segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Fé, Ciência e Bioética II

RELIGIÃO E FÉ

 

Vou tentar expor o caminho do meu raciocínio. Antes, quero fazer uma distinção arbitrária entre religião e fé.

 

Chamarei religião aquela atitude muito humana, e aqui cito Rubem Alves no seu livro "O que é religião", que é a "marca de todas as religiões, por mais longínquas que estejam umas das outras: o esforço para pensar a realidade toda a partir da exigência de que a vida faça sentido". Esta postura parece ser universal, e característica da humanidade. Não há homem ou mulher que não seja religioso, porque todos tem de dar um sentido à vida que vivem! Os psicanalistas estudam desde Freud, Jung e outros aquela Ausência (com A maiúsculo) que habita em todos nós, e, segundo o mesmo Rubem Alves, religião são mundos que construímos, às vezes mágicos e encantados, e seu estudo "longe de ser uma janela que se abre apenas para panoramas externos, é como um espelho em que nos vemos".

 

Fé, por outro lado, entendo como qualquer sistema organizado de crença que busque dar sentido a existência, que tenha nome e identidade, e que imponha àqueles que o abracem limites à magia e ao encantamento citados por Rubem Alves, assim como ao modo de hierarquizar valores e aos esquemas de tomadas de decisão.

 

Não é necessário abraçar uma fé para ser religioso - todo ser humano o é, mesmo que não acredite nisso. Mas aquele que se identifica como cristão, por exemplo, impõe a si mesmo uma história, uma tradição, uma Escritura e um modo de lê-la e aplicá-la a realidade do mundo de hoje. Vida mais fácil tem aquele apenas religioso, que vive seu próprio mundo mágico, sem compartilhá-lo, muitas vezes dando novos rótulos a velhas fantasias, e aos profetas novos nomes. Não deve lealdades explícitas; não tem fraternidade que pode colocá-lo em situações delicadas, tanto no passado quanto no presente; é livre para criar seu mundo mágico a sua imagem e semelhança.

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