Eduardo Ribeiro Mundim
Há um antigo ditado: "quem conta um conto, acrescenta um ponto". Lembro-me que a primeira vez que o ouvi foi durante uma aula de língua portuguesa, no colégio. E ele foi apresentado com uma dinâmica que demonstrou quão facilmente ele se torna verdadeiro.
Nos dias atuais, a internete exponenciou o fenômeno: o que é publicado em um sítio, ou diário virtual ("blog"), facilmente é copiado e passado adiante. Ou, mensagens eletrônicas, às vezes sem pé nem cabeça, são repassadas com o título "só repassando".
Até que ponto tal comportamento é condizente com a postura madura?
A sociedade contemporânea parece que perdeu o medo das palavras. E o suposto anonimato providenciado pela rede mundial de computadores parece reforçar o conceito de que se pode dizer o que quiser, sem medo.
Não foi isto que vimos nas últimas eleições? Quanta mentira, ou falsas verdades, ou meias-verdades foram transmitidas e retransmitidas sem constrangimento e remorso? Quantos vídeos foram compartilhados sem que sua autenticidade fosse comprovada?
Há dois comportamentos preocupantes: o dos alarmistas, sempre prontos a denunciar ou alertar sobre uma maracutaia ou ameaça prestes a concretizar, e o dos fofoqueiros, aqueles que, sem analisar, repercutem as mesmas denúncias e alertas.
Há mais de vinte anos ouvi um pregador emitir um juízo sobre este tipo de denúncia: serviço ao diabo, pelo qual ele, humildemente, agradece.
É diabólico quando o fato (o crime ou a ameaça) não é corretamente descrito, verdadeiramente relatado e apresentado com análise de mais de um ponto de vista. É diabólico quando o fato se torna um fim em si mesmo - passa a ser debatido à exaustão, conferindo aos participantes a certeza de terem lutado por um mundo melhor... E Satanás observa, e ri com seus botões, satisfeito por manipular os filhos de Eva com tanta facilidade! Ele não deseja que a verdade apareça (pois é o pai da mentira), que os mecanismos que deram à luz o fato sejam elucidados, enfrentados, modificados (pois então o fato não mais se repete). A ele, inimigo de nossas vidas e de nosso mundo, interessa a confusão, a paralisia da ação corretiva, o emburrecimento do senso crítico.
Imagino os espasmos de prazer que ele tem (será possível ?!) ao manipular cristãos de qualquer denominação neste serviço. Se você tem o hábito de ir a internete, já deve ter presenciado algum fato como o que aqui descrevo.
Como evangélico me envergonho de encontrar ausência do espírito bereano (os cristãos de Bereia não aceitaram nada baseado na autoridade de alguém, mas exclusivamente pela pesquisa nas Escrituras) entre nós. Envergonho-me ao ver líderes se digladiando publicamente, sem preocupação com o outro, com palavreado e/ou tom de voz que imaginava pertencer ao submundo. Envergonho-em de, às vezes, cair na mesma armadilha.
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