sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Defensores do Design Inteligente não apoiam ensino da teoria nas escolas

A Sociedade Brasileira do Design Inteligente (TDI-Brasil), instituída durante o 1° Congresso Brasileiro de Design Inteligente, emitiu um manifesto em que declara sua posição atual sobre ao ensino da Teoria do Design Inteligente (TDI) e da Teoria da Evolução (TE) nas aulas de ciência.

“A TDI-BRASIL declara, como sua política educacional, não ser favorável, na atual conjuntura acadêmica, ao ensino da TDI nas escolas e universidades brasileiras públicas e privadas, como também nas confessionais”, diz o manifesto.

A sociedade justifica sua posição citando que a academia científica ainda não corroborou totalmente os postulados da TDI e seu ensino.

“Somos acadêmicos e queremos disputar a posição de teoria científica sobre nossas origens não nas escolas, ou nos tribunais - com votos de juízes ou mesmo no Congresso Nacional - com voto de parlamentares, mas na academia, com a avaliação dos acadêmicos. Estamos certos que à medida que os conhecimentos sobre a TDI for expandido, ela sairá vencedora no meio acadêmico”, declarou Marcos Eberlin, presidente da Sociedade Brasileira do Design Inteligente. Eberlin também faz observações quanto ao ensino da Teoria da Evolução: “queremos que se ensine somente ciência em aulas de ciência, e que assim a TE seja ensinada hoje, mas como ela realmente é, com as suas graves deficiências e sem as fraudes e equívocos, além das provas contrárias apresentadas como fatos a favor da TE nas aulas e nos livros".

O 1° Congresso Brasileiro de Design Inteligente aconteceu nos dias 14, 15 e 16 de novembro no hotel The Royal Palm Plaza, em Campinas (São Paulo), e apresentou um ciclo de palestras com os mais diversos aspectos e dados científicos que provam que houve uma mente inteligente na criação e origem do Universo e da Vida.

A Teoria do Design Inteligente
A TDI estuda e analisa os dados científicos mais recentes sobre os eventos que deram origem ao Universo e aos seres vivos, que interpreta como apontando, como padrões de inteligência revelados através da complexidade irredutível, da informação e da antevidência, que produzem as evidências de uma inteligência organizadora. Em seu arcabouço teórico, a TDI reúne metodologia e conhecimentos interdisciplinares de estudos dos seres vivos em nível molecular, e através de inferências baseadas em fatos observáveis, propõe uma reinterpretação da origem da vida.

Leia a íntegra do manifesto da TDI-Brasil:

MANIFESTO PÚBLICO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DO DESIGN INTELIGENTE -TDI BRASIL- SOBRE O ENSINO DA TEORIA DA EVOLUÇÃO E DA TEORIA DO DESIGN INTELIGENTE NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS

A TDI-BRASIL declara, como sua política educacional, não ser favorável, na atual conjuntura acadêmica, ao ensino da Teoria do Design Inteligente (TDI) nas escolas e universidades brasileiras públicas e privadas, como também nas confessionais.
Nossa posição se fundamenta na opinião atual da Academia, que ainda não acata em sua maioria a TDI e o seu ensino, posição essa que nós da TDI BRASIL, como acadêmicos, devemos acatar.

Outro fundamento de nossa posição contrária ao ensino da TDI nas escolas é a não existência, no quadro educacional atual, de professores capacitados para corretamente ensinar os postulados da TDI.

Entendemos, porém, que os alunos têm o direito constitucional de ser informados que há uma disputa já instalada na academia entre a teoria da evolução (TE) e a TDI quanto à melhor inferência científica sobre nossas origens. Inclusive há outras correntes acadêmicas, além da TDI, que hoje questionam a validade da TE oferecendo uma terceira via.

Quanto ao ensino da TE, a TDI BRASIL defende que este ensino seja feito, porém, de uma forma honesta e imparcial, tanto nos livros didáticos quanto na exposição dos professores em salas de aula. Defendemos que sejam eliminados exemplos fraudulentos ou equivocados atualmente presentes em livros didáticos, e que sejam expostas as deficiências graves que a TE apresenta, e que se agravam a cada dia frente às descobertas científicas mais recentes - o que hoje não ocorre.

Quanto ao criacionismo, na sua versão religiosa e filosófica, por causa de seus pressupostos filosóficos e teológicos, entendemos que deva ser ensinado e discutido, junto com as evidências científicas que porventura o corroborem, em aulas de filosofia e teologia, dando a estas disciplinas o seu devido valor no debate sobre as nossas origens.

Informações: assessoria de comunicação da TDI-Brasil.

fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/defensores-do-design-inteligente-nao-apoiam-ensino-da-teoria-nas-escolas-1

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Formas de promoção humana: promover pelo ensino

O ensino procura ajudar o necessitado suprindo-lhe a carência, a falta, de conhecimento. Os que não tiveram ensino adequado não sabem usar os instrumentos a sua disposição e também não são capazes de acatar as normas da ordem social, para poder acompanhar a sociedade. Os acomodadores (aqueles que promovem a assistência pelo ensino) entendem que a fome, a doença que está sempre presente (por exemplo, asma, doença de chagas, parasitoses intestinais, malária, dengue, febre amarela, hepatites viróticas, AIDS, hanseníase, tuberculose, etc), a miséria e o abandono são resultados da ignorância e da apatia. E o ensino é o instrumento para reverter a situação.

Os atrasados são aqueles que nunca tiveram escola, aqueles que não terminaram os estudos, os menores explorados (sexualmente ou não), os subempregados, os bóias-frias, os marginais, os prostitutos e prostitutas, os trombadinhas, os índios.

O ensino ocorre das mais variadas formas: cursos profissionalizantes, ensino de atividades específicas (bordado, corte e costura, conceitos básicos de informática), mutirões para melhoria das casas e das condições de vida, alfabetização, educação de jovens adultos são alguns exemplos.

Os acomodadores apoiam, ao final, os valores da sociedade. Não é incomum que eles imaginam estar ofertando meios para que os necessitados façam uma reflexão crítica da sua situação, quando estes, na verdade, desejam apenas se apoderar da ferramenta (o conhecimento que está sendo ministrado) para melhorar as suas condições de vida. Ou seja, se acomodarem em um lugar previamente moldado para ele, que somente poderia ser ocupado se houvesse a educação para isto.

Habitualmente promover pelo ensino acontece através de uma instituição que determina quais são as necessidades dos necessitados, avalia os recursos humanos e financeiros que tem à disposição ("os acomodadores ensinam o caminho a ser percorrido para a conquista de um lugar na sociedade contando com os recursos da sociedade"), estuda as propostas de soluções e seleciona aquela(s) mais adequada(s) para a resposta ao(s) problema(s) encontrado(s). É a instituição que controla todas as etapas do processo, que incentiva, contribui e controla. O sucesso da promoção é percebido pela ascenção social do necessitado.

Promover pela educação dá ao necessitado um instrumento poderoso para se defender e melhorar de vida. Mas como o educador é que tem o controle do saber e do ensinar, este é que ensina como o necessitado deve entender a realidade e as razões pelas quais existem necessitados. A promoção pelo ensino supõe que a sociedade evoluiu de forma satisfatória, e que o que impede a participação de todos é apenas a ignorância. A única alternativa para "subir na vida" é se enquadrando na sociedade. Educa-se para "saber mais para ter mais".

Se a assistência para no ensino, ela tende a promover o individualismo competitivo, próprio da sociedade capitalista agressiva. É esta a visão da Igreja de Cristo?

"O compadecido é assistencialista, pois cria dependência, dando coisas aos necessitados. O acomodador é paternalista, pois dá condições para o necessitado obter as coisas, mas não permite que ele tome sua própria iniciativa."

Postado no Serviço Assistencial Dorcas

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Formas de promoção humana: promover pela assistência

Há diversas formas de promover o desenvolvimento, crescimento, amadurecimento e empoderamento dos seres humanos. Nestas próximas semanas vamos apresentar algumas delas, com suas virtudes e defeitos.

A forma mais antiga e com maior presença na tradição cristã é a promoção do necessitado através da assistência. Ou seja, há um necessitado e um compadecido.

O primeiro é o indigente, o abandonado, o desprezado, o desempregado, o doente, o faminto.

O compadecido entende que promover o necessitado é providenciar recursos financeiros, materiais, sociais e culturais: saúde, abrigo, socorro, alimento, vestuário, habitação, infraestrutura, serviços, consolo. No meio evangélico, o texto do grande julgamento (Mt 25) é um fortalecedor desta visão de promoção humana.

A atuação assistencialista habitualmente ocorre através de uma instituição que trabalha a partir de objetivos explícitos ou implícitos que norteiam a captação e o uso dos recursos. Objetivos e recursos são tão interligados que um influencia o outro. A instituição é a controladora dos recursos, determinando onde e como serão empregados. A instituição também é que escolhe os valores que nortearão a percepção da necessidade.

"Os compadecidos socorrem os necessitados por sentimentos de caridade, de humanismo, de obrigação religiosa, de mitigar sua omissão diante das disparidades sociais etc. Eles dão testemunho de sua fé pelo amor ao próximo, simbolizado pela mão estendida em ajuda ao necessitado...A prática da promoção humana assistencialista reforça os laços que unem a humanidade e ressalta o dever cristão de ser um bom samaritano."

O relacionamento entre o necessitado e o compadecido é unidirecional; o necessitado recebe em função do ter. Aquele que tem, ou controla os meios de ter, dá aquilo que lhe sobra.

Ao lado das virtudes (universalidade de cuidado, real auxílio em situações limites, redução da fome, da miséria, do índice de violência e suicídio, por exemplo) há vícios que não podem ser ignorados.

As estruturas que geram solidão, doença, fome, desemprego, abandono não são enfrentadas. Racionalmente apela-se a Jo 12.8 ("os pobres sempre tereis convosco") para justificar o não enfrentamento destas estruturas.

O compadecido não corre riscos, pode aliviar o sofrimento alheio sossegadamente, e sem aprofundar o diálogo. E ele não é o necessitado, não vivenciou sua história - por mais que ame o necessitado, o compadecido não é um deles, é um estranho!

Racionalmente o compadecido organiza seu pensamento dentro da "certeza" de que a sociedade está no caminho certo, que o desenvolvimento social e econômico reverterá, a longo prazo, as situações que dão à luz o necessitado. É estranho ao evangélico este pensamento, que não se harmoniza com a visão pessimista que as Escrituras têm da sociedade humana corrompida e pecadora...
O poema de Carlos Drummond de Andrade faz pensar:
"A suntuosa Brasília, a esquálida Ceilândia contemplam-se. Qual delas falará primeiro? Que tem a dizer ou a esconder uma em face da outra? Que mágoas, que ressentimentos prestes a saltar da goela coletiva e não se exprimem? Por que Ceilândia fere o majestoso orgulho da flórea capital? Por que Brasília resplandece ante a pobreza exposta dos barracos de Ceilândia, em silêncio, as gêmeas criações do bom brasileiro?"
do livro "Promoção humana - princípios e práticas numa perspectiva cristã", de Frances O'Gorman, Edições Paulinas.


publicado originalmente em Serviço Assistencial Dorcas

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A invenção do ’voto evangélico’

Sandro Amadeu Cerveira *

A presença de dois candidatos à Presidência da República, Marina Silva e Pastor Everaldo, em torno dos quais gravitam figuras polêmicas como Silas Malafaia colocou em pauta novamente o chamado “voto evangélico”. Essa expressão parece ser capaz de ativar uma série de imagens, sentimentos, conceitos e preconceitos, muitos deles contraditórios. Se para alguns o termo “evangélico” já é incômodo, o “voto evangélico” então pode causar arrepios, náuseas, urticárias e outras reações. Mas, afinal de contas, existe mesmo um “voto evangélico”? Esse “voto” possui as características que lhe atribuem? Em meio a tantas falas e estudos qualificados há algo ainda a ser dito?

A abordagem talvez mais comum sequer questiona a existência de um voto evangélico. Ele é dado. Existem evangélicos, eles votam em outros evangélicos (ou em quem seus pastores mandarem) e os eleitos agem sempre de forma coerente com o “ser evangélico”.  A chamada  “bancada evangélica” é a prova irrefutável deste “fato”.  Há ainda outra certeza. O não avanço das pautas relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos, assim como de outros direitos humanos, é culpa dos eleitores evangélicos.  São eles em sua sanha moralista e teocrática que ameaçam a democracia com o retorno ao obscurantismo.
De outro lado há quem afirme que os “evangélicos” sequer existem.  O argumento neste caso é de que a pluralidade dos chamados evangélicos é tão grande que é virtualmente impossível falar em “evangélicos”.  Afinal que afinidade existe entre um presbiteriano e um assembleiano? Entre um membro crismado da Igreja Evangélica Cristã Luterana no Brasil (IECLB) e um frequentador da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd)? Se não existem os “evangélicos”, podemos supor que tampouco exista o  “voto evangélico”. As pesquisas que apontam para a correlação entre autoidentificação religiosa e a preferência por um ou outro candidato (ou mesmo a afinidade com pautas conservadoras) seriam correlações espúrias. Mera coincidência ou acaso.
O bom senso nos recomenda desconfiar desses polos (caricatos) que apresentei. Tratar o “voto evangélico” ou mesmo os “evangélicos” como um bloco efetivamente desconsidera a grande pluralidade que existe entre os que assim se definem. Essa abordagem também parece ignorar que a religião é somente uma das dimensões da vida de uma pessoa, entre tantas outras. Pesquisas indicam que o fato de o “evangélico” ser homem ou mulher, rico ou pobre, nordestino ou gaúcho, analfabeto ou pós-graduado pode fazer muita diferença em uma série de questões.

Apenas para ilustrar, observemos os dados pesquisa Datafolha publicada em 29 de agosto. Segundo esse levantamento, 38% dos eleitores que se dizem católicos votariam em Dilma, enquanto “apenas” 30% dos evangélicos votam na candidata petista. Quando se trata de Marina os números se invertem: 41% dos evangélicos pentecostais votam em Marina e somente 30% dos católicos na candidata do PSB. Conclusão? Há um “voto evangélico” em Marina. Mesmo? Que “voto evangélico” é este se quase 60% dos evangélicos NÃO votam em Marina?

Por outro lado, afirmar que os evangélicos simplesmente “não existem”, em virtude das grandes diferenças internas às denominações de matriz protestante é também um equívoco. A heterogeneidade dos grupos e fenômenos sociais não nos exime do esforço de conceituação e generalização. Estas estratégias/ferramentas são importantes no desafio de pensar o mundo multifacetado e multicondicionado que nos cerca. O conhecido sociólogo Max Weber já alertava que um “tipo ideal” não existe no “mundo real”, mas eles podem ser úteis para operar e pensar a realidade. Para além da questão metodológica, a Frente Parlamentar Evangélica existe e, a menos que analistas e políticos estejam redondamente enganados, sua existência se deve (ainda que parcialmente) à concentração de votos de evangélicos em candidatos que assim também se apresentam.

Agradecido pela paciência do leitor até aqui, chego a minha tentativa de dizer algo sobre o assunto. O que chamamos de “voto evangélico” existe sim, mas ele é uma “invenção”. Como dito antes, ser evangélico (católico, espírita sem religião etc.) não é a única dimensão da identidade de uma pessoa que pode ser mobilizada politicamente. Quem trabalha ou estuda marketing político sabe que boa parte do esforço dos partidos e candidatos se concentra precisamente em tentar ativar, entre as muitas dimensões importantes em nossas vidas, aquela que lhes é mais favorável. Criar uma “conexão eleitoral” para criar uma base eleitoral. Embora os eleitores não sejam passivos nesse processo, o protagonismo é, via de regra, dos candidatos.

Até as eleições para o último Congresso Constituinte a presença de evangélicos na política pouco ou nada tinha a ver com um “voto evangélico”. O discurso predominante era de que “crente não se mete em política”. Os eventuais sucessos de candidatos evangélicos nas urnas raramente contou com a bênção de suas igrejas. Em 1986, algo mudou. O número de deputados evangélicos saltou de 12 para 32, sendo que a maioria (18) agora eram oriundos de igrejas pentecostais. A estratégia de lançar “candidaturas oficiais”, legitimadas pela pregação de que “Irmão vota em Irmão” foi parte da estratégia de algumas igrejas no sentido de criar, ou para usar meu termo provocativo, “inventar” os eleitores para esses candidatos. Os estudiosos das estratégias usadas pelos parlamentares na busca pela reeleição apontam que a “sinalização” de temas ou ideias é uma das principais estratégias usadas por políticos cuja votação não está geograficamente concentrada. São necessários estudos mais detalhados sobre o sucesso dos  políticos evangélicos em suas tentativas de reeleição, mas, ao que parece, aqueles que têm conseguido o aporte de recursos (simbólicos e materiais) das igrejas em suas campanhas e obtido maior visibilidade durante seus mandatos em temas importantes para os que se identificam como evangélicos vêm sendo os mais bem-sucedidos.

Um das estratégias utilizadas na construção de uma base eleitoral (não apenas dos evangélicos) é justamente a simplificação e a redução de temas complexos a frases de efeito e jargões carregados emocionalmente, não raro marcados pela chave “amigo-inimigo”. Um candidato evangélico típico bem-sucedido será então aquele que convencer um número suficiente de evangélicos de que devem votar nele por representar não tanto os interesses, mas seus valores e crenças na arena política. Como as crenças e valores adotados pelos “evangélicos” variam muito, é preciso recorrer a termos genéricos, carregados emocionalmente e familiares ao contexto linguístico do grupo fortalecendo a sensação de pertencimento. Termos como “governo dos justos”, “ditadura gay”, “abortistas” ativam esperanças, medos e ódios bastante poderosos que podem virar votos.
É claro que as estratégias das igrejas e dos políticos para criar o “voto evangélico” não seriam eficazes se todo seu discurso não fizesse sentido para pelo menos parte dos fiéis eleitores. De qualquer forma, se votar como evangélico não é algo dado ou “natural”, precisamos nos debruçar sobre seus efeitos, e não apenas sobre o sistema político. Questões como distorções na representação ou mesmo a defesa de pautas contrárias a direitos de minorias são os exemplos mais conhecidos. Por outro lado, o próprio campo evangélico pode estar sendo “colonizado” pela lógica e pelos interesses dos políticos evangélicos em detrimento de sua dimensão propriamente religiosa.

* Teólogo, historiador e doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o autor é professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais.

fonte original:  http://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/forum/a-invencao-do-%E2%80%99voto-evangelico%E2%80%99/

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Silas Malafaia, Israel e o direito de matar



Por Hermes C. Fernandes

Acabei de assistir ao pronunciamento do pastor Silas Malafaia acerca do conflito "Israel e Palestinos" e coincidentemente tratei do mesmo assunto no culto de ontem em nossa igreja. Apesar do meu amigo Danilo Fernandes, editor do Genizah, concordar 100% com o líder da AVEC, gostaria de apresentar as razões que me fazem discordar de seu posicionamento.
Silas faz coro com boa parte dos líderes evangélicos brasileiros, que por sua vez, estão afinados com o diapazão ideológico americano. 
A primeira coisa que me chamou a atenção na defesa que Silas faz dos ataques de Israel à faixa de Gaza foi dizer que, numa guerra, nenhuma reação é proporcional à ação. Portanto, Israel teria razão em lançar mísseis em escolas palestinas matando crianças inocentes para vingar a morte de três adolescentes judeus mortos por militantes do Hamas. Ora, se Israel se mantivesse fiel aos princípios esboçados na Lei do Senhor, saberia que um dos seus mandamentos diz respeito à proporcionalidade de nossas reações (olho por olho, dente por dente). E mais: um discípulo de Jesus jamais defenderia qualquer reação, uma vez que seu Mestre ensinou a amar a seus inimigos e oferecer-lhes a outra face. Partindo do argumento usado por Silas, o ataque dos EUA a Nagazaki e Hiroshima em reação ao ataque japonês a Pearl Harbor foi totalmente justificável. Enquanto 2403 pessoas morreram na base americana de Pearl Harbor, 220 mil pessoas morreram nas duas cidades japonesas (quase cem vezes mais!). Quantas crianças palestinas terão que morrer para vingar a morte dos três adolescentes judeus?
Porém, o que mais me incomodou em seu discurso pró-Israel foi a interpretação teológica dada ao fato e à posição supostamente privilegiada de Israel. 
De fato, Deus fez uma promessa a Abraão de que toda aquela terra seria dada à sua descendência (Gn.13:14-15). Esta mesma promessa foi confirmada a Isaque e a Jacó (Gn.26:2-24; 28:12-14). Todavia, Deus estabeleceu condições para que seus descendentes tivessem o direito de posse da terra. Se não as cumprissem, a terra os vomitaria e eles seriam espalhados entre as nações (Lv.20:22; 26:14-15, 27-28, 32-33). Portanto, a Diáspora Judaica nada mais é do que o cumprimento das sanções impostas por Deus a Israel, se seu povo não guardasse os seus mandamentos. Ainda mais grave do que rejeitar a Lei do seu Deus, os judeus também rejeitaram o Messias prometido. Portanto, a aliança entre Deus e eles foi quebrada. 
Entretanto, há promessas bíblicas de que Israel retornaria à sua terra. E com base nessas promessas, surgiu o movimento sionista. Sionismo é um movimento político e filosófico que defende a existência de um Estado nacional judaico independente e soberano no território onde historicamente existiu o antigo Reino de Israel. O sionismo é também chamado de nacionalismo judaico e historicamente propõe a erradicação da Diáspora Judaica, com o retorno da totalidade dos judeus ao atual Estado de Israel.  O termo "sionismo" é derivado da palavra  “Sião”, nome de uma das colinas que cercam a chamada Terra Santa. Durante o reinado de Davi, Sião se tornou sinônimo de Jerusalém. Em inúmeras passagens bíblicas, os israelitas são chamados de "filhos (ou filhas) de Sião".
O que este movimento parece ignorar é que para que Israel retornasse à sua terra, algumas condições precisariam ser preenchidas. Dentre elas, a mais importante é a conversão dos judeus.
“Porque, em vos convertendo ao Senhor, vossos irmãos e vossos filhos acharão misericórdia perante os que os levaram cativos, e tornarão a esta terra; porque o Senhor vosso Deus é misericordioso e compassivo, e não desviará de vós o seu rosto, se vos converterdes a ele.” 2 Crônicas 30:9
Portanto, o atual Estado de Israel, fruto de um arranjamento político da ONU, nada tem a ver com o cumprimento da promessa de Deus de que seu povo retornaria à sua terra. E a prova disso é que não houve conversão. E converter-se a Deus é acolher a única oferta de salvação possível: JESUS CRISTO. Por isso os apóstolos eram tão enfáticos ao testificar que "tanto a judeus como a gregos devem converter-se a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus" (At.20:21). À parte de Cristo, todo judeu está tão perdido quanto qualquer gentio. 
Paulo diz que eles eram os ramos naturais da oliveira (Abraão), mas devido à sua incredulidade e desobediência, foram quebrados e em seu lugar, nós, os que cremos dentre os gentios, fomos enxertados. Até que se convertam ao evangelho, eles são judeus apenas na carne, mas não na fé que teve seu patriarca. A igreja é, por assim dizer, a continuação do verdadeiro Israel. A árvore é a mesma, os ramos que foram substituídos. 
Ademais, a promessa de que os judeus retornariam à sua terra foi cumprida quando deixaram o cativeiro babilônico e voltaram para Jerusalém nos dias de Esdras e Neemias. Porém, por terem se mantido rebeldes, foram mais uma vez espalhados pelo mundo quando Jerusalém foi destruída pelo exército romano no ano 70 d.C. sob o comando de Tito.
A aliança feita com Abraão não caducou, mas foi devidamente cumprida em Jesus, seu Descendente (Gl.3:16). E os que são de Cristo são os verdadeiros descendentes de Abraão (Gl.3:29). De acordo com o próprio Jesus, o reino foi tirado dos judeus e entregue a outro povo, a saber, a Sua igreja, reunião de judeus e gentios que creem em Seu nome (Mt.21:43). 
E mesmo que Israel continuasse a ser o povo da aliança, conforme cre Silas, isso não lhe daria o direito de agir da maneira como tem agido, tirando a vida de milhares de civis inocentes. Deus não lhes deu o direito de matar. Nem a eles, nem ao Hamas, nem aos palestinos, nem aos EUA, nem a quem quer que seja. 
Ainda segundo o pastor Silas, quem se levanta contra a política Israelense corre o risco de ser amaldiçoado por Deus. Ora, ora... A bênção de Abraão a que ele se refere (abençoarei aos que te abençoarem e amaldiçoarei aos que te amaldiçoarem) está sobre seus verdadeiros descendentes, aqueles que seguem suas pegadas de fé, recebendo a oferta de salvação feita em Cristo Jesus. E por favor, não confundam isso com antissemitismo. Faço coro com Paulo que diz que seu desejo era que seus compatriotas fossem salvos. Amo os judeus. Como também amo os palestinos. Oro por Jerusalém. Como também oro por Gaza. E não é porque desejo prosperar, mas pelo simples fato de amar ao que Ele igualmente ama. Porém, este amor não me faz cego ante as arbitrariedades cometidas pelo Estado Israelense. 
Se Israel tem o direito de existir como Estado, os palestinos também tem o mesmo direito. Só haverá paz consistente e verdadeira quando houver justiça. E só haverá justiça quando houver amor. O salmista diz poética e profeticamente que a misericórdia e a verdade devem se encontrar e a justiça e a paz devem se beijar (Sl.85:10). Sem que isso aconteça, o máximo que teremos são tréguas momentaneas, seguidas de conflitos ainda mais severos. 
A questão é: quem será o cupido que promoverá este encontro? Em que cenário se dará o tal beijo? Será no jardim da Casa Branca? Ou quem sabe no pátio do Templo de Salomão... Não! A paz deve ser selada na ambiência do coração. E o cupido que deve promover o encontro não é algum presidente americano, mas ninguém menos que a igreja de Cristo. 
A igreja deve agir como agência reconciliadora entre os povos, e para tal, não pode posicionar-se ao lado de uns contra outros, como fez o meu colega Silas. Deus nos confiou o ministério da reconciliação (2 Co.5:18-19; Ef.2:14-16). Em vez de alimentar discórdias, devemos nos posicionar pela justiça, pela verdade e pela paz. 
Não ouso questionar a sinceridade de Silas, pois reconheço que seu discurso é eco do que tem sido ensinado à igreja desde o surgimento da teologia dispensacionalista. Porém, recuso-me a ficar calado, consentindo com os equívocos desta teologia. 
Que assim como Jesus, que caminhou por Jerusalém durante os dias em que Israel estava sob a tirania romana, preguemos o dever de se oferecer a outra face em vez de o direito de revidar ao ataque dos inimigos.

fonte original: http://www.hermesfernandes.com/2014/08/silas-malafaia-israel-e-o-direito-de.html

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Um Nobel da Paz que serviu a Deus

Albert Schweitzer foi um dos mais consumados polímatas de sua geração. Nascido em 1875, na Alsácia-Lorena, obteve doutorados em filosofia, teologia e música, escreveu uma importante biografia de Johann Sebastian Bach e um livro revolucionário sobre a vida de Jesus, e também conseguiu ser um dos mais exímios organistas da Europa.


Schweitzer realizou a maior parte dessas coisas na casa dos vinte anos. Aos trinta, porém, optou por uma grande mudança de rumo, abdicando da música e de uma brilhante carreira acadêmica para fazer um novo curso, dessa vez de medicina. Em 1913 ele partiu para a África Equatorial francesa, onde fundou um hospital para leprosos, e em 1952 recebeu o prêmio Nobel da Paz por décadas de trabalho médico pioneiro na selva africana. Schweitzer foi motivado pelo desejo de prestar serviço e contribuir para o que chamou de “a grande tarefa humanitária” de levar o conhecimento médico às colônias. Ele se sentia no dever, na obrigação, de trabalhar em benefício dos outros, “mesmo que seja uma coisa pequena”, disse, “faça algo por aqueles que precisam de ajuda humana, algo pelo que você não obtenha nenhuma paga a não ser o privilégio de fazê-lo.”1

O caminho clássico para uma carreira dedicada a um propósito é trabalhar por uma causa que encarne nossos valores, algo que transcenda nossos próprios desejos e faça uma diferença para outras pessoas ou o mundo à nossa volta. O serviço, um dos motivadores mais poderosos na história do Ocidente, está enraizado na ideia medieval cristã de servir a Deus mediante boas obras. Os primeiros hospitais da Europa, que começaram a aparecer em cidades como Paris, Florença e Londres, no século XII, eram fundações religiosas criadas para servir tanto aos indigentes e doentes quanto a Deus – atitude que se reflete no antigo termo francês para hospital, hôtel-Dieu, “albergue de Deus”. Por volta do mesmo período, ordens cristãs fundadas pelos cruzados, como os cavaleiros de São João de Jerusalém e os cavaleiros templários – mais conhecidas por sua matança de incréus -, também construíram hospitais por todos os países mediterrâneos e de língua alemã como forma de serviço sagrado.2

Albert Schweitzer foi impulsionado por essa ética cristã de serviço, tal como os fundadores da moderna profissão da enfermagem no século XIX, como Florence Nightingale e Clara Barton. No século XX, o ideal de prestar serviço espalhou-se além das fronteiras religiosas, de modo que aqueles que trabalham hoje no serviço público – seja como trabalhadores sociais na linha de frente, seja como estatísticos nas secretarias de educação – muitas vezes o fazem não apenas porque talvez lhes seja oferecida uma renda estável ou perspectivas de promoção, mas por sentirem que seu trabalho contribui para o bem público.

Roman Krznaric: Sobre a Arte de Viver – lições da história para uma vida melhor (Zahar)

Notas:
1. Schweitzer, 1949, p. 3.
2. Porter, 1997, p. 113.
Foto: Special Collections Research Center, Syracuse University Librar

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Carta de um homossexual ao seu pastor


Eduardo Ribeiro Mundim

(esta carta, como a anterior, é fictícia)

Amado Irmão Nicodemus.

Obrigado pela sua correspondência. Antes de tudo, ela é demonstração do seu interesse genuíno por mim. E como tenho sentido falta de amizades verdadeiras e puro amor cristão!

Lembro-me como se fosse hoje o dia da minha conversão. Colocar em palavras a multidão de sentimentos é impossível: ordená-los em ordem de importância seria colocar um como superior ao outro, e não foi assim a experiência. Afirmo, sem medo de errar, que minha vida transformou-se por completo. Nunca pensei que conseguiria ter bons pensamentos e desejar o bem para tantas pessoas que me prejudicaram no passado! Mas num piscar de olhos todo ressentimento, todo ódio, foi lavado como que por uma forte enxurrada. Nunca pensei que passaria a me preocupar com o bem-estar do meu próximo; que sua alegria seria a minha alegria! Nunca pensei que ser ético nas relações sociais e comerciais fosse tão espontâneo! Nem tenho que fazer força para fazer o certo e recusar o errado!

Mas mais importante foi a descoberta de que meus pecados estão perdoados; de que Cristo os cravou na cruz, tornando-me legalmente justo (ainda que permanentemente pecador). Sim, que coisa maravilhosa é a convicção de que nossos pecados estão perdoados. Que certeza gloriosa é o testemunho do Espírito com o meu de que sou Seu filho. Graças a Deus!

Houve algum erro quando minhas angústias atuais chegaram aos seus ouvidos. Não tenho desejo por outros homens! Esta fase da minha vida, de promiscuidade, saunas gays, programas, está, graças ao nosso Pai, enterrada. Dela fui liberto pelo Seu precioso sangue!

A terrível angústia que me assombra é a percepção de que, apesar de todo amor da minha esposa, e dos frutos de nossa união, o interesse sexual mingou. Não foi por uma briga, uma desavença. Gradativamente fui percebendo que (nossa, esta percepção está me matando) eu mentia para ela quando dizia que a desejava. E a maior prova disto é a disfunção erétil que se torna cada vez mais frequente. De comum acordo tenho usado a “pílula azul” (na minha idade!). E cada vez que conseguimos ter uma relação sinto que a traio, ou que voltei à época dos programas sexuais. Isto eu não tive coragem de compartilhar com ela – ela não merece!!! Mas o que lhe escrevo, contando com seu eterno segredo, é a pura verdade.

Revi minha história tentando encontrar respostas. Sabe por que mudamos de igreja? Porque naquela onde minha conversão foi publicamente manifestada o pastor me usou para alavancar seu ministério e ganhar alguns pontos na hierarquia da denominação. Quantas vezes ele me chamou para dar meu testemunho! Confesso, envergonhado, de ter pedido perdão a Jesus por tê-lo feito algumas vezes de modo mecânico.

Quando conheci minha esposa, e começamos a namorar, fui sutilmente (às vezes acho que nem foi tão sutil assim) pressionado a demonstrar minha completa mudança de vida deixando a homossexualidade de lado. Não bastava deixar a promiscuidade, a imoralidade, a prostituição – a homossexualidade tinha que acabar. Se assim não fosse, minha conversão não seria genuína!

Novo na fé, consegui escapar do falso pastor e da sua comunidade doente, mas a mensagem permaneceu como marca feita com ferro em brasa.

Quando chegamos na nossa igreja, fomos muito bem recebidos, graças a Deus. Pouquíssimas pessoas sabem do meu passado, e todas são discretíssimas. Meu pastor nunca me usou, nem chamou-me para dar testemunho. Discipulou-me em amor, tornando-me, ao final, como você sabe, professor da escola dominical. Casamos e tivemos filhos.

A companhia da minha esposa é especial, e adoro estar ao seu lado. Compartilhamos sonhos, nos apoiamos nas nossas desilusões, fortalecemos nossos filhos. Mas – e tenho tomado consciência disto de modo gradual e com grande dor – como amigos, não como marido e mulher.

Verdadeiramente sonho com um companheiro que tenha as características dela. Não o encontrei, nem o procurei. Mas é a mais pura verdade que este é o desejo do fundo do meu coração.

Sei que temos que cultivar os frutos do Espírito, e que não devemos satisfazer os desejos imundos da carne. Sei que é com esforço que vamos sendo santificados, onde a minha decisão de resistir à tentação (e foi boa sua explicação do tema, pois é da forma que ensinou a diferença entre tentação e pecado que tenho direcionado também minha vida espiritual) faz parte do processo de crescimento em graça. Sei que a eleição é irrevogável, e que a graça é irresistível – afinal, foi isto que experimentei em minha vida.

O ensino de Paulo aos romanos sobre Deus ter entregue aqueles que não O reconhecem como Deus e Senhor a paixões infames, cometendo “torpezas uns com os outros” me pesa no coração. É a única passagem das Escrituras que levanta alguma dúvida sobre a certeza que tem crescido dentro de mim: sou homossexual não por escolha, mas o sou. Talvez por contingências da vida (os cientistas não chegam a uma conclusão e as exposições e teorias deles são tão desprovidas de evidências decentes que dá dó).

Divaguei um tempo sobre os frutos do Espírito e da carne. Aí vi o presbítero X (vamos deixar os nomes de lado), com seus 120 kg distribuídos nos seus 160 cm de altura. Não é a glutonaria um pecado? Não é a obesidade resultante do comer em excesso, desnecessariamente? Não está o seu pecado, então, evidente aos olhos de todos?

A Sra. Y está em tratamento para cleptomania, sabia? Novamente, conto com seu silêncio pastoral, pois disto fiquei sabendo por acaso e não desejo causar-lhe mal algum. Mas cito este segredo porque roubo contumaz é pecado. E as Escrituras não dizem que glutonaria ou roubo ou imoralidade sexual ou o que for não são pecados se forem consideradas doenças!

Neste ponto, até que gostaria que a ciência considerasse a homossexualidade uma doença. Alguns conflitos meus seriam resolvidos.

Mas como é natural para o Sr. X comer, é natural para mim desejar um companheiro, para formarmos um casal monogâmico e fiel.

Neste momento, estou entre a cruz e a espada, entre a panela e o fogo. Não sou honesto perante meu Senhor e Salvador Jesus se lhe escondo tudo isto; estou sem coragem de terminar meu casamento – é a atitude correta, pois estou permanentemente cometendo o pecado da mentira com minha esposa.

Repito, para não deixar dúvida no seu espírito: não estou apaixonado por ninguém. Se estivesse, encontraria forças extras.

Hoje vejo que a atitude correta seria deixá-la discretamente, afastar-me da escola dominical e procurar uma comunidade de cristãos onde ser homossexual não fosse motivo de orgulho, como não é o ser heterossexual; onde o centro da pregação seja a cruz e a ressurreição, e não a situação sexual; onde todos possam dizer “Senhor Jesus me chego a ti. Tua ira santa mereci. Oh, dá-me alívio mesmo aqui. Aceita um pecador. Eu venho como estou” (nunca esqueci este hino, cantado no dia da minha conversão); onde possa ter uma união abençoada se o Pai o permitir, ou viver celibatariamente em paz, sem pressão.

Sinto que esta conversa, com qualquer outra pessoa, causaria repulsa e escândalo. Mas conto com sua amizade e vocação pastoral para não me deixar só, falando e meditando, e sofrendo, sozinho. Um ou outro irmão já o fizeram quando a conversa não era pessoal, mas um “caso hipotético”, uma discussão sobre o homossexual na igreja.

Em Cristo, grato pela sua amizade

Sandro

Carta a um ex-gay tentado a voltar atrás

(A carta é fictícia, bem como as personagens aqui mencionadas)

Meu caro Sandro,

Espero que esta o encontre bem, com muita saúde e alegria em todas as coisas.

Soube pelo seu pastor que você está pensando em desistir da fé e sair da igreja porque, passados já cinco anos que você recebeu Jesus como seu Senhor e Salvador, você continua a sentir desejos homossexuais e atração por homens. Ele me disse também que sua esposa, a Rita, tem sofrido muito com tudo isto, muito embora você tenha sido bastante honesto com ela e não tenha, em nenhum momento, sido infiel no casamento.

Seu pastor, que foi meu aluno no seminário teológico, me pediu para escrever para você, especialmente pelo fato de que fui eu quem lhe ajudou nos primeiros dias depois da sua experiência de conversão. Espero que esta carta seja usada por Deus para ajudar você neste momento difícil.

Sei que você ficou ainda mais confuso por causa do alarde da imprensa sobre um projeto que os ativistas gays apelidaram de “cura gay”. A verdade dos fatos é que esta designação irônica é a reação deles ao Projeto de Decreto Legislativo 234/11 do deputado João Campos, do PSDB, que suspende dois itens da resolução do Conselho Federal de Psicologia que proibiam psicólogos de atender pacientes que buscassem ajuda para se libertar dos impulsos e desejos homossexuais. O projeto 234 foi aprovado recentemente na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados. Os ativistas gays apelidaram o projeto 234 de "cura gay", uma designação irônica e maliciosa, pois o projeto não é sobre isto. Ele apenas restabelece o direito dos pacientes de pedirem ajuda e dos psicólogos de ajudarem e não usa o termo "cura". Se você quiser mais detalhes sobre os fatos, recomendo o artigo de Reinaldo Azevedo sobre o assunto.

Mas minha carta não é sobre os fatos acima mencionados, mas sobre a crise que você está passando com estes desejos homossexuais, mesmo sendo um crente em Jesus Cristo. Você se lembra que eu lhe alertei para o fato de que crer em Jesus como Senhor e Salvador não significaria a imediata libertação de todas as consequências espirituais, psicológicas e mentais dos anos em que você viveu como homossexual praticante. O pecado deixa profundas cicatrizes em nossas vidas, marca a ferro e fogo nossa consciência com imagens, impressões, experiências, gostos e desejos, que levam muitos anos para serem vencidos.

Seu pastor me falou que você vinha lendo material de determinados autores que afirmam que homossexuais, uma vez convertidos, se tornam completamente libertados não somente da prática de relações com pessoas do mesmo sexo como também da atração por pessoas do mesmo sexo. Sandro, não duvido que em alguns casos isto possa acontecer. Sei que há casos concretos de pessoas que viviam na homossexualidade e que, depois da conversão a Jesus Cristo, libertaram-se inclusive da atração por pessoas do mesmo sexo. Todavia, isto nem sempre é o que acontece, como, infelizmente, é o seu caso. Você precisa entender, contudo, que a continuidade de desejos homossexuais depois de uma legítima conversão não significa necessariamente uma derrota e nem que Deus falhou com você.

Acho que você está esquecendo um ponto básico da doutrina cristã, que é a diferença entre pecado e tentação. A atração por pessoas do mesmo sexo é diferente da prática de relações sexuais entre elas. A primeira é uma tentação, a segunda é pecado. Tentação e pecado são duas coisas diferentes. Sandro, eu tenho um coração corrompido pelo pecado, a minha natureza é pecaminosa a despeito da minha justificação pela fé em Cristo e da presença do Espírito de Deus em mim. Diariamente, do meu coração corrompido procedem desejos, intenções, reações e pensamentos carnais e pecaminosos. Associado a isto, há as tentações externas trazidas pelo mundo, pelas pessoas e por Satanás.

Diariamente homens cristãos casados se sentem tentados a olhar uma segunda vez para mulheres que não são sua esposa e se sentem tentados a imaginar e desejar ter relações com elas. Todavia, ser tentado a fazer isto não é a mesma coisa que fantasiar estas relações ou tê-las na prática. Diariamente cristãos verdadeiros reprimem estes desejos, dizem não a estes pensamentos e evitam a segunda olhada. Pensam na esposa, nos filhos e particularmente em Deus, que odeia e abomina o adultério, e no Senhor Jesus que morreu exatamente por causa destes pecados. Cada dia em que resistem a estes impulsos e vontades é um dia de vitória e de libertação.

Caro Sandro, creio que o mesmo pode se aplicar a outras vontades pecaminosas, como desejos homossexuais, desejos de machucar outras pessoas, a cobiça por coisas... a lista é grande. A conversão a Cristo não significa a expulsão do pecado aqui e agora do nosso coração. É isto que você precisa entender.

Mas agora me deixe voltar a um daqueles estudos bíblicos que lhe passei no início do discipulado e que, pelo jeito, você esqueceu. Lembre que o processo estabelecido por Deus para libertar pessoas do pecado é realizado por ele em três etapas que acontecem em sequência e nesta ordem. Na primeira, Deus nos liberta da culpa do pecado - justificação. Na segunda, do poder do pecado - santificação; e na terceira, da presença do pecado em nós - glorificação. Lembra do quadro que desenhei para você naquele domingo?

Libertação da:Designação Quando: Como:
Culpa do pecadoJustificaçãoPassadoAto único realizado uma única vez
Poder do pecadoSantificaçãoPresente Processo incompleto e imperfeito
Presença do pecadoGlorificaçãoFuturoAto único realizado de uma vez para sempre

Só recordando: a primeira etapa, a libertação da culpa do pecado, é a justificação, que é um ato de Deus, único e pontual, no qual ele nos considera justos diante dele mesmo, com base nos méritos de Cristo. Corresponde, na nossa experiência, à conversão, arrependimento e fé. É um ato legal de Deus feito de uma vez para sempre e é a base das etapas seguintes. Foi o que aconteceu com você naquele dia que você, arrependido e quebrantado por seus pecados, voltou-se para Cristo em fé suplicando o seu perdão.

A etapa seguinte é libertação do poder do pecado. Trata-se da santificação, que é um processo que se inicia imediatamente depois da justificação e que dura nossa vida toda. Ele consiste, não na erradicação do pecado e de nossa natureza decaída, mas em mortificar esta natureza, dominá-la, subjugá-la e mantê-la sob controle. Essa é a etapa do processo de salvação que você está vivendo agora. Lembra da ênfase que dei à necessidade de usar os meios de graça como oração, meditação e comunhão com outros irmãos em Cristo? Lembra que oramos para que o Espírito de Deus produzisse diariamente em você o fruto do domínio próprio? Sandro, neste processo há uma luta constante, ferrenha e interminável que você tem que travar contra o pecado que habita em você, contra as tentações de Satanás e do mundo. Todavia, esta luta em si não é pecado. Ser tentado não é pecado. Sentir desejos pecaminosos, vontade de fazer o mal, disposição para o que é errado, estas coisas vão nos acompanhar todos os dias de nossa vida e não são pecado – a não ser que cedamos a elas. A vitória consiste em dizer "não" a todas elas, diariamente, todos os dias de nossa vida, pelo poder do Espírito.

A terceira etapa que lhe falei é a glorificação, quando ocorrerá a libertação da presença do pecado em nós. Ela ocorrerá quando morrermos ou se estivermos vivos quando da vinda do Senhor Jesus. Haverá a ressurreição dos mortos e a transformação dos crentes que estiverem vivos. Todos os filhos de Deus serão transformados para serem como o Senhor Jesus, num corpo glorificado e sem pecado, glorioso, imortal e incorruptível, com o qual os filhos de Deus viverão eternamente no novo céu e na nova terra onde habita a justiça. Só então, Sandro, você e eu seremos finalmente livres dos desejos carnais que habitam em nosso coração.

Deus não prometeu que você ficaria livre de toda tentação e de todos os desejos a partir do momento que você cresse em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Você foi perdoado e justificado de seus pecados – inclusive do pecado do homossexualismo. Mas isto representou apenas o início do seu processo de libertação do poder do pecado que habita em você, processo este que é incompleto e imperfeito nesta vida, embora bastante real. Você precisa aprender a lutar e a dominar todos os seus desejos pecaminosos, inclusive o desejo de ter relações com pessoas do mesmo sexo, da mesma forma que os crentes heterossexuais lutam e dominam seus desejos de prostituição, fornicação, adultério, impureza e pornografia.

No seu caso, após a conversão você recobrou a atração pelo sexo oposto, casou com a Rita e tiveram dois filhos. Mas isto nunca significou que você ficaria livre da tentação pelo mesmo sexo, como você está sendo tentado agora. Outros, não conseguiram casar e optaram por viver solteiros, no celibato, sem relações sexuais com qualquer pessoa. Resolveram renunciar a tudo para se manterem fiéis a Cristo que disse que o caminho é estreito e a porta é apertada. Em qualquer situação, Sandro, a vitória consiste em resistir ao desejo e seguir o caminho da obediência, que é a mesma coisa para os heterossexuais.

Acredito que você está desanimado desnecessariamente, pois de alguma forma foi levado a pensar que a conversão lhe libertaria completamente dos desejos que você tinha antes de conhecer a Jesus Cristo. Espero que esta carta seja útil para trazer verdadeira libertação.

Por favor, não interprete minha carta erroneamente. Não estou limitando o poder de Deus ou dando brecha para que você volte aos seus antigos pecados com a consciência tranquila. Como eu disse, as relações homossexuais, na prática ou nas fantasias eróticas de quem se masturba diante de um computador, são pecado e iniquidade. Ser tentado a fazer isto não é. Portanto, fique firme, continue a praticar as disciplinas e exercícios espirituais, continue a conversar com a Rita e a abrir seu coração para ela e a ver seu pastor regularmente. Conte comigo em tudo que precisar. Acima de tudo, não desista, pois Deus nunca nos prometeu uma viagem tranquila, somente uma chegada certa.

Termino declarando a minha mais completa confiança na veracidade destas promessas bíblicas, que deixo para sua meditação:

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14)

“Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna; porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. (Rm 6.20-23)

Do seu irmão e amigo,

Augustus

publicado em http://www.ultimato.com.br/conteudo/carta-a-um-ex-gay-tentado-a-voltar-atras

ver resposta em http://crerpensar.blogspot.com.br/2014/06/carta-de-um-homossexual-ao-seu-pastor.html

sábado, 29 de março de 2014

Comentários sobre "Visão Mundial USA volta atrás na decisão de contratar casados com pessoas do mesmo sexo"

Eduardo Ribeiro Mundim
(reação ao publicado em http://crerpensar.blogspot.com.br/2014/03/visao-mundial-usa-volta-atras-na.html)


Conheço a Visão Mundial bastante superficialmente. Aceito-a como instituição séria, e a respeito por isto. Como toda obra humana, há falhas, algumas respingam sobre a instituição (como as críticas no livro "Em busca de um final feliz" de Katherine Boo, Editora Novo Conceito), mas estes problemas pertencem a nossa humanidade.

Desconhecia que era exigido dos seus membros compromissos éticos específicos alheios à ação social. Não sabia que a vida privada era matéria de escrutínio e vigilância. Pelo menos é assim que interpreto "nossa política de emprego antiga que requer abstinência sexual para todos os funcionários solteiros e fidelidade dentro do pacto bíblico do matrimônio entre um homem e uma mulher. "  Requerer é, entre outros significados, "demandar", "exigir". O que é exigido pode ser cobrado, verificado, questionado. Pergunto-me se todas as Visões Mundiais mundo afora atuam desta mesma maneira.

Causa-me desconforto o que está nas entrelinhas: o cristão homossexual que vive uma relação análoga à do casamento não respeita as Escrituras como norma absoluta de fé e prática. As entrelinhas permitem concluir que não há outra interpretação possível, tornando a interpretação tradicional de condenação absoluta e sem rodeios da atividade homossexual (leia-se relação sexual entre pessoas do mesmo sexo) intocável e irretocável. Ou seja, santifica-se uma interpretação tradicional e demoniza qualquer outra, em que base for, como insubmissa à autoridade das Escrituras. O correto seria afirmar que a organização demanda um compromisso com uma interpretação bíblica específica, majoritariamente aceita.

A Visão Mundial está falando de "política de emprego". Portanto, entendo que a Visão Mundial EUA somente emprega cristãos professos - espero que somente os empregue se forem profissionalmente, na área que interessa à organização, competentes.

Certamente é seu direito tomar esta atitude. Certamente é seu direito contratar apenas cristãos confessos (pergunto-me se ela considera cristãos os católicos romanos e ortodoxos, ou se, para manter o seu "forte compromisso com a autoridade bíblica", não considera possível haver cristãos nestas denominações). Pergunto-me que tipo de testemunho a sociedade em geral terá deste particular, pois fica uma amálgama entre a fé cristã e o trabalho social, uma confusão sobre a missão da Visão. Pensava que era fazer o amor de Cristo concreto junto aos mais pobres; entendo que é fazer o amor de Cristo concreto junto aos mais pobres apenas por aqueles que O professam através de alguma denominação evangélica. Implicitamente a organização está permitindo que se entenda que Deus não age através daqueles que não são Seus filhos (o que é um absurdo do ponto da Sua soberania); que não é possível a associação para fins de serviço ao pobre e necessitado entre diferentes interpretações do texto bíblico em aspectos periféricos (sim, sexualidade é periférico nas Escrituras, ao menos no quesito justificação / salvação. Quanto à santificação, é tarefa exclusiva do Santo Espírito, que age como, quando e onde Ele entender que deve, sem necessitar explicar-Se); que perder o emprego na Visão Mundial por ser homossexual não celibatário, que vive em santidade uma relação análoga à do casamento, é compatível com "ser tratado com dignidade e respeito".

Desconheço o histórico da decisão reformada por esta declaração. A instituição não a tornou pública. Ao fazê-lo, ou pediu que os leitores não pensassem, ou assumiu os riscos dos leitores imaginarem o que ocorreu. Emite uma nota pública de arrependimento e de cancelamento de uma decisão para a qual "não procuraram aconselhamento suficiente", e isto apenas dois dias após a publicação da decisão!

Como a nota não me dá alternativas, imagino o que ocorreu.

Parece que a Visão Mundial EUA teve o seu “momento Petrobrás”: tomou uma decisão de importância significativa para o público evangélico, notadamente norte-americano, sem consultas adequada. Uma empresa do seu porte, com a sua história, e importância para o mundo. Sinceramente, não quero acreditar que houve um lampejo de “momento Petrobrás”, pois a única alternativa a ele seria a renúncia dos responsáveis em caráter irrevogável, por imprudência ou imperícia na condução da decisão.

Opto por imaginar que houve um movimento de chantagem de rápida velocidade, onde a sobrevivência da instituição, ou a permanência nos postos dos responsáveis por ela, foi / foram seriamente ameaçadas.

Opto por imaginar que os responsáveis ousaram dar um passo bem pensado, mas faltou-lhes determinação para arcar com os custos do dano à imagem da Visão Mundial frente a igreja evangélica norte-americana. À imagem, e não à capacidade laborativa ou de testemunho do amor de Deus aos mais pobres.

O episódio é triste.

É triste ter que imaginar o que aconteceu, e ficar na ignorância, supondo, sem realmente saber.

É triste pensar que uma empresa cristã de ajuda humanitária tenha sofrido “um momento Petrobrás”.

É triste intuir que uma empresa cristã de auxílio aos mais pobres tenha um comportamento de comunidade de fé, e como tal vigie a vida privada dos seus funcionários / membros.

Qual será a repercussão de tudo isto na vida dos cristãos homossexuais?

Visão Mundial USA volta atrás na decisão de contratar casados com pessoas do mesmo sexo

Dois dias depois de anunciar que passaria a contratar cristãos casados com pessoas do mesmo sexo, a ONG Visão Mundial dos Estados Unidos voltou atrás na decisão. Hoje (27/03), em novo pronunciamento, o presidente da ONG Richard Stearns e Jim Beré, presidente do Conselho da Visão Mundial, assinaram uma carta pedindo desculpas e explicando a nova decisão. A Visão Mundial havia recebido duras críticas de cristãos. Leia a seguir, na íntegra, a nota traduzida pela Visão Mundial do Brasil.

***
Queridos Amigos,

frente do prédio da Visão Mundial EUA. Foto: © 2014 Christianity TodayHoje, o Conselho da Visão Mundial Estados Unidos reverte publicamente sua recente decisão de alterar a política nacional de emprego. O Conselho reconhece que cometeu um erro e optou por retornar à nossa política de emprego antiga que requer abstinência sexual para todos os funcionários solteiros e fidelidade dentro do pacto bíblico do matrimônio entre um homem e uma mulher.

Estamos escrevendo para nossos parceiros de confiança e líderes cristãos, que vieram a nós no espírito de Mateus 18, para expressar sua preocupação com amor e convicção. Compartilhamos o desejo de nos unirmos ao Corpo de Cristo em torno de nossa missão de servir os mais pobres dos pobres. Ouvimos vocês, queremos agradecer e pedir humildemente o seu perdão.

No esforço de nosso Conselho de se unir em torno de missão compartilhada com a igreja para servir aos pobres em nome de Cristo, não conseguimos ser consistentes com o compromisso da Visão Mundial Estados Unidos para o entendimento tradicional do casamento bíblico e a nossa Declaração de Fé, que diz: "Acreditamos que a Bíblia é a inspiração, a única palavra infalível da autoridade de Deus." E também falhamos em não procurar aconselhamento suficiente através dos nossos próprios parceiros cristãos. Como resultado, fizemos uma alteração na nossa política de emprego que não era consistente com a nossa Declaração de Fé e nosso compromisso com a santidade do casamento.

Estamos de coração partido com a dor e confusão que causamos a muitos de nossos amigos que viram nesta decisão uma reversão do nosso forte compromisso com a autoridade bíblica. Pedimos que entenda que nunca foi a intenção do Conselho. Pedimos por seu apoio contínuo. Comprometemo-nos que continuaremos a ouvindo os sábios conselhos dos irmãos e irmãs cristãos, e alcançaremos os principais parceiros nas próximas semanas.

Enquanto a Visão Mundial Estados Unidos mantém-se firme na visão bíblica do casamento, afirmamos enfaticamente que todas as pessoas, independentemente da sua orientação sexual, são criados por Deus e devem ser amados e tratados com dignidade e respeito.

Por favor, saibam que a Visão Mundial continua a servir todas as pessoas em nosso ministério ao redor do mundo. Oramos para que você continue a se juntar a nós em nossa missão de ser "uma parceria internacional dos cristãos cuja missão é seguir nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, trabalhando com os pobres e oprimidos para promover a transformação humana, buscar a justiça, e testemunhar a boa nova do Reino de Deus. "

Em Cristo,

Richard Stearns, presidente

Jim Beré, presidente do Conselho da Visão Mundial Estados Unidos

sexta-feira, 14 de março de 2014

Sobre Cosmovisão



---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Uriel Heckert
Data: 14 de março de 2014 10:40
Assunto: Sobre Cosmovisão
Para:



"Quem quiser casar
com o espírito do seu tempo,
em breve ficará viúvo".
Para conferir:
"O mundo passa,
com tudo aquilo que as pessoas cobiçam;
porém aquele que faz a vontade de Deus
vive para sempre." (I João 2.17).



domingo, 23 de fevereiro de 2014

Uma carta a Sardes, e a nós - revitalização já!

Rev. Jorge Eduardo Diniz

A glória da cidade de Sarde estava no passado. Foi a capital da Lídia no século VII a.C, e era uma das cidades mais magníficas do mundo nesse tempo. Situada no alto de uma colina, amuralhada e protegida e jamais derrotada por um confronto direto. Seus habitantes eram orgulhosos e arrogantes. Mas, por duas vezes, a cidade fora derrotada por um buraco em sua muralha. un único lugar vulnerável. A igreja entende claramente o que Jesus estava dizendo, quando afirmou: “Sede vigilantes!... senão virei como ladrão da noite”. A cidade foi reconstruída e dedicada à deusa Cibele, divindade creditada com o poder especial de restaura vida aos mortos. Depois disso, Sardes também passou por um terrento que a destruiu parcialmente, mais uma reconstrução! A cidade tronou-se famosa pelo alto grau de imoralidade que a invadiu e a decadência que a dominou. Quando João escreve esta carta de Jesus à Sades, ela era uma cidade muito rica, mas totalmente degenerada.

A igreja tornou-se como a cidade. Em vez de influenciar, foi influenciada. Era como sal sem sabor ou uma lâmpada escondida. A igreja de Sardes era poderosa, dona de um grande nome. Uma igreja que tinha nome e fama, mas não tinha vida. Tinha performance, mas não integridade. Tinha obras, mas não dignidade. Jesus envia uma mensagem revelando a necessidade imperativa de REVITALIZAÇÃO. O primeiro passo é ter consciência de que há cristãos mortos e outros dormindo que precisam ser despertados. Jesus escreve de forma imperativa: Sê vigilante; Fortaleça o que tens: Lembre-se; Obedeça e arrependa-se. Jesus nos chama a um retorno urgente a sua Palavra. Devemos lembrar, guardar e voltar para a Palavra de Deus – A igreja tinha se apartado da pureza da Palavra. A revitalização é resultado dessa lembrança dos tempos do primeiro amor e dessa volta à Palavra. Deixemos que a história passada nos desafie no presente a voltarmos para a Palavra de Deus. Ele nos desafia à vigilância espiritual. A cidade de Sarde fora invadida e dominada duas vezes porque se sentia muito segura e não vigiou. Jesus alerta a igreja que se ela não vigiar, se ela não acordar, ele virá a ela como o ladrão da noite, inesperadamente. Para aqueles que pensam que estão salvos, mas ainda não se converteram de fato, aquele dia será dia de trevas e não de luz (Mt 7.21-23). E a última chamada de Jesus é a um retorno à santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. Uma consciência de que estamos em um processo de transformação contínuo sendo formados à imagem de Cristo até atingirmos a estatura do varão perfeito, sem vestes manchadas, e sim alvas, limpas.

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas! Que Deus envie sobre nós, nestes dias, uma poderosa revitalização.


(boletim 2ª Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte, 23/02/14)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Linchadores e bandidos - o que têm em comum?

Nos últimos dias, notícias de punições a supostos / verdadeiros bandidos têm surgido na imprensa nacional. Hoje foi noticiado que um grupo de justiceiros amarrou alguém julgado culpado por alguma ação ilegal e o jogou sobre um formigueiro...


Na Folha de S. Paulo de hoje (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/152988-linchadores-e-bandidos.shtml), o psicanalista Contardo Calligaris traz algumas reflexões pertinentes.

Será que o Brasil existe como nação? Existir como nação é ter um claro sentimento de pertencimento a uma sociedade com destino, passado e futuro; uma sociedade na qual vale à pena estar incluído, uma sociedade da qual não se deseja ser excluído.

Se tal sociedade não existe, então não existe a "coisa pública", não existe Estado. Apenas uma abstração sem vínculo verdadeiro com a realidade, não sendo seu espelho, nem estando a seu serviço.

Tolerância zero?

Tolerância zero não é repressão policial imediata e violenta, mas a certeza de que a comunidade existe para si e por si, e que cuida de si em todos os aspectos, do canteiro no qual ninguém pisará à segurança dos lares. Comunidade que existe nos corações e mentes dos seus membros, dispostos a lutar para defendê-la.

É este projeto de uma sociedade na qual valha a pena estar incluída que falta ao Brasil.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Personalidades negras na bíblia

1. Um escravo negro (cuxita) foi o mensageiro escolhido para levar a Davi a notícia da morte de seu filho e adversário, Absalão (28m 18.21-32). Um escravo ou um mercenário negro, por ser um estrangeiro foi, talvez por isso, preferido pelo comandante Joab, para levar ao rei a trágica notícia.

2. Depois de ter lido em público os oráculos de denúncia e ameaça do profeta Jeremias, Baruque, seu secretário, foi intimado a comparecer diante dos grandes de Judá, levando-lhes o rolo (Jr 36.1- 26). O mensageiro enviado para convocar Baruque foi [[Jeudi], bisneto de um negro (cuxita; Jr 36.14; CNBB e NTLH).

3. Por sua mensagem, que aconselhava abertamente a rendição de Judá a Nabucodonosor, rei de Babilônia, Jeremias foi perseguido como traidor da pátria e entregue pelo rei Zedequias ao arbítrio dos príncipes. Estes o jogaram num poço em que não havia água, só havia lama (Jr 38.1-6). E o profeta se atolou na lama, correndo o perigo de se afogar e morrer. Aparece, então, um negro, um cuxita, cujo nome é dado como Êbed-Mélekh (literalmente, servo, isto é, ministro do rei). Ele vai ao rei, intercede por Jeremias e consegue permissão para salvar a vida do profeta. Esse negro é, portanto, alguém em alta posição na corte, tendo acesso direto ao rei, que o devia ter em alta consideração, e, por isso, atendeu seu pedido, embora fosse em desafio à decisão dos príncipes, diante dos quais o rei se confessara sem nenhum poder (Jr 38.3, 7-13). Essa foi uma ação tão notável que o etíope Êbed-Mélekh recebeu, em recompensa, um oráculo, por intermédio do próprio Jeremias, em que lhe era prometido livramento, quando acontecesse a destruição de Jerusalém pelo exército de Nabucodonosor. Sua vida seria poupada, porque ele confiara no Deus Eterno (Jr 39.15-19).

4. Duas coisas chamam a atenção no cabeçalho do livro de Sofonias (Sf 1.1). A primeira: é o único entre os profetas que tem seus antepassados citados até a quarta geração. Charles Taylor Jr. afirma: "A razão é, sem dúvida, porque o Ezequias mencionado é o rei daquele nome, que governara Judá de 715 a 687 a. C.,, A segunda: Sofonias é declarado filho do Negro (Cuxita). Podem ser formuladas duas hipóteses, para explicar esse caso: uma dama nobre, neta do rei Ezequias, casara-se com um etíope, com um negro, que veio a ser o pai do profeta; ou, então, seu pai, este sim, neto de Ezequias, recebera o nome de Cuxita (etíope), em homenagem ao Egito, pais com que Judá se aliara em oposição à Assíria. Qualquer que seja a hipótese adotada, torna-se evidente a alta conta em que eram tidos os cuxitas (etíopes, negros) pela família real de Judá.

5. Abraão foi o pai dos crentes, para judeus e cristãos, seu primeiro antepassado na fé (Gn 12.1-4a), que teve a honra de ser considerado um dos dois amigos de Deus, no AT (Is 41.8). Para os maometanos, ele foi um dos quatro grandes profetas: Ibraim, Musa, Issa e Maomé. Seu primeiro filho, Ismael, nasceu de sua relação com Agar, escrava egípcia, camita, portanto, negra, visto como Gn 10.6 e lCr 1.8 colocam Etiópia, Egito, Líbia e Canaã como filhos de Cam. Além disso, Deus sustentou, no deserto, essa mulher negra e seu filho e, mais ainda, concedeu-lhe o privilégio de uma teofania, isto é, apareceu diante dela e lhe falou (Gn 16.1-16; 17.23-27; 21.8-21). Através de Ismael, Agar se tornou a matriarca de numerosos povos beduínos que habitavam o sul da Palestina. E, segundo outras tradições, tornou-se uma ancestral de Maomé, o fundador do islamismo, tido como descendente de Ismael.

6.Da máxima importância, neste contexto, é uma tradição que envolve o próprio Moisés, o líder máximo do povo de Deus, no AT, libertador do povo de Israel, em seu Êxodo do Egito, fundador da fé “javista.” Grande profeta, que também teve o privilégio de ser considerado, como Abraão, um amigo de Deus. Homem ímpar, de quem se diz: “Nunca mais surgiu em Israel profeta semelhante a Moisés” (Dt 34.10-12). Existem três diferentes tradições sobre a origem étnica de sua esposa. Uma atribui a ela origem midianita (Ex 2.16-22; 3.1; 4.24-26; 18.1; Nm 10.29). Outra, uma origem quenita (Jz 1.16; 4.11). A terceira fala de seu casamento com uma cuxita (etíope, negra; Nm 12.1). Em todas as três, o grande libertador de Israel tem por esposa uma mulher estrangeira. A terceira tradição fala de uma esposa etíope, embora num texto que contém algumas dificuldades. Qualquer que seja a solução das dificuldades, o texto indica, de maneira suficientemente clara, que se trata de um casamento recente e, por conseguinte, a esposa mencionada não era Zípora. E mais, que a causa da rebelião de Minam foi a posição de Moisés como mediador único entre Deus e o povo (Nm 12.2). Conclui-se, então, que não há nenhuma recusa contra o fato, que é aceito, portanto, como normal, de que o fundador e legislador do povo de Israel, -- o homem com quem Deus falava "face a face", a quem colocara “como responsável” por todo o seu povo, -- o fato de que Moisés tivesse desposado uma cuxita, uma mulher etíope, uma mulher negra.

7. Salomão foi, segundo a tradição, o mais sábio, o mais rico e o mais famoso dos reis de Israel, e construtor do primeiro templo de Jerusalém. Pois bem, entre as mais importantes raínhas-esposas de Salomão, estava a filha de um faraó da 2 ia dinastia, o faraó Shishak (cerca de 945-924 a.C.), pertencente a uma dinastia de famosos mercadores. Essa egípcia era a mais importante das raínhas-esposas. Seu pai tomou a cidade de Guézer dos canaanitas e deu-a como dote à filha, à esposa camita, à rainha-esposa negra de Salomão (1Rs 3.1; 9.16; 11.1).

Por Rev. biblista Joaquim Beato 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Talks on Health

Escrito pelo Dr. Lincoln S. Miyasaka e disponível na amazon (atalho) este pequeno livro fala de saúde nos seus quatro aspectos: física, emocional, familiar e espiritual. Foi elaborado através de frases, comentários e questões apresentadas durante os 5 anos de trabalho na China pelos seus pacientes. Sobre as preocupações apresentadas, acrescenta também seu ponto de vista alicerçado em sólida fé cristã evangélica.

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