terça-feira, 28 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética III

A CIÊNCIA

 

A ciência, como a conhecemos atualmente, é prioritariamente uma atividade investigativa voltada para a sobrevivência, para o conforto e para a realização. Sobrevivência e conforto são autoexplicativas. Realização merece um comentário. Música, literatura, artes e arquitetura são atividades investigativas - todas são aceitas pela academia como ciência. E são meios de expressão que colorem a existência. Quando investiga o mundo natural a ciência pergunta como ele é, como funciona, como suas diversas partes se relacionam e, de modo prático, como fazer de modo eficiente e seguro.

 

Suas ferramentas são os cinco sentidos naturais, notadamente a visão e a audição, ampliados tecnologicamente, que permitem observar (microscópio, ultrassom, sonar, radar, ressonância magnética, etc). A matemática, que permite descrever , calcular e prever. O empirismo, que permite testar o imaginado e previsto a partir do observado, demonstrando que a hipótese não é falsa (ao contrário do que se pensa, a experimentação não prova a verdade, mas apenas a não-falsidade). A inspiração, que permite fazer interrelações, buscar saídas e propor novos modelos.

 

É curioso o uso de expressões como "a ciência diz que..." ou "a ciência comprova que...". No primeiro caso, vemos a interferência da religiosidade inerente em uma atividade que adota, como princípio básico, a dúvida como método permanente de trabalho. A atividade investigativa não existe enquanto ser ou unidade autônoma; portanto, não tem opinião própria. Nada sabe, nada fala, nada aponta. É apenas um imenso banco de dados acumulativos e contraditórios onde se buscam recursos para a compreensão do mundo natural. A visão do cientista é que fala, a certeza é a certeza dele.

 

No segundo caso, a  comprovação da veracidade da hipótese, se constitui no equívoco mais comum em relação a atividade científica. A ciência constroi modelos explicativos da realidade (e modelo não é a realidade) que sobrevivem a sucessivos questionamentos. Sua veracidade jamais é comprovada; sua não falsidade é que se demonstra.

 

A atividade científica acontece sobre bases não experimentais, aceitas sem serem submetidas ao princípio metodológico da dúvida: a uniformidade, a ordem e a constância da natureza; a verdade global nada mais é que a soma das verdades parciais; os critérios para a aceitação ou rejeição dos dados; a inserção do pesquisador no mundo real que ele mesmo pesquisa não interfere na sua neutralidade.

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