sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética I

Semana da Esperança

Universidade Federal de Viçosa

31/10/08

 

INTRODUÇÃO

 

Fui solicitado a abordar o tema deste momento, "Fé que pensa, Razão que crê", focando uma questão de poder: quando se trata de uma questão ética, ou bioética, quem tem a última palavra? a ciência? a religião?

 

Falar de ciência e fé é percorrer todo o meu histórico pessoal, e acredito que, em alguma extensão, o histórico de todos aqui presentes. No meu caso, sofri durante anos com a questão "ciência X fé". Ponderei, durante um bom tempo, em desprezar esta, e tudo o que ela significa, e abraçar aquela. Mas não trilhei este caminho motivado por questões acadêmicas; meu estímulo era muito mais egoísta, pessoal; dizia respeito a toda a subcultura na qual fora criado, que abraçara na adolescência com grande sofrimento e dúvida, mas que dera significado ao mundo e a minha existência. Minha demanda interna por certo nível de coerência obrigou-me a olhar ambas e perguntar-lhes: "e agora, o que eu faço com vocês?"

 

Preparando-me para estar aqui percebi que sou capaz de divagar sobre o tema bem mais do que imaginara possível, tal o seu significado. A tarefa dada é bem mais difícil: como sintetizar nestes minutos um assunto tão apaixonante para mim, focando-o na rixa em relação às questões bioéticas, sem induzi-los ao sono e ao desinteresse?

 

Navegando em minha biblioteca real, além da vasta disponível em bytes, percebi que não há consenso sobre o assunto. Entre os sítios da rede dedicados ao tema há o do Instituto Ciência e Fé, um grupo bem ecumênico (tanto do ponto de vista universitário quanto religioso) que discute academicamente esta temática há cerca de 10 anos. Foi realizada uma pesquisa entre seus membros por Luiz Henrique Z. F. de Macedo cujo resultado me surpreendeu. O meu "pré-conceito" dizia que, em uma instituição de tal idade, uma harmonia entre a ciência e a fé já teria sido alcançada, e a minha tarefa junto a vocês estaria mais fácil. Nada mais longe da realidade. No sumário disponibilizado do trabalho temos as seguintes posições:

-      cientistas

*         o diálogo entre os dois serve para que surja "uma fé racional", deixando de lado o literalismo bíblico (dito de outra forma, a ciência coloca limites naquilo que é possível crer)

*         a fé tenta explicar os fatos naturais misticamente...o diálogo é necessário para tornar a fé menos obscura (será que a professora mirava o comportamento violentamente radical de algumas confissões religiosas?)

*         a ciência está fechada para outros saberes...o diálogo entre ambas é não epistemológico (a fé não se constitui como conhecimento)

-      religiosos

*         os dois conhecimentos não podem chegar totalmente à verdade...aqui vemos um diálogo de mão dupla...o campo da bioética é um dos loccus deste diálogo (que é o nosso propósito nestes minutos)

*         enquanto a religião responde a seus problemas espirituais sozinha, a ciência não busca nenhuma referência na religião (ambas se bastam a si mesmas)

*         o diálogo só pode ocorrer no campo do entendimento, mas não no campo dos fundamentos... havendo conflito nos princípios que as duas podem pregar

 

Estas posições, editadas a partir do texto disponibilizado, não são as únicas, mas são uma amostra do que se pensa. E nós, o que pensamos? E eu, o que penso? E o que tem de relacionamento entre ética / ciência, ética / fé?

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