiando o Suplicy como "homem de bem" e o Suplicy orgulhoso dizendo: "sem dizer a verdade não há justiça! Quero a acareação"!

Se o Suplicy não fosse eticista, mas ético competente diria:"agradeço a menção a meu comportamento pois sempre fui coerente; mas vocês, Agripino não têm história para falar de ética.". O Suplicy é ou parece ser ingênuo muitas vezes, com atitude eticista. Ninguém duvida de sua honestidade mas ele se esquece que está entre pessoas de alta periculosidade. A ética não é monopólio dos bons; os bandidos são altamente éticos: quem não paga a droga morre; quem estupra morre! Pinochet derrubou Allende fazendo o discurso da democracia, da ética e da defesa da liberdade no Chile. Aqui em 1964 os generais fizeram este discurso da ética, com a UDN à frente. Até à eleição do Lula só a elite mandava e desmandava e roubava, fazia todo tipo de alianças espúrias. Ainda torturavam a juventude nas prisões das Forças Armadas. Onde estavam nesta época os
éticos da ARENA e do PDS? Estavam no poder. Hoje está tudo mais democratizado, a base de apoio ao governo e o PT com pouca preocupação com ser rigorosos com o dinheiro público e aqueles "pruridos " de honestidade caseira e de gente da roça, agora eles mamando menos, estão revoltados. Mas para manter este equilíbrio político no Congresso, que dá governabilidade, o Lula fez alianças espúrias com Sarney, com o PMDB, com o Renan Calheiros, com o Collor, com a turma do Maluf etc. Será que ele esperava que o próprio PT quisesse ser vanguarda também neste campo? Talvez sim, pois deve ter sido convencido que para derrotar a burguesia precisaria usar as suas armas infalíveis eleitoralmente. Para eles o único crime eleitoral seria perder eleição! Apesar disso tudo, apesar deste maquiavelismo, desta compreensão de que os fins justificam os meios e que o povo aceita tudo isso, por estar tendo retorno! O Lula meu amigo(não sei se ele ainda é meu amigo, tem gente perto dele aqui de Minas que deve feito a minha caveira; problema dele se acreditou! Continuando, o Lula atravessou o Rubicon e foi além do suportável pela maioria dos militantes
de esquerda com preocupações morais. Ainda assim, nesta abordagem da política de Estado, onde é necessário dividir para governar e onde os discursos todos são falsos, o que interessa é o poder nas mãos, ainda que com projetos deformados do antigo programa do PT, acho que o Lula é ético e comete ou engole coisas que exige um super estômago, em defesa do que acredita ser o melhor para o povo. Não acho o Lula da tralha que o acusa ou dos seus "aliados" lobos vorazes ou mesmo da maioria hoje dos seus companheiros de legenda, fisiológicos chacais. Para esta gente não interessa a ética, interessa os resultados. E o povo que sustenta o governo, interessa ganhos reais como como bolsa família, salário, emprego, cotas, aumento de vagas na universidade, sem entrar aqui no mérito destes ganhos. Para o povo isto é ética também. O povo aceita políticas anti-ambientais, acordos com o agro-negócio, proteção a banqueiros, escândalos e aceita que o Lula faz isto para segurar o trem nos trilhos, senão ele cai. O povo vê a corrupção como natural, veja como não se abalou com as denúncias do Mensalão. O povo está acostumado com ela e não acredita que os políticos irão acabar com ela.

Filosoficamente, o povo é cínico e o Lula também, pois não têm as ilusões pequeno burguesas de honestidade nem acredita nesses discursos éticos que só
se sustentam na oposição. Como ensinou o filósofo inglês David Hume nos anos 1700, "a moral é utilitária; moral é o que é bom para nós". As pessoas e os partidos são pragmáticos e a moral complacente como talvez certos hímens. Os partidos só querem o poder do Estado, eles miram-se nos resultados; agora só pensam na vitória em 2010 e nas alianças para isto. O resto é o resto. O Lula tem coragem e raça de enfiar a cara nesta coisa que nos choca tanto. Acho que ele corre pequeno risco de uma imagem histórica negativa por causa disto. Imagine agora o DEMO vencer em 2010 coligado com o PMDB, ou o PSDB do senador Arthur Virgilio e em nome da ética?

Um velho salinenzse que se vivo teria hoje 100 anos nos dizia há anos que às vezes é preferível deixar a cachorrada gorda continuar mais um pouco no poder que trrocá-la pela cachorrada magra, que terá que engordar-se. Isto tem acontecido sucessivamente na chamada "rotatividade democrática" de eleições venais.

Eu estou há mais de uma década longe de qualquer vínculo partidário, pois não consigo ser ético no sentido que descrevi aqui. Sou mais eticista, mais ingênuo e portanto impróprio para partidos. Vou velejando só pelos meus mares tentando ser fiel à educação que recebi em casa. Educação para"bobocas". Sou político até a medula mas não sou propício a ser peça partidária, nem a líder deste reino, e muito menos a ser cabo eleitoral.

Quanto à Marina que se cuide no PV. O PV não é programático nem
respeitado. Não passa de um partido de programa!com todo respeito às mocinhas e rapazes das esquinas e das noites. Ela não vai resolver os problemas que tinha no PT. Será que não há uma alternativa extra partidária? Será que um dia a gente vai poder dizer a verdade e ser transparente, sem transgredir os "dez mandamentos" ! e ser eleito para alguma coisa?

Belo Horizonte, Agosto 2009

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