domingo, 22 de fevereiro de 2009

Diário de Wesley, Janeiro de 1736

Quinta-feira, 15 de janeiro de 1736. Sendo reclamado ao Sr. Oglethorpe, da distribuição desigual da água entre os passageiros, ele nomeou novos encarregados para esta função. Diante disto, os antigos encarregados e seus amigos muito se irritaram conosco, a quem eles atribuíam a mudança. Mas “a cólera do homem redundará em teu louvor.”

Sábado, 17. Muitas pessoas ficaram muito impacientes com o vento contrário. Às sete da noite elas foram silenciadas por uma tempestade. Foi intensificando cada vez mais até as nove. Perto das nove o mar rebentou sobre nós da proa à popa; irrompia pelas janelas da state cabin, onde três ou quatro de nós estávamos, e nos cobriu todos, embora uma escrivaninha tenha me protegido do impacto principal. Perto das onze me deitei no grande camarote, e em pouco tempo já estava dormindo, embora bastante duvidoso se despertaria vivo, e muito envergonhado de minha indisposição para morrer. Ó, quão puro de coração deve ser aquele que se regozijaria em aparecer diante de Deus sem aviso prévio! Perto da manhã, “Ele repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se uma grande bonança.”

Domingo, 18. Agradecemos a Deus pelo nosso livramento, do qual poucos pareciam devidamente conscientes. Mas o restante (entre os quais estava a maioria dos marinheiros) negava que estivemos em perigo. Não dava para acreditar que tão pouco bem foi feito pelo pavor em que eles estiveram anteriormente. Mas não pode ser que aqueles que, insensíveis à persuasão do amor, obedeçam por muito tempo a Deus por causa do medo.

Sexta-feira, 23. À noite começou outra tempestade. Pela manhã ela aumentou, de forma que eles foram forçados a deixar o navio desgarrar. Eu não podia senão dizer a mim mesmo, “Como é que não tens fé?”, estando ainda indisposto a morrer. Por volta de uma da tarde, quase tão logo sai da porta do grande camarote, o mar não rebentou como de costume, mas atingiu sobre a lateral do navio com uma onda completamente silenciosa. Eu fui jogado junto com a água em questão de segundos e, de tão atordoado, dificilmente esperava levantar a cabeça novamente, até que o mar devolvesse os seus mortos. Mas, graças a Deus, não me feri nem um pouco. Por volta da meia-noite a tempestade cessou.

Domingo, 25. Ao meio-dia começou nossa terceira tempestade. Às quatro foi mais violenta do que anteriormente. Agora, de fato, podíamos dizer, “As ondas do mar eram poderosas, e devastavam terrivelmente. Elas se elevavam até aos céus, e” penetravam “até o inferno.” Os ventos uivavam ao nosso redor, em todas as direções, e (o que nunca tinha ouvido antes) assobiava de uma forma tão distinta que parecia voz humana. O navio não apenas chacoalhava para frente e para trás com a maior violência, mas sacudia e tremia com movimentos tão desiguais, agudos, que alguém não podia senão, com grande dificuldade, se segurar em alguma coisa, nem ficar de pé um momento sem ela. A cada dez minutos havia um impacto contra a popa ou contra a lateral do navio, que se pensava que iria quebrar as tábuas em pedaços. Nessa hora, uma criança, anteriormente batizada em particular, foi trazida para ser recebida na igreja. Veio em minha mente a compra do campo por Jeremias, quando os caldeus estavam a ponto de destruir Jerusalém, e parecia uma garantia da misericórdia que Deus planejou nos mostrar, ainda na terra dos viventes.

Gastamos duas ou três horas após as orações com conversas apropriadas à ocasião, fortalecendo uns aos outros em uma calma submissão à sábia, santa, graciosa vontade de Deus. E agora uma tempestade não parecia tão terrível como antes. Bendito seja o Deus de toda consolação!

Às sete fui aos alemães. Há muito tinha observado a formidável seriedade de seu comportamento. De sua humildade eles tinham dado uma prova contínua, desempenhando aqueles trabalhos servis para os outros passageiros, com que nenhum dos ingleses se ocuparia; pelos quais eles desejavam, e não queriam ser recompensados, dizendo, “Era bom aos seus corações orgulhosos,” e seu “afetuoso Salvador tinha feito mais por eles.” E todo dia lhes dava ocasião de mostrar uma humildade, a qual nenhum dano era capaz de mudar. Se fossem empurrados, golpeados, ou jogados ao chão, eles levantavam novamente e iam embora; mas nenhuma queixa era achada em sua boca. Havia agora uma oportunidade de testar se eles estavam livres do espírito do medo, assim como do orgulho, da ira, e da vingança. No meio do salmo com o qual seu culto começou, o mar rebentou-se, partiu a vela mestra em pedaços, cobriu o navio, e afluiu entre os conveses, como se o oceano já tivesse nos engolido. Uma gritaria terrível começou entre os ingleses. Os alemães continuaram cantando calmamente. Eu perguntei a um deles depois, “Você não ficou com medo?” Ele respondeu, “Graças a Deus, não.” Perguntei, “Mas suas mulheres e filhos não ficaram com medo?” Ele docemente respondeu, “Não; nossas mulheres e filhos não temem morrer.”

Deles eu fui aos seus vizinhos chorões e trêmulos, e lhes chamei a atenção para a diferença na hora da provação, entre aquele que temia Deus e aquele que não o temia. Às doze o vento diminuiu. Este foi o dia mais glorioso que eu já tinha visto.

Segunda-feira, 26. Aproveitamos a calmaria. Não consigo imaginar nenhuma diferença, comparável àquela entre um mar sereno e um agitado, exceto aquele que está entre uma alma tranqüilizada pelo amor de Deus e alguém ferido pelas tempestades das paixões mundanas.

Quinta-feira, 29. Por volta das sete da noite, nos deparamos às margens de um ciclone. A chuva, assim como o vento, estava extremamente impetuosa. O céu ficou tão escuro num certo momento que os marinheiros não podiam sequer ver as cordas, ou começar a dobrar as velas. O navio, provavelmente, teria emborcado, não tivesse o vento enfraquecido tão repentinamente quanto se intensificou. Ao fim, tivemos aquele fenômeno sobre cada um dos mastros que (imagina-se) os povos antigos chamavam Castor e Pólux. Era uma bola pequena de fogo branco, como uma estrela. Os marinheiros dizem que ela aparece, ou em uma tempestade (comumente sobre o convés), ou apenas no final dela, geralmente nos mastros ou nas velas.

Sexta-feira, 30. Tivemos outra tempestade, que não nos causou outro dano senão partir o traquete. Estando nossas camas ainda molhadas, me deitei no chão, e dormi profundamente até a manhã. E, creio, não julgarei necessário ir para cama (como ela é chamada) mais.

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Tradução: Paulo Cesar Antunes

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