sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética V

CIÊNCIA E FÉ - SUAS SEMELHANÇAS

 

Apesar dos percalços, ciência e fé compartilham características comuns. São atividades racionais, com campo de atuação bem definido - mas gostam de aventurar-se fora dele, nem sempre com propriedade. Mas, em seus fundamentos, buscam, a seu modo, a felicidade do ser humano. E, sempre presente, mesmo que desapercebido, o assombro perante os mundos exterior e interior.

 

Estruturas de poder existem em ambas. E como todo poder exercido por humanos, há falhas, muitas vezes clamorosas, e exemplos deploráveis de má conduta no seu exercício.  No campo da ciência, o poder se dá principalmente pela academia, pelas associações científicas, pela capacidade de publicar artigos de impacto mundial e pela habilidade de articulação política. No campo da fé, o poder se manifesta principalmente pela ortodoxia - dizer o que está concorde com a sã doutrina e o que está em dissonância. Cada estrutura de fé tem características próprias, mas provavelmente a capacidade de ser visível, de aumentar o rebanho e, novamente, articulação política são os principais canais do  exercício do poder.

 

Consequência comum do poder, ambas formam seu grupo de excluídos e párias. E ambas costumam ser pouco misericordiosos.

 

Sendo atividades humanas, ambas lidam com uma maioria de não compromissados, usuários apenas do senso comum religioso/científico, sem participação ativa na construção da fé ou da ciência. Habitualmente acrítica, esta parcela é facilmente vítima das "crendices" ou "superstições".

 

A praga existe em todo bom jardim, e charlatões e aproveitadores habitam ambos. Aqui os defino como aqueles que conscientemente usam um ou outro inescrupulosamente, pervertendo conscientemente o que é sabido, buscando unicamente obter vantagens pessoais em detrimento do próximo e/ou do bem comum.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética IV

A FÉ

 

Primariamente, a fé é uma atividade que busca dar significado. Está voltada para a constituição do ser: senso de pertencer a algo que é maior que ele mesmo (que o transcende); senso de propósito da própria existência; estabelecimento de vínculos de lealdade, de ética e de moral.

    

Ela faz uso dos cinco sentidos naturais, notadamente da visão, ampliada pela sofisticação intelectual. Investiga textos sagrados através de normas de interpretação predeterminadas. A ciência hermenêutica permite que o fiel atualize sua escritura para que encontre aplicabilidade no mundo atual, contextualizando-a. Discute em academias especializadas este modo de investigação. Usa a imaginação, a analogia e a dedução para atualizar textos antigos.

 

Mas a fé investiga um mundo que existe por revelação, que somente está acessível àquele que crê. E a infinitude de divisões e subdivisões parece sugerir que a unanimidade (portanto, a certeza) está longe de ser alcançada.

 

A fé supre uma demanda humana que a ciência não logrou completar: o sentido da dor e da morte, o mal no mundo, a justiça e a liberdade.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética III

A CIÊNCIA

 

A ciência, como a conhecemos atualmente, é prioritariamente uma atividade investigativa voltada para a sobrevivência, para o conforto e para a realização. Sobrevivência e conforto são autoexplicativas. Realização merece um comentário. Música, literatura, artes e arquitetura são atividades investigativas - todas são aceitas pela academia como ciência. E são meios de expressão que colorem a existência. Quando investiga o mundo natural a ciência pergunta como ele é, como funciona, como suas diversas partes se relacionam e, de modo prático, como fazer de modo eficiente e seguro.

 

Suas ferramentas são os cinco sentidos naturais, notadamente a visão e a audição, ampliados tecnologicamente, que permitem observar (microscópio, ultrassom, sonar, radar, ressonância magnética, etc). A matemática, que permite descrever , calcular e prever. O empirismo, que permite testar o imaginado e previsto a partir do observado, demonstrando que a hipótese não é falsa (ao contrário do que se pensa, a experimentação não prova a verdade, mas apenas a não-falsidade). A inspiração, que permite fazer interrelações, buscar saídas e propor novos modelos.

 

É curioso o uso de expressões como "a ciência diz que..." ou "a ciência comprova que...". No primeiro caso, vemos a interferência da religiosidade inerente em uma atividade que adota, como princípio básico, a dúvida como método permanente de trabalho. A atividade investigativa não existe enquanto ser ou unidade autônoma; portanto, não tem opinião própria. Nada sabe, nada fala, nada aponta. É apenas um imenso banco de dados acumulativos e contraditórios onde se buscam recursos para a compreensão do mundo natural. A visão do cientista é que fala, a certeza é a certeza dele.

 

No segundo caso, a  comprovação da veracidade da hipótese, se constitui no equívoco mais comum em relação a atividade científica. A ciência constroi modelos explicativos da realidade (e modelo não é a realidade) que sobrevivem a sucessivos questionamentos. Sua veracidade jamais é comprovada; sua não falsidade é que se demonstra.

 

A atividade científica acontece sobre bases não experimentais, aceitas sem serem submetidas ao princípio metodológico da dúvida: a uniformidade, a ordem e a constância da natureza; a verdade global nada mais é que a soma das verdades parciais; os critérios para a aceitação ou rejeição dos dados; a inserção do pesquisador no mundo real que ele mesmo pesquisa não interfere na sua neutralidade.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética II

RELIGIÃO E FÉ

 

Vou tentar expor o caminho do meu raciocínio. Antes, quero fazer uma distinção arbitrária entre religião e fé.

 

Chamarei religião aquela atitude muito humana, e aqui cito Rubem Alves no seu livro "O que é religião", que é a "marca de todas as religiões, por mais longínquas que estejam umas das outras: o esforço para pensar a realidade toda a partir da exigência de que a vida faça sentido". Esta postura parece ser universal, e característica da humanidade. Não há homem ou mulher que não seja religioso, porque todos tem de dar um sentido à vida que vivem! Os psicanalistas estudam desde Freud, Jung e outros aquela Ausência (com A maiúsculo) que habita em todos nós, e, segundo o mesmo Rubem Alves, religião são mundos que construímos, às vezes mágicos e encantados, e seu estudo "longe de ser uma janela que se abre apenas para panoramas externos, é como um espelho em que nos vemos".

 

Fé, por outro lado, entendo como qualquer sistema organizado de crença que busque dar sentido a existência, que tenha nome e identidade, e que imponha àqueles que o abracem limites à magia e ao encantamento citados por Rubem Alves, assim como ao modo de hierarquizar valores e aos esquemas de tomadas de decisão.

 

Não é necessário abraçar uma fé para ser religioso - todo ser humano o é, mesmo que não acredite nisso. Mas aquele que se identifica como cristão, por exemplo, impõe a si mesmo uma história, uma tradição, uma Escritura e um modo de lê-la e aplicá-la a realidade do mundo de hoje. Vida mais fácil tem aquele apenas religioso, que vive seu próprio mundo mágico, sem compartilhá-lo, muitas vezes dando novos rótulos a velhas fantasias, e aos profetas novos nomes. Não deve lealdades explícitas; não tem fraternidade que pode colocá-lo em situações delicadas, tanto no passado quanto no presente; é livre para criar seu mundo mágico a sua imagem e semelhança.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética I

Semana da Esperança

Universidade Federal de Viçosa

31/10/08

 

INTRODUÇÃO

 

Fui solicitado a abordar o tema deste momento, "Fé que pensa, Razão que crê", focando uma questão de poder: quando se trata de uma questão ética, ou bioética, quem tem a última palavra? a ciência? a religião?

 

Falar de ciência e fé é percorrer todo o meu histórico pessoal, e acredito que, em alguma extensão, o histórico de todos aqui presentes. No meu caso, sofri durante anos com a questão "ciência X fé". Ponderei, durante um bom tempo, em desprezar esta, e tudo o que ela significa, e abraçar aquela. Mas não trilhei este caminho motivado por questões acadêmicas; meu estímulo era muito mais egoísta, pessoal; dizia respeito a toda a subcultura na qual fora criado, que abraçara na adolescência com grande sofrimento e dúvida, mas que dera significado ao mundo e a minha existência. Minha demanda interna por certo nível de coerência obrigou-me a olhar ambas e perguntar-lhes: "e agora, o que eu faço com vocês?"

 

Preparando-me para estar aqui percebi que sou capaz de divagar sobre o tema bem mais do que imaginara possível, tal o seu significado. A tarefa dada é bem mais difícil: como sintetizar nestes minutos um assunto tão apaixonante para mim, focando-o na rixa em relação às questões bioéticas, sem induzi-los ao sono e ao desinteresse?

 

Navegando em minha biblioteca real, além da vasta disponível em bytes, percebi que não há consenso sobre o assunto. Entre os sítios da rede dedicados ao tema há o do Instituto Ciência e Fé, um grupo bem ecumênico (tanto do ponto de vista universitário quanto religioso) que discute academicamente esta temática há cerca de 10 anos. Foi realizada uma pesquisa entre seus membros por Luiz Henrique Z. F. de Macedo cujo resultado me surpreendeu. O meu "pré-conceito" dizia que, em uma instituição de tal idade, uma harmonia entre a ciência e a fé já teria sido alcançada, e a minha tarefa junto a vocês estaria mais fácil. Nada mais longe da realidade. No sumário disponibilizado do trabalho temos as seguintes posições:

-      cientistas

*         o diálogo entre os dois serve para que surja "uma fé racional", deixando de lado o literalismo bíblico (dito de outra forma, a ciência coloca limites naquilo que é possível crer)

*         a fé tenta explicar os fatos naturais misticamente...o diálogo é necessário para tornar a fé menos obscura (será que a professora mirava o comportamento violentamente radical de algumas confissões religiosas?)

*         a ciência está fechada para outros saberes...o diálogo entre ambas é não epistemológico (a fé não se constitui como conhecimento)

-      religiosos

*         os dois conhecimentos não podem chegar totalmente à verdade...aqui vemos um diálogo de mão dupla...o campo da bioética é um dos loccus deste diálogo (que é o nosso propósito nestes minutos)

*         enquanto a religião responde a seus problemas espirituais sozinha, a ciência não busca nenhuma referência na religião (ambas se bastam a si mesmas)

*         o diálogo só pode ocorrer no campo do entendimento, mas não no campo dos fundamentos... havendo conflito nos princípios que as duas podem pregar

 

Estas posições, editadas a partir do texto disponibilizado, não são as únicas, mas são uma amostra do que se pensa. E nós, o que pensamos? E eu, o que penso? E o que tem de relacionamento entre ética / ciência, ética / fé?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Denominações diferentes têm posições diferentes em lugares diferentes e em épocas diferentes *

 
Data da impressão: 23 de outubro de 2008

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EXCLUSIVO ONLINE
 
 
 
Robinson Cavalcanti

Recentemente, ao iniciar uma palestra em uma conferência teológica, saudei a platéia "em nome daquela Igreja que não foi fundada por Henrique VIII, e nem é comandada pela Rainha da Inglaterra". Estava me referindo ao lamentável fato de que seminários teológicos evangélicos, em suas aulas de história do cristianismo, repetem clichês que não fazem justiça aos fatos.

No caso do anglicanismo, há um silêncio sobre os séculos da Igreja Celta autônoma e não se trabalha a complexidade da Reforma Inglesa, que começa com John Wycliffe e vai até a Revolução Gloriosa de Guilherme e Maria de Orange. Não se destaca o papel das Universidades de Cambridge e Oxford, ou o gênio do Arcebispo de Cantuária Thomas Cranmer, ou que após Henrique VIII a Inglaterra voltou ao catolicismo romano, passou por uma ditadura presbiteriana com Oliver Cromwell, pelo estabelecimento Elizabethano, por novas tentativas de volta a Roma, e que, somente com a Revolução Gloriosa, tanto o anglicanismo quanto o parlamentarismo vieram a ser consolidados. Ou seja, a Reforma Inglesa viria com Henrique, sem Henrique ou contra Henrique, que, no fundo, foi um personagem menor nesse conjunto de fatores.

Representantes das igrejas orientais têm semelhante queixa, quando afirmam: "Os seminários protestantes dão uma versão católica romana sobre a separação entre ocidente e oriente". Normalmente, o conhecimento das lideranças protestantes sobre o cristianismo do oriente é perto de zero. Como falar que o oriente se separou de Roma, quando os seus patriarcados autocéfalos são anteriores, ou, no caso das Igrejas Pré-Calcedônicas, estas nunca poderiam ter se desligado de algo com a qual nunca foram ligadas?

A antropologia nos ensina que uma das nossas limitações é o etnocentrismo: tendemos a ver o mundo a partir do nosso lugar e a história a partir do nosso tempo, o que gera grandes distorções.

Outro dado interessante é que denominações diversas têm posições diversas em lugares diversos e em épocas diversas. Enquanto, por exemplo, os congregacionais são, em geral, ortodoxos no Brasil, eles encabeçaram o liberalismo nos Estados Unidos (inclusive criando a Igreja Unitariana Universalista), e defendiam a teologia da libertação na Suécia. Batistas podem ser conservadores no Brasil, ou no Sul dos Estados Unidos, mas não o são, necessariamente, no Norte ou no Reino Unido. Presbiterianos tendem a ser teologicamente conservadores no Brasil, mas nos Estados Unidos (PCUSA) já autorizaram, oficialmente, a chamada "solução local" (decisões de presbitérios) para a realização de ritos sobre uniões do mesmo sexo.

Enquanto os presbiterianos estão em declínio na Escócia, crescem, e muito, na Coréia. As igrejas luteranas estão virando museus vivos na Escandinávia, mas conhecem um crescimento fenomenal na Etiópia e na Tanzânia.

Veja o caso do anglicanismo. Quase todo mundo evangélico brasileiro é alimentado pela leitura dos nossos autores, como John Stott, C.S. Lewis, J.I. Packer, Michael Greene, Os Guiness, Alister McGrath, N. T Wright, e tantos outros. Mas, a quase totalidade das editoras esconde a identidade desses autores, "com vergonha" porque eles são anglicanos, e com medo de terem prejuízo na comercialização das obras. E por quê? Além do preconceito anti-litúrgico do nosso protestantismo "anabatistizado", o anglicanismo no Brasil é principalmente representado pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) — que não lê aqueles autores — de linha católico-liberal, alinhada com a Igreja Episcopal (dos EUA), mas que integra uma reduzida minoria no conjunto da Comunhão Anglicana.

Tenho afirmado que dos 164 países onde o anglicanismo se faz presente, em 150 não se encontra um liberal nem para se fazer um chá. Na Conferência de Lambeth de 1998, a maioria ortodoxa — que é a verdadeira cara do anglicanismo mundial — aprovou com mais de 80% a Resolução 1.10 sobre Sexualidade Humana, consentânea com as Sagradas Escrituras e a herança apostólica e reformada.

De fato, temos no Brasil de hoje um "anglicanismo de gene Robinson", representado pela IEAB, e um "anglicanismo de John Stott", representado pela Diocese do Recife.

Nenhum ramo do cristianismo, portanto, tem o monopólio da virtude ou do pecado, embora, de lugar para lugar, e de época para época, a virtude ou o pecado possa prevalescer.

Ler mais, dialogar mais, viajar mais, até que ajuda. Ou, sempre relembrando o poeta pátrio: "As aves (e as denominações) que aqui gorjeiam, não gorjeiam (nem se posicionam) como lá!".


Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política -- teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo -- desafios a uma fé engajada.
www.dar.org.br  

* Publicado originalmente em "Reflexão Episcopal" da Diocese do Recife — Comunhão Anglicana, com o título NEM TODOS OS GATOS SÃO PARDOS -- Compreendo "nós" e "os outros"
   
 



 
     
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Synod of Bishops revisits inerrancy compromise reached at Vatican II

October 21, 2008 Send to printer | Close window


Home > 2008 > October (Web-only) Christianity Today, October (Web-only), 2008
Theology in the News
Rome's Battle for the Bible
Synod of Bishops revisits inerrancy compromise reached at Vatican II.
Collin Hansen | posted 10/20/2008 09:08AM

The doctrine of biblical inerrancy doesn't belong only to those who cry "Sola Scriptura!" Inerrancy has emerged as a key issue in the Roman Catholic Church's Synod of Bishops, which started October 6.  Focused on "The Word of God in the Life and Mission of the Church," the synod provides 180 Catholic bishops and other participants a rare opportunity to share their concerns and listen to colleagues from around their world. Pope Benedict XVI addressed the synod on October 14 and lamented the divide between biblical scholars and theologians. Church leaders have warned that this divide leads many Catholics to question the vitality and authority of God's Word.

According to the official Vatican bulletin, Pope Benedict XVI "dwelt upon the fundamental criteria of biblical exegesis, upon the dangers of a secularized and positivistic approach to the sacred Scriptures, and upon the need for a closer relationship between exegesis and theology."

"Reading between the lines, this is an effort to call the Roman Catholic Church back to the scriptural sources," said Timothy George, founding dean of Beeson Divinity School. "We should read this discussion in light of Pope Benedict XVI's book Jesus of Nazareth. He comes down as a conservative on issues of critical scholarship, though he is not likely a Chicago Statement inerrantist."

Noted Vatican observer John Allen Jr. has been filing daily synod reports from Rome. He described the Catholic Church's view of biblical authority as steering a "middle course between two extremes — evangelical-style fundamentalism on the one hand, and secular skepticism on the other. In a sound bite, Catholicism falls somewhere between the Southern Baptist Convention and the Jesus Seminar."

According to Allen, some of the more conservative Catholic leaders expressed concern over early drafts of the synod's working document, InstrumentumLaboris. The document does not express authoritative church teaching. But Allen noted, "The discussion over inerrancy suggests that careful treatment of that topic is likely in the synod's final documents, whether in the propositions the bishops will submit to the pope, or in the apostolic constitution that Benedict XVI is eventually expected to issue."

Allen reported that the working document said, "With regards to what might be inspired in the many parts of sacred Scripture, inerrancy applies only to 'that truth which God wanted put into sacred writings for the sake of salvation.' (emphasis added)" This paraphrase and quote comes from the seminal 1965 statement Dei Verbum from Vatican II. But the authoritative Latin from that statement nowhere included the word might, Allen noted.

Dei Verbum went through several drafts before striking a delicate balance. The first draft at Vatican II said "the entire sacred Scripture is absolutely immune from error." But the final draft concluded that the "books of Scripture must be acknowledged as teaching solidly, faithfully, and without error that truth which God wanted put into sacred writings for the sake of salvation."

"The dogma of inerrancy was limited to the area of saving truths," said Gregg Allison, associate professor of Christian theology at the Southern Baptist Theological Seminary. Matters related to history and science fell outside the purview of inerrancy. "This significantly reduced biblical problems raised by Roman Catholic scholars, but it also went against the church's historical view of Scripture's truthfulness."

The English translation from the current synod's working document would signal further weakening of the Roman Catholic Church's doctrine of inerrancy.

"It looks like the papered-over compromise from Vatican II is coming to the fore at the conference in Rome," said John Woodbridge, research professor of church history and the history of Christian thought at Trinity Evangelical Divinity School. "After years of 'don't ask, don't tell,' they are asking and telling."

Catholic challenges to inerrancy in the late 20th century went against longstanding church teaching. No less an authority than Augustine of Hippo set the church's standard. "The authority of these books has come down to us from the apostles through the successions of bishops and the extension of the church, and, from a position of lofty supremacy, claims the submission of every faithful and pious mind," Augustine wrote in a response to Faustus the Manichaean. "If we are perplexed by an apparent contradiction in Scripture, it is not allowable to say, 'The author of this book is mistaken;' but either the manuscript is faulty, or the translation is wrong, or you have not understood."

Pope Leo XIII cited Augustine in his landmark 1893 encyclical on the study of Holy Scripture. The Vatican subsequently launched a decades-long crackdown on higher criticism. At the same time, controversies over the authority of Scripture were wreaking havoc in Protestant seminaries and denominations.

More recently, Catholic seminaries and universities have tolerated scholars who deny the historicity of some biblical events, such as Jesus' miracles. Pope Benedict XVI is an Augustinian, and his years as a university professor have acquainted him with the challenges posed by critical scholarship. According to Allen, the pope advocates "canonical exegesis," which "takes the unity of the Bible for granted and aims at a theological rather than a simply literary-historical interpretation."

Before the synod, the Catholic Biblical Federation commissioned a study of 13 countries to learn how they viewed the Bible, according to Allen. "In broad strokes, the survey found that even in highly secularized nations, people have a basically positive attitude towards the Bible, finding it 'interesting' and wanting to know more about it," Allen reported. At the same time, few surveyed knew anything about the Bible — even whether Paul or Moses was an Old Testament leader.

The problem at the congregational level has been diagnosed. Reaching a solution among the church's leadership will be much more difficult, as history indicates. After fighting their own battles over inerrancy, Protestants will be watching.

"The only way forward in ecumenical dialogue is the biblical pathway," George said. "The Roman Catholic Church is taking the Bible more seriously now than it did 30 to 50 years ago. This is a good sign."

Collin Hansen is a CT editor at large and author of Young, Restless, Reformed: A Journalist's Journey with the New Calvinists.

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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bioética e Objetivo Final

Cena 1: casa de cômodos amplos, paredes esburacadas, retalhos pendurados nas janelas tentando preservar a intimidade e o calor durante as noites frias, sem luz elétrica. Crianças são ali abrigadas, feridas, muletas como pernas. A lei é feita por aquele que tem armas e homens ao seu comando. O único adulto do local poderia ter fugido mas não o fez. O "senhor da guerra" visita o local mensalmente, com uma quantidade insuficiente de dinheiro, a única fonte de sustento para elas. Como preço, leva uma consigo, que nem sempre volta. Caso lhe fosse recusada a "contribuição", levaria dez e não deixaria nada em troca. Opções: recusar o auxílio e resistir; espalhar as crianças pela região, na esperança de que alguma seja abrigada.

 

Cena dois: um caminhão com refugiados da guerra na fronteira entre dois países. Na carroceria coberta, um bebê e sua mãe, um pré-adolescente e o pai, diversos passageiros solitários. O motorista arrecadou US$5.000,00 por cabeça, grande parte para subornar a guarda ao longo do caminho. O militar exige, além do dinheiro, meia hora com a mãe do bebê, "lá atrás do posto". O marido petrificado não reage; outro passageiro levanta-se e a defende. O tiro só não sai devido a chegado do oficial superior, que autoriza a partida.

 

Cena 3: o país encontra-se em plena revolução. O Estado aniquilado: economia desorganizada, guerra civil, falta de estrutura burocrática eficiente, fome em várias regiões. Em muitas, neva. O canibalismo torna-se o único meio de se alimentar em alguns grotões; tabernas oferecem carne de crianças no cardápio.

 

As duas primeiras cenas são da novela "O Caçador de Pipas", de Khaled Hosseini; a última, descrita por Elio Gaspari, na Folha de São Paulo de 27/01/08. Será que o autor exagerou para turbinar as vendas do livro? Será que o historiador não distorce os fatos? Os 2 primeiros, a invasão soviética e o regime talibã; o último, os primeiros anos do comunismo. Citando um dos personagens da novela, a recusa em acreditar nos fatos é uma demonstração de que reconhecemos neles verdade.

 

São as pessoas envolvidas destituídas de ética? Não parece, já que ética é um conjunto de valores que norteia as atitudes - portanto, não é possível pessoa a-ética. Existe aquela que não tem a mesma ética que a minha.

 

O talibã e o russo usam seus interesses pessoais como guias de suas atitudes, reforçados pelo poder bruto das armas e pela absoluta falta de sim-patia. O defensor sim-patisa e está disposto ao auto-sacrifício. O diretor do orfanato aceita uma carga para que a maior parte de crianças sejam salvas, mesmo ao preço da vida, total ou parcial, de alguns. Quais as opções ao canibalismo? será a morte comunitária por solidariedade superior à própria vida?

 

Não é o objetivo atual analisar cada uma dessas situações, mas usá-las, talvez de forma injusta, para iniciar uma reflexão: quando um princípio ético / bioético é aceito, que tipo de sociedade ele está formando? Quais as conseqüências práticas de sua adoção?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Cidadania e Fé Cristã

Anderson Clayton

Ultimato on line



"O homem é a medida de todas as coisas." Esse aforismo filosófico se tornou símbolo do humanismo renascentista. Tal afirmação, desde Protágoras, sempre foi complicada de se entender. Mas a democracia moderna se encarregou de defini-la. O ser humano, possuidor de direitos inalienáveis, é agora cidadão, apto para eleger seu representante político e ser por este salvaguardado em sua liberdade de ir e vir.

Toda discussão em torno deste tema aconteceu coincidentemente quando o cristianismo ocidental vivia sua mais controvertida crise de sustentabilidade institucional pós-Reforma Protestante. Sua luta contra o humanismo secular e a decorrente discussão sobre a relevância dos postulados religiosos se constituíram em prova de sobrevivência para ele. A "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" e a "Crítica da Razão Pura Prática" de Kant talvez foram as últimas grandes tentativas do Ocidente de tentar validar o discurso do cristianismo numa sociedade em processo de laicização e secularização.

Os valores defendidos pela Revolução Francesa são valores da fé cristã: liberdade, igualdade e fraternidade. Havia na cristandade incipiente, no entanto, uma motivação distinta que deixou de existir no século 18, a saber: a crença na iminência de irrupção da "justiça escatológica". O Iluminismo não tem nada de escatológico. Ao contrário; os postulados racionais de solidificação dos pilares da democracia moderna têm na secularização seu dispositivo legítimo de auto-afirmação garantido. Com o declínio da religião e sua decorrente "crise de plausibilidade", a reivindicação pelo cumprimento dos direitos da pessoa humana ganhou cada vez mais visibilidade social.

O Estado de Direito é garantidor da condição de inalienabilidade do cidadão. O indicativo "seja seu próprio legislador" acaba sedimentando o fulcro da democracia, que irá produzir uma concepção de sociedade na qual o cumprimento do direito se tornaria a máxima do labor político, para a qual concorreriam os três poderes constituídos na democracia: executivo, legislativo e judiciário.

A judicialização é um processo crescente na sociedade democrática, e o poder judiciário nunca esteve tão atento quanto hoje ao cumprimento dos direitos prescritos na lei que favorece o cidadão e salvaguarda sua integridade. É oportuno fazermos uma pergunta para buscarmos melhor compreensão da natureza deste fenômeno que cresce cada vez mais nas sociedades democráticas: o que ele significa para o cidadão que professa a fé cristã?

 

Cidadania e fé cristã  

É importante deixar claro que este fenômeno não significa um indicativo positivo a favor da tese da "morte da religião", mas sim da "decadência moral" de instituições democráticas e de seus representantes legais na história recente da democracia ocidental. A reivindicação pelo cumprimento dos direitos era uma variável societal presente no teocracismo javista do Antigo Testamento, e nem por isso havia uma decadência da fé em Israel. É certo que no judaísmo pós-exílico, o cumprimento da Lei havia assumido um outro sentido, justificado, sobretudo, no escatologismo presente na religião judaica do período do intertestamento.

O fenômeno da judicialização significa penhor de direitos assegurados pela lei, garantia de que o Estado democrático (sobretudo no exercício do judiciário) irá proteger o cidadão, sujeito principal que justifica sua operacionalidade social. Isto em nada denota a decadência moral da fé cristã no mundo ocidental.

O cristão, cidadão brasileiro, é pagador de impostos. Em tudo que ele consome há uma carga tributária sendo cobrada. Ele paga pelo funcionamento da democracia representada pelas instituições democráticas. Quando seus direitos são ameaçados de forma a inviabilizar este funcionamento, o cidadão cristão deve apelar para o que foi constituído como "fundamento jurídico" para manutenção da unidade social numa sociedade democrática. Do contrário, viveríamos sob a ameaça de uma "guerra civil" ou do estabelecimento de um sistema anárquico.

No entanto, devemos considerar algo mais: a disputa ideológica que pode estar escondida por trás das reivindicações humanísticas sob o invólucro de um pseudo-discurso da cidadania. O humanismo secular sempre foi antônimo de fé cristã. Sua tese consiste na negação da crença vital do cristianismo nascente: Cristo ressuscitou dentre os mortos. A discussão que aconteceu entre Paulo e a filosofia gnóstica do primeiro século versava sobre o fato de haver Cristo ressuscitado em carne ou não. Por que se queria precisar este acontecimento? Porque dele dependia o futuro da esperança de toda a cristandade.

Na comunidade de Tessalônica, havia uma crença, proveniente do judaísmo apocalíptico, de que os mortos estariam em desvantagem em relação aos vivos no evento da ressurreição final. Na comunidade de Corinto, a natureza da pergunta era outra: qual é a garantia que temos de que a promessa da ressurreição da carne se cumprirá em nós e para os que já não estão entre nós? Paulo responde: Cristo ressuscitou dentre os mortos, e isso é penhor de que a promessa feita por Deus nele irá se cumprir também em nós. Se isto não é verdade, a vida deve ser vivida hedonicamente: "comamos, bebamos, pois amanhã morreremos". Sem esperança de ressurreição dos mortos, o sentido da vida se perde, e tornamo-nos os mais infelizes de todos os homens.

A doutrina da ressurreição dos mortos tinha um pressuposto teológico: Deus não está dormindo enquanto somos injustiçados no mundo sem Deus. Esta é a teologia da crença escatológica na ressurreição dos mortos. Crer na ressurreição equivale a crer na processualidade da "justiça escatológica" em movimento diretivo à consumação.

 

Num certo sentido, a afirmação da cidadania se torna uma crença funcional da descrença escatológica na modernidade. Não faz sentido algum para os cristãos reivindicarem seus direitos como cidadãos num contexto de forte expectativa de irrupção da "última ordem", as "eschata kantiana" que sobrevivem na estrutura ontológica da fé esperante.

A secularização é a afirmação visceral contra a expectativa de irrupção da "ordem última". O cristianismo moderno se desescatologizou ao eclipsar a crença cristã da futuridade de Deus. Neste sentido, a emergência de uma configuração social que reivindique a justiça social aqui e agora, que garanta a paridade de direitos a todos os cidadãos contribuintes em uma sociedade democrática, pode ser, sim, a afirmação de uma disfuncionalidade escatológica da crença central da fé cristã: a esperança de ressurreição dos mortos, e com ela a manifestação da "justiça escatológica".

A pergunta "devo eu então abdicar meus direitos como cidadão por conta da crença na ressurreição que professo como cristão?" tem uma resposta de dois lados. Paulo é um bom exemplo a ser seguido. Quando viu sua atividade "querigmática" prejudicada pelos representantes legais do Império Romano, ele, na condição de cidadão romano, protegido formalmente pela lei romana, apelou para a efetivação dos seus direitos como tal. Em outros momentos, contudo, a resignação foi usada por ele para dar testemunho do seu culto racional prestado a Deus na forma de "sacrifício vivo" (Rm 12.1).

Quando a consciência da cidadania se torna um clichê de reivindicações ideológicas, aí sim temos um problema. Pois nossa reivindicação neste contexto pode esconder a falência das crenças vitais da fé que professamos publicamente. O juízo é interno, mas parte sempre desse princípio hermenêutico em que a afirmação da esperança escatológica ficará em evidência. Não negue sua cidadania. Entretanto, não permita que a esperança de sua fé seja sepultada nela. A dialética é: "Dai a César o que é de César; mas não dai a César o que é de Deus". Talvez este seja o caminho de uma possível conciliação entre duas variáveis historicamente tão rivalizadas. Peça a Deus sabedoria para poder discernir o que fazer em situações complexas que exijam de você decência como cidadão e fidelidade como cristão.


Anderson Clayton, casado, dois filhos, é doutor em teologia e doutorando em sociologia. É professor do Instituto Superior de Teologia Luterana e pastor colaborador na Igreja Confessional Luterana.

 

Retirado de http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3&registro=819&pagina=3, em 20/10/08

 

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Carta ao Luigi

São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008



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RUBEM ALVES

Carta ao Luigi


Muitas pessoas, ao saber das suas aventuras, das brigas com os perigos, vão dizer: "O Luigi é o meu herói favorito!"

A SÍNDROME DE Werdnig-Hoffman é uma doença genética raríssima, sem cura, mortal, também conhecida como atrofia muscular espinhal. As crianças que são vítimas dessa síndrome raramente atingem um ano de idade.
Eu conheço um menininho que é vítima dessa doença. Tem quatro anos e meio e vive permanentemente na cama, cheio de tubos e fios que cuidam que suas funções vitais sejam mantidas. Seu quarto é uma UTI. Ele é cuidado 24 horas por dia por uma equipe de enfermeiros e parentes. Sua diversão é ver televisão, deitado na sua cama. Seu herói favorito é o Tarzã.
Seus pais e avós resolveram escrever um livrinho contando a vida do Luigi e me pediram que escrevesse a apresentação. Foi isso que escrevi:

Meu querido Luigi, menininho valente que gosta de viver!
Seu pai e sua mãe me contaram que o Tarzã é o herói de que você mais gosta.
Quando eu era menino, eu também gostava do Tarzã. Ele era um homem forte, diferente de todos os outros, morava na selva, no meio das árvores e dos bichos. O que me dava mais inveja no Tarzã era quando ele, lá num galho de uma árvore muito alta, se agarrava num cipó e balançava para outra árvore!
Mais do que isso, ele entendia a língua dos bichos. Quando ele estava em perigo, dava um grito terrível que todos os bichos ouviam. E eles, os bichos, elefantes, leões, macacos, vinham correndo para salvá-lo. Eu gostava de ver os filmes do Tarzã e ver as revistas que contavam as suas aventuras.
Pois agora esse livrinho vai contar a sua estória. Nessa estória, o herói é você. Todas as pessoas que o lerem vão ficar sabendo das suas aventuras no meio dos perigos. Porque você vive no meio de perigos! E o mais importante: você não tem medo! Você não foge! Você enfrenta os perigos, briga e vence feito o Tarzã. Muitas pessoas, ao saber das suas aventuras, das suas brigas com os perigos, vão dizer: "O Luigi é o meu herói favorito!".
O Tarzã vivia na floresta de árvores e tinha os animais como seus amigos. Você, diferentemente do Tarzã, vive no meio de outros perigos e os seus amigos nas brigas não são bichos, mas máquinas amigas que ajudam você a vencer as batalhas para continuar a viver.
Sei que você gosta muito de viver. Sabe por quê? Porque você ri. E quem ri tem alegria! Você é um menininho alegre, a despeito dos perigos. E, quando você ri, todo mundo ao seu redor ri também. O seu sorriso espalha alegria por aqueles que estão perto de você.
E agora eu quero lhe contar um segredo... Não sei se você vai entender, mas os grandes entenderão. A vida da gente não se mede pela quantidade de anos que se vive. A vida da gente se mede pela quantidade de alegria que se distribui. Todas as vezes que você enfrenta um perigo, briga e vence, é uma alegria! Todo mundo fica feliz!
Agora eu lhe desejo bons sonhos... Sonhos com o Tarzã, elefantes, macacos e leões! Mas você não terá medo porque eles são amigos. Sonhos de que você está lutando contra inimigos terríveis sem um pinguinho de medo! E, ao fim dos sonhos, depois da sua vitória, todas as pessoas que você ama irão rir de felicidade.
Só de pensar em você eu estou sorrindo.
Um beijo do vô torto,
Rubem Alves

reprodução autorizada pelo autor

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Apelo de Santo Agostinho

"Normalmente, mesmo um não cristão sabe alguma coisa sobre a terra, os céus e outros elementos deste mundo, sobre o movimento e a órbita das estrelas e mesmo seus tamanhos e posições relativas, sobre eclipses previsíveis do dol e da lua, os ciclos dos anos e das estações, os tipos de animais, arbustos, pedras, e assim por diante. Tais conhecimentos ele sustenta, tendo-os como certos por contada razão e da experiência.

 

Agora, é algo vergonhoso e perigoso para um infiel ouvir um cristão que tira conclusões precipitadas a respeito do sentido das Sagradas Escrituras e diz bobagens sobre esses tópicos; e devemos empregar todos os meios para evitar esse tipo de situação constrangedora, na qual as pessoas mostram se vasto desconhecimento sobre os cristãos e fazem pouco deles.

 

 É muita vergonha, não porque um indivíduo ignorante é ridicularizado, mas porque as pessoas que não conhecem a religião acham que nossos sagrados escritores sustentam tais opiniões e, infelizmente para aqueles por cuja salvação trabalhamos arduamente, os autores de nossas Escrituras são criticados e rejeitados como se fossem homens ignorantes. Se encontrarem um cristão cometendo um erro em um campo que eles conhecem bem e o ouvirem defendendo suas opiniões idiotas sobre nossos livros, como acreditarão nesses livros e em assuntos referentes à ressurreição dos mortos, à esperança de vida eterna e ao reino dos céus, quando pensam que suas páginas se acham cheias de falsidades sobre fatos que eles aprenderam pela experiência à luz da razão?"

 

Santo Agostinho, Comentário ao Gênesis, 19:39, segundo Francis S Collins in A Linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que Ele existe, pg 162-3, Editora Gente, São Paulo, SP, 2007

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Bens e Bênçãos



Data da impressão: 13 de outubro de 2008

Reprodução permitida. Mencione a fonte.
www.ultimato.com.br
Colunas — Ponto final

Rubem Amorese

Procurou-me, recentemente, um jovem irmão inconformado com sua sorte. Crente novo, esforçado e ávido por crescimento espiritual, não conseguia entender a razão por que Deus não o abençoava muito com bens materiais. 

Servidor público, esposa por conta dos filhos pequenos, trabalhando de dia e estudando de noite, ele levava uma vida dura, mas não era exatamente um necessitado. No entanto, achava que, comparativamente a outros irmãos "na mesma faixa", estava sendo deixado para trás por Deus. 

Perguntei-lhe por que pensava assim. Ele apontou alguns amigos comuns. Um lhe dissera que estava comprando um carro novo, enquanto o seu já estava bem batido; outro dera entrada no apartamento da família, e ele ainda morava de aluguel; outro, ainda, estava chegando de viagem ao exterior, com toda a família, coisa que ele nem podia considerar, por enquanto. Disse que podia citar muitos outros exemplos. 

Fiquei pensando na frustração do irmão. No momento, disse-lhe que não devia se comparar com seus irmãos, pois as circunstâncias de vida eram diferentes. Que confiasse na justiça e no amor do Pai. Mas ele me respondeu: "O que custa a Deus me dar também um pouquinho de seu ouro e de sua prata?" Não pude deixar de notar uma pontinha de inveja e inconformismo. 

Fiquei com a perplexidade do irmão no coração. Então, passei a observar mais de perto os exemplos que ele apresentara, pedindo a Deus que me ajudasse a discernir o cenário. 

Desde então, tenho aprendido que é tarefa elevada demais, tanto para o irmão quanto para mim, buscar uma resposta para essas diferenças. Se Deus dá cinco talentos a um, dois a outro, e um ao terceiro, "segundo a sua própria capacidade" (Mt 25.15), que posso dizer? Isso apaziguou meu coração. Deus sabe! 

No entanto, não foi de todo infrutífera a observação sistemática dos "exemplos de sucesso". Descobri que aquele que comprara o carro luxuoso tivera ajuda do sogro, que queria ajudar a filha, e não necessariamente o genro. O que financiara um apartamento contraíra uma dívida de 25 anos, no limite de sua capacidade máxima de endividamento, e dera de entrada o carro que a esposa trouxera para o casamento, passando a família a andar de ônibus e metrô. O que viajara à Disney levara crianças pequenas demais para apreciar a viagem e ainda se endividara por doze meses, período este em que "não poderia nem pensar em ofertas à igreja". 

Esta última observação me pareceu gratuita, a princípio, mas levou-me de volta ao irmão frustrado para perguntar-lhe como entendia a questão de dízimos e ofertas. Ele me disse que isso era "acordo fechado" na vida do casal: "Primeiro o Senhor; depois as despesas". Surpreso e curioso, voltei aos nossos "abençoados" e descobri que só ofertavam "quando a situação permitia", ou seja, raramente. Que contraste! 

Mesmo sem respostas finais, já tenho uma pergunta a fazer ao irmãozinho: Será realmente abençoada uma alma incapaz de ofertar ao Senhor? Será que esses bens são, de fato, bênçãos? "Melhor é o pouco, havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro onde há inquietação" (Pv 15.16). 


Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia, Meta-História — a história por trás da história da salvação e Icabode — da mente de Cristo à consciência moderna.
ruben@amorese.com.br

publicado na Revista Ultimato n 307, julho-agosto 2007
 

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética rascunho II

A atividade científica ocorre sobre bases não experimentais, aceitas sem serem submetidas ao princípio metodológico da dúvida:
  • a uniformidade e constância da natureza
  • a verdade global é uma mera soma das verdades parciais.
  • a adoção de uma visão da natureza do homem
  • objetivos finais de sua atividade
  • valores do ambiente em que é desenvolvida
  • restrições mentais inevitáveis (como a escolha dos dados a serem considerados e a serem descartados)
  • suposição de que o investigador encontra-se separado do mundo ao qual o objeto de sua análise pertence
  • suposição de que é possível separar do seu contexto o objeto em análise sem destruir-lhe a individualidade

A atividade religiosa supre uma demanda humana que a científica não logrou completar: o sentido da dor e da morte, o mal no mundo, a justiça e a liberdade.


Quais são as razões dos conflitos?
a associação com o poder
o monopólio da verdade
o desejo da onisciência
a incapacidade de lidar com o novo
a necessidade da ausência da dúvida que angustia
o desejo pela heteronomia

O Ser Humano:
supostamente o único animal racional, mas:
  • fisicamente fraco (força, agilidade, pele)
  • moralmente constituído
  • em eterna falta
necessita de defesas contra:
  • o clima (roupas)
  • as intempéries (habitação)
  • doenças (medicamentos)
necessita de:
  • relacionamento interpessoal para se constituir enquanto pessoa => regras de convivência
  • harmonizar as regras de convivência com seus desejos =>moral
  • solucionar conflitos não previstos pela moral => ética
  • satisfazer sua fome de saber => estudo

Ciência e fé respondem, em seus campos, às diferentes necessidades humanas fundamentais, de modo não intercambiável. Fé não constrói casas e matemática não explica o mal no mundo.

3. Bioética
Primariamente, atividade reflexiva voltada para a análise da ação do homem sobre si mesmo e sobre o mundo no qual vive
Secundariamente, como consequência desta reflexão, pode fornecer subsídios para a construção da moral

Ferramentas:
  • conhecimento humano acumulado =>multidisciplinaridade
  • não é limitado por nenhum conhecimento específico => transdisciplinaridade
  • reflexão e debate => resgate da busca do conhecimento pelo uso da razão pura

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O País errado

Mark Carpenter

Estou no Brasil há mais de quarenta anos, e tenho a impressão de estar no país errado. Meus pais me trouxeram para cá de navio. Meu pequeno pé pisou pela primeira vez em solo brasileiro em plena Era JK. Tudo era possível. Até o cinismo individualista herdado dos portugueses parecia não resistir ao otimismo que varria a nação. Mas o ufanismo durou pouco, e a brusca volta à realidade doeu tanto quanto a frase de Charles de Gaulle: "O Brasil é o país do futuro, e sempre será".

Estou no país errado porque trabalho com livros onde pouco se lê. Administro uma editora de acordo com a lei, e por isso sou tido como exótico e ingênuo. Estou no lugar errado porque insisto em achar que as pessoas anelam sabedoria, mas o que elas preferem mesmo é diversão.

Ainda bem que não estou só. Trabalho rodeado de pessoas que padecem do mesmo mal: vontade de fazer diferença em um país que tem muito de errado. Talvez fôssemos todos mais felizes em um lugar em que nosso trabalho fosse reconhecido. Um lugar bem longe daqui.

Quanto mais vivo aqui, mais vou conhecendo gente que compartilha dessa sensação de desconforto. Alguns escrevem livros a respeito, na esperança de que ainda haja quem sonhe e anseie por algo diferente. São esses os livros que editamos, e que acabam atraindo leitores que também se sentem estrangeiros em sua própria terra.

Quando viajo para outros países — inclusive para aquele onde nasci — encontro outras pessoas que também se sentem no lugar errado. Possuem em comum a certeza de serem diferentes, estrangeiras, alienígenas, tão estranhas quanto o foi Jesus. De fato é impossível imaginar alguém tão fora de lugar: Deus encarnado num corpo de homem, andando sobre um planeta cheio de desespero, tragédia e morte. Mas foi exatamente o desmérito deste mundo que fez com que o propósito de Jesus ficasse claro. O que Ele representava transformou o lugar errado em palco perfeito para a sua atuação.

A causa de Cristo nunca brilha tão intensamente quanto o faz no lugar onde é mais necessária. Para quem conhece aquilo que fazia pulsar o coração de Cristo, permanece uma certeza — estamos de fato no país errado, no mundo errado. O que há de equivocado nessa terra é justamente o que virou de pernas para o ar quando o primeiro homem rejeitou o Criador. Aquele ato transformou nosso lar num lugar hostil. Agora a melhor esperança para este lugar inóspito é gente que leva adiante a mensagem de Cristo, que compartilha da percepção de que este não é nosso lar e de que a vida só começa a fazer sentido quando encarada como missão.

Meu pai viveu dezenove anos no Brasil. Depois de sair daqui, viajou para mais de cinqüenta países. Aposentou-se nos Estados Unidos. Na última vez que conversamos, tempos antes do acidente que tirou-lhe a consciência, ele me confidenciou um desejo — fazer do Brasil o seu descanso final. Queria que suas cinzas fossem trazidas para cá, para este país errado que foi alvo dos melhores anos de sua vida ministerial e, portanto, para ele tornou-se o melhor lugar da terra.


Mark Carpenter é diretor-presidente da Editora Mundo Cristão e mestre em letras modernas pela USP.

Revista Ultimato número 307 - julho/agosto 2007
Colunas — Arte e cultura

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética rascunho 1

Quem são estes atores:

1. Ciência
primariamente, atividade investigativa voltada para a sobrevivência no mundo exterior, para o conforto (ou mitigação do sofrimento) e para a realização pessoal (pela música, pintura, literatura)
investiga o mundo natural:
  • como é
  • como funciona
  • como relaciona
buscando saber como transformá-lo.

secundariamente, especula, como que por um deslize de sua atividade-fim, "como existimos"?

ferramentas:
  • os cinco sentidos naturais ampliados tecnologicamente, notadamente a visão (microscópio, ultrasom, sonar, radar, ressonância magnética, p. ex.)
  • as ciências matemáticas, que buscam demonstrar a ordem supostamente existente no mundo e a sua hierarquia de valores; descrevem as características do objeto em estudo (em termos matemáticos), suas interrelações e seu funcionamento
  • a experimentação (empirismo), onde o observado e/ou imaginado é testado quanto a sua não-refutabilidade (os experimentos não provam que tal hipótese seja verdadeira, mas somente que ela não é falsa)
  • a imaginação, que permite propor relações recíprocas, buscar saídas para questões em aberto, propor novos modelos

2. Fé
primariamente, atividade significante voltada para a constituição do ser: senso de pertença, de propósito; vínculos de lealdade; valores éticos e morais. Executada através da investigação de textos sagrados ou sobrenaturais, através de regras hermenêuticas predeterminadas

ferramentas:
  • os cinco sentidos naturais ampliados pela sofisticação intelectual, notadamente a visão
  • ciências hermenêuticas, que buscam entender o texto divino / sobrenatural, atualizando-o e contextualizando-o, seja para reafirmar seus valores absolutos presentes à época da redação (rejeitando o progresso), seja para submetê-lo às regras deduzidas por analogia ou semelhança
  • discussão acadêmica de novas atualizações e contextualizações
  • a imaginação, que permite a concretização de uma idéia antiga no mundo contemporâneo

Semelhanças entre a ciência e a fé:
  1. são atividades racionais
  2. com campos de atuação bem delimitados
  3. que dispõe de estruturas de poder (que determinam o que é heresia religiosa ou fato científico) correta ou incorretamente utilizadas
  4. e que formam grupos de párias e excluídos
  5. lidam com uma grande maioria de não compromissados, usuários apenas do senso comum religioso / científico, sem participação ativa na construção da fé ou da ciência (acríticos, vítimas de "crendices" ou "superstições")
  6. assim como com aproveitadores políticos e charlatões religiosos (entendidos como aqueles que conscientemente usam um ou outro inescrupulosamente buscando unicamente vantagens pessoais em detrimento dos outros ou do bem comum)
  7. ambas são atividades que buscam, de algum modo, a felicidade do ser humano
  8. movidas pelo assombro perante o mundo exterior (a natureza física) e o mundo interior (a complexidade das paixões humanas)

As dissonâncias entre ambas (e não são somente entre elas, mas entre diversos conhecimentos provindos de campos do saber científicos - p. ex, física clássica e física quântica):
  1. a linguagem usada
  2. a pretensão do conhecimento buscado
  3. as definições de realidade
  4. as modalidades de experiências

domingo, 5 de outubro de 2008

Um crente bonzinho + um crente bonzinho + um crente bonzinho não fazem um país bonzão

Parece que foi ontem. Nos anos 80 os evangélicos eram 5% da população e, hoje, falamos em alto e bom som em algo próximo a 20%. Bem, o país não melhorou tanto assim e, se melhorou, é difícil constatar que se deve ao crescimento do número de evangélicos.

Talvez essa idéia venha da crença de que, por exemplo, os Estados Unidos são o que são porque são um país de crentes. Bobagem. Se tal raciocínio é válido, devemos explicação para o caso do Japão, da Arábia Saudita, entre outros. Ou, como nos lembra Paul Freston, essa idéia fixa se deve a um certo messianismo, que é próprio dos cristãos -- não sem razão -- e nos leva a repetir frases como "só Deus pode salvar o Brasil" e coisas do gênero. É bom ter cuidado. Quando ouvimos "só Deus", muitas vezes querem nos dizer "só os evangélicos".

Pensando bem, se o meu carro ou o vaso sanitário da minha casa apresentam algum defeito grave, eu nunca pergunto ao mecânico ou ao bombeiro hidráulico a sua filiação religiosa antes de contratá-lo para os reparos de praxe. Aliás, nem posso dizer se ele é ateu, macumbeiro ou testemunha de Jeová. Meus critérios são outros, a saber, a sua habilidade e experiência em lidar com carro velho ou entupimentos pouco amigáveis.

Por que não fazer o mesmo ou usar critérios semelhantes -- no caso, critérios políticos -- no processo político-eleitoral? Afinal, não estamos escolhendo pastores ou diáconos para as nossas igrejas. Agora, se você quer saber se "irmão vota em irmão"... Depende do irmão.

Marcos Bontempo, editor. www.ultimato.com.br
reproduzido de http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=1&registro=821

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Direitos Fundamentais e Fé Reformada (liberdade, dignidade e cidadania) e Sua Aplicação aos Povos Indígenas Brasileiros

Dissertação apresentada no Centro Evangélico de Missões em 06/08/2007

Aluno: Jedeías de Almeida Duarte
Banca Examinadora:
Ms. Amarildo Lourenço Costa – Orientador
Drª. Antônia Leonora van der Meer - CEM
Dr. Delly Oliveira Filho - UFV

Resumo:
Esta dissertação debruça-se sobre a relação entre direitos fundamentais e Fé Reformada, analisando-a por três ângulos: no primeiro, observa-se como o Estado brasileiro trata da questão da liberdade, da liberdade religiosa, da liberdade de consciência e de como os nossos diplomas legais e juristas concebem os direitos e as garantias a todos os cidadãos brasileiros; no segundo, observa-se a Fé Reformada sob a ótica teológica da Bíblia Sagrada, dos documentos da Reforma Protestante e de escritores vinculados de alguma forma com a Fé Reformada, observando-se, ainda, os preceitos missiológicos quanto à liberdade, quanto à dignidade e quanto à cidadania, estabelecendo que aplicabilidade de tais preceitos e a sua extensão na vida holística do homem acontecem como um ato da graça de Deus, extensivo a todos quantos Ele ama.
Por fim, examina-se como fruto da história a aplicação dos princípios reformados entre os povos indígenas, na Missão da Igreja Cristã Reformada (1630-1645) e com a Igreja Presbiteriana do Brasil (1928-2007).
A pesquisa acerca dos direitos fundamentais limitou-se à liberdade e dignidade e ao exercício da cidadania, focando-se, também, a cosmovisão teológica reformada e, da mesma forma, nos períodos históricos estudados, observando, a contribuição presbiteriana para este assunto.
Pode-se afirmar que através da legislação brasileira é possível assegurar aos povos indígenas todos os direitos fundamentais exarados na Constituição Federal. Também é possível assegurar a plena liberdade espiritual, a dignidade em Cristo e a cidadania eterna a todos aqueles que, em todas as nações, inclusive indígenas, foram remidos por Cristo.
Por fim, é possível apontar que a fé cristã reformada, aplicada na sua integralidade no ambiente indígena, contribuiu para que o exercício dos direitos fundamentais e espirituais trouxesse qualidade de vida sem subtrair os valores culturais oriundos da imago Dei.

E-mail: revjedeias@gmail.com

 

Disponível em http://www.cem.org.br/