segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O limite ao consumismo

Pablo Bastos

Transpor limites, vencer obstáculos, superar adversários e extrapolar barreiras são expressões muito utilizadas como estratégias para atrair pessoas a consumirem. A todo tempo estamos em contato com um mundo que nos desafia a ir além, mas esta promessa não nos diz além de que, ou onde, buscamos ir, e tão pouco nós mesmos o sabemos. Já falei outras vezes sobre a dinâmica do desejo, que jamais acaba em alguma realização, sempre há um porvir, algo maior a ser buscado, outro limite a ser superado! E, assim, acabamos por esquecer a justa importância dos limites. Algumas coisas simplesmente demandam um ponto máximo de alcance, e o maior dos exemplos é a vida, evidentemente todos nós ansiamos pela vida eterna, mas Deus estabeleceu ponto final à vida de todos nós, aqui na Terra, e devemos aceitar isto da melhor forma possível.
Os caminhos e o mundo estão ganhando formas circulares, que nos conduzem a acreditar determos o poder de enganar o fim, ao o emendarmos em um novo começo. Isto se reproduz em momentos simples do nosso dia a dia, exemplo disto é que não há mais um filme de sucesso lançado na última década que não tenha uma continuação. Os finais deixaram de ser esperados com grande expectativa pelo encerramento, e deram lugar à ansiedade pela continuação. O fim que tanto nos assombra tem sido ocultado por pessoas que desejam vender, e para isto fazem insinuações que convergem com o nosso desejo em não termos limites, mas as pessoas veladamente do luto! O homem deseja com todas as suas forças não ter limites, seja limite de poder, do cartão de crédito ou de chances de fazer algo melhor e principalmente que a sua vida não tenha limites, pois assim pode ignorar a sua impotência inata diante do inevitável fim. Mas não adianta fugir, está escrito na Palavra que nós tornaremos à terra, ao pó, ainda que passemos toda a nossa vida ignorando esta máxima: “no suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.” (Gênesis 3:19)
O consumo desenfreado está relacionado à tentativa de ocultar a inevitável chegada do término, revelando ansiedades e causando angústias de desejo e busca. Mas acontece que vivemos em um planeta onde os recursos, diferente do que dizem as promessas de satisfação eterna e incondicional, são esgotáveis e devemos sim nos preocupar com isto, pois o fim dos recursos está evidentemente ligado ao nosso fim. Os impactos da falta de limite, do conforto e do consumo acima do meio ambiente tem se mostrado lentamente, já se sabe que o mundo funciona de uma forma relacional, ações isoladas produzem conseqüências globais. Eu não vou negar que os limites, bem como o luto, também não me agradam muito, todos desejamos uma infinitude de coisas, trazemos permanentemente conosco a idéia de que é melhor sobrar do que faltar, mas ignoramos que o fato de sobrar, hoje, pode provocar a falta no futuro. Comprar é algo muito bom, gratificante, e movimenta a economia do país, mas devemos ser responsáveis e conhecer os pontos que não convém ultrapassar, pois assim acabamos quebrando uma harmonia que há entre nós e o lar que Deus nos deu. Antes do consumo, devemos pensar no cuidado, o primeiro passo é a reflexão e em seguida pode-se pensar em outros fatores como a reutilização, a reciclagem e a redução do consumo, portanto façam esta reflexão e pergunte-se se o mundo está se transformando conforme você gostaria, pergunte-se também se suas ações são justas, diante do presente recebido por Deus para você cuidar.  

Pablo F. Bastos Ribeiro, Estudante de Psicologia da PUC Minas e Moderador da União de Jovens da Segunda Igreja Presbiteriana


publicado no Boletim da Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte em 21/11/10

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