Presb. Ronaldo Pereira Martins
Na semana passada os brasileiros acompanharam pela TV a operação militar que a imprensa chamou de “guerra contra o tráfico”. Pouco se falou sobre o fato de que, durante décadas, a população do conjunto de comunidades do Complexo do Alemão viveu abandonada à própria sorte, sem a presença e o apoio do Estado. O que se destacou foi o fato de que, triunfalmente, a polícia e as Forças Armadas “libertaram a população do jugo dos traficantes”.
A cinematográfica “libertação” demonstrou o que todos sabemos: se há “vontade política”, o Estado pode ter êxito na promoção do bem comum.
Mas de que tipo de libertação nós precisamos? A que provém da vontade ou a que provém da esperança? Essa questão me veio à mente enquanto assistia, estarrecido, à “guerra urbana” no Rio de Janeiro, em pleno domingo de Advento
O que distingue a vontade da esperança? Segundo Sponville, “a esperança é um desejo que se refere ao que não depende de nós; a vontade é um desejo que se refere ao que depende de nós”. Corroborando com o que afirma o filósofo, eu diria que a esperança da libertação proposta no Reino de Jesus Cristo se funda em uma novidade de vida que não depende de nós mesmos, mas da graça de Deus.
É bom que os moradores do Complexo do Alemão tenham sido libertados da opressão imposta pelos traficantes. Mas devemos ter claro em nossas mentes que eles ainda não receberam o verdadeiro presente de Natal. Apenas tiveram paga uma dívida que poderia ter sido quitada há muito tempo se houvesse vontade.
Que a esperança resista no coração daquela comunidade e que as famílias do Alemão continuem ansiando a libertação definitiva, aquela que foi assim descrita pelo profeta Isaías: “ele edificará a minha cidade, e soltará os meus cativos, não por preço nem por presente”. (Isaías 45:13)
A liberdade apregoada no tempo do advento é aquela que se estabelece como direito de todos os cidadãos do Reino de Deus. É a liberdade que nasce da esperança de que o Senhor está no controle das nossas vidas. É a liberdade que não depende da nossa própria vontade. É a liberdade que advém da verdade, nos guiando para o caminho no qual a presença de Jesus Cristo é definitiva.
Neste tempo de Advento podemos cultivar nossas vontades ou nossa esperança. Na última segunda-feira, a Federação do Comércio divulgou uma pesquisa demonstrando que o índice de otimismo dos consumidores de Belo Horizonte bateu o recorde histórico. Segundo a pesquisa, todos querem consumir como nunca no próximo Natal. Essa é uma vontade que depende apenas de nós. Mas, com certeza, é a maneira menos adequada de esperar pelo Natal.
Talvez devamos aceitar o desafio de reconstituir o sentido do Advento como um tempo de esperança. Podemos e precisamos cultivar a esperança de que o Natal represente, a cada ano, um recomeço, o despertar de um novo dia, no qual ganhamos força para lutar pela transformação definitiva da sociedade e do ser humano.
Quais são as imagens que lhe vêm à mente quando você pensa no Natal? Quais são os desejos que você cultiva? Se eles se referem apenas a prazeres passageiros, como presentes e ceias fartas, são mera vontade humana. Se remetem você ao sentimento de que um mundo novo é possível a partir da libertação preconizada no Reino de Deus, os seus desejos estão revestidos da esperança do Natal.
Feliz Natal para os moradores do Complexo do Alemão!
fonte: http://www.segundaigreja.org.br/noticias_view.asp?id=393
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