segunda-feira, 7 de maio de 2012

O que a bíblia realmente diz sobre a homossexualidade

PARTE 2: CRÍTICAS

Eduardo Ribeiro Mundim


Moralidade e soberania divina

Até onde Daniel está disposto a deixar Deus ser deus, e estabelecer Suas normas, sejam elas quais forem? À página 39, ele parece deixar a sugestão de que a natureza, tal como a vemos e interpretamos deveria ser a fonte da moral, ou a razão humana. As experiências totalitárias, sejam de que matiz forem, demonstraram não ser, nenhuma das duas, isoladamente, fontes seguras para a felicidade humana. E, por outro lado, a razão opera sobre conceitos prontos. De onde eles viriam?

Sodoma e Gomorra

É absolutamente de acordo com o texto de Gêneses afirmar que as duas cidades não foram destruídas em função do suposto homossexualismo de seus habitantes.

É absolutamente forçado afirmar que a destruição se deu em função da falta de hospitalidade dos habitantes. O autor deixar claro, logo ao início do episódio, que a destruição era decidida, em função da iniquidade deles ter atingido proporções insuportáveis. Quais iniquidades? O texto não menciona, mas as Escrituras espalham, nas referências que Daniel selecionou, várias delas. E nenhuma delas, seja de caráter pessoal, social, econômico ou sexual é eleita como principal.

No meu texto "homossexualismo, Sodoma e Gomorra" minha visão do episódio é mais destrinchada e debate, ponto a ponto, as opiniões de Helminiak.

A abominação de Levítico

Não estou bem certo que as conclusões que ele apresentam estejam em sintonia com o texto do próprio livro de Levítico.

Se aceitarmos a tese de que o adultério era um crime contra a propriedade de alguém, porque este seria o único crime patrimonial punido com a pena capital? Todas as impurezas, no código de santidade desta seção de Levítico, de caráter sexual, são objeto de pena capital. Por quê?

Daniel conclui que a questão da pena de morte para o homem que se deitar com outro homem é mera questão religiosa, e não moral ou ética (pg 51). Mas não é possível ver com clareza seu raciocínio.

Ele marca um ponto importante ao discutir o termo "abominação", mas reler todo o texto calcado apenas neste ponto não permite desvincular religião de moral/ética. Ainda que atraente, a tentativa de separar estes conceitos não é bem sucedida.

O texto de Romanos

A análise feita pelo Daniel fica prejudicada pelo fato dele relacioná-la aos textos de Levítico, ignorando o contexto claramente condenatório do arrazoado paulino.

A tentativa de apontar aspectos estoicos na redação de Paulo fica na metade do caminho - faltaram as evidências.

E fica, nas entrelinhas, que o apóstolo usou, nesta carta, de retórica em excesso - ou, que o que escrevia não era para ser levado textualmente. Mas faltam as evidências.

Coríntios e Timóteo

Novamente a questão etimológica é apresentada, e é importante a dificuldade na tradução dos termos gregos "arsenokoitai" e "malakoi" - termos que o Dicionário de Teologia do Novo Testamento (edição de 1984) não estuda.

E de termos tão difíceis, ele faz afirmativas categóricas - o que ele mesmo levanta como pouco plausível.

Demais colocações

Realmente as Escrituras falam pouco, explicitamente, do ato sexual entre homens, e nada do que entendemos hoje como homossexualidade. Aliás, é necessário até mesmo ser mais claro quando se diz "do que entendemos hoje como homossexualidade". Nada fala sobre ato sexual entre duas mulheres.

Mas é necessário ser cuidadoso com o silêncio das Escrituras - fato que, aliás, Daniel denuncia.

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