quinta-feira, 5 de março de 2009

Diário de Wesley, março de 1736

Sábado, 6 de março. Tive uma longa conversa com John Reinier, filho de um nobre, que, sendo expulso da França, por causa de sua religião, estabeleceu-se em Vivay, na Suíça, e exerceu medicina lá. Seu pai morreu enquanto ele era criança. Alguns anos depois, ele disse à sua mãe que desejava deixar a Suíça e retirar-se para algum outro país, onde pudesse estar livre das tentações que não conseguia evitar lá. Quando finalmente conseguiu permissão de sua mãe, ele fez um acordo com um proprietário de uma embarcação, com quem ele foi para a Holanda por terra, dali para a Inglaterra, e da Inglaterra para a Pensilvânia. Ele estava munido de dinheiro, livros e remédios, pretendendo seguir a profissão de seu pai. Mas tão logo chegou na Filadélfia, o comandante, que anteriormente tinha tomado seu dinheiro emprestado, ao invés de reembolsá-lo, exigiu o pagamento integral de sua passagem, e sob este pretexto, apropriou-se de todos os seus pertences. Ele então o deixou num país desconhecido, onde ele não conseguia falar e ser compreendido, sem suas coisas necessárias, dinheiro e amigos. Nesta condição ele julgou que fosse melhor vender-se como empregado, o que ele por fim fez, por sete anos. Vencido o prazo de quase cinco anos, ele adoeceu de uma enfermidade prolongada, o que o tornou inútil ao seu senhor, que, depois que ela se estendeu por meio ano, não quis mantê-lo mais, mas mandou que ele fosse embora para se virar sozinho. Primeiramente ele tentou consertar sapatos, mas logo depois juntou-se a alguns protestantes franceses, e aprendeu a fazer botões. Ele então foi e viveu como anabatista, mas logo em seguida, ficando sabendo dos alemães na Geórgia, caminhou da Pensilvânia para lá, onde encontrou o descanso que há tanto tempo tinha buscado em vão.

Domingo, 7. Comecei meu ministério em Savannah, pregando sobre a epístola do dia, a Primeira Carta aos Coríntios, capítulo treze. A segunda lição (Lc 18) era a predição do Senhor do tratamento que ele próprio (e, conseqüentemente, seus seguidores) receberia do mundo, e sua graciosa promessa àqueles que estão dispostos a nudi nudum Christum sequi [seguir nu o Cristo nu, citação de São Francisco de Assis]: “Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus, que não haja de receber muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna.”

Todavia, apesar destas claras declarações de nosso Senhor, apesar de minha própria freqüente experiência, apesar da experiência de todos os sinceros seguidores de Cristo com quem eu já falei, de quem já li ou ouvi, e não apenas isso, mas também a razão, constituindo uma prova conclusiva, de que todos que não amam a luz devem odiar Aquele que está continuamente trabalhando para derramá-la sobre eles, eu aqui dou testemunho contra mim mesmo, que quando vi o número de pessoas se amontoando na igreja, a profunda atenção com que eles receberam a palavra, e a seriedade que posteriormente se fixou sobre todas as suas faces, eu dificilmente podia evitar desmentir a experiência, a razão e a Escritura juntas. Eu mal podia crer que a maioria, a imensa maioria deste povo atencioso, sério, depois pisotearia essa palavra, e diria falsamente todo tipo de maldade daquele que a falou. Ó, quem pode saber com certeza o que o coração deles abomina? Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós! Amemos sua cruz: então creremos, “Se sofrermos, também com ele reinaremos!”

Esta noite, um dos alemães, que há muito tempo estava doente de uma doença devastadora, encontrava-se muito pior. Quando mencionei o caso ao Bispo Nitschman, ele sorriu e disse, “Logo ele ficará bem, ele está pronto para o Noivo.”

Domingo, 14. Tendo anteriormente informado sobre o meu propósito de assim fazer, todo domingo e feriado, de acordo com os estatutos de nossa Igreja, administrei a santa comunhão a dezoito pessoas. Quais destas permanecerão até o fim?

Segunda-feira, 15. O Sr. Quincy optando ir para a Carolina, me transferi para a casa do ministro. É ampla o suficiente para uma família maior do que a nossa, e tem muitos banheiros, além de um bom jardim. Não podia senão refletir sobre o bem conhecido epigrama, Antigamente eu era patrimônio de Achæmenides, mas agora sou propriedade de Menippus [a citação é de Luciano de Samosata]. Quão curto será o tempo antes que o presente proprietário seja transferido! Talvez para nunca mais ser visto!

Domingo, 28. Um empregado do Sr. Bradley mandou avisar que gostaria de falar comigo. Indo a ele, encontrei um jovem doente, mas completamente consciente. Ele quis que os demais fossem embora, e então disse, “Na noite de quinta-feira, por volta das onze, estando na cama, mas bem acordado, ouvi alguém chamando em voz alta, Peter! Peter Wright! e levantando os olhos, o quarto estava claro como o dia, e vi um homem de roupas muito brilhantes perto da cama, que disse, ‘Prepare-se, pois seu fim está próximo,’ e então imediatamente tudo ficou escuro como antes.” Disse a ele, “O conselho foi bom, de onde quer que tenha vindo.” Em poucos dias ele se recuperou de sua doença, todo o seu temperamento foi mudado assim como a sua vida, e assim continuou a ser, até que três ou quatro semanas depois ele teve uma recaída e morreu em paz.

Terça-feira, 30. O Sr. Ingham, chegando de Frederica, me trouxe cartas exigindo que eu fosse para lá. No dia seguinte o Sr. Delamotte e eu começamos a fazer a experiência de se a vida poderia ser mantida com um tipo assim como por uma variedade de alimentos. Preferimos fazer a experiência com pão, e nunca estivemos mais vigorosos e saudáveis do que quando experimentávamos qualquer outra coisa. “Bem-aventurados os limpos de coração,” que, quer comam ou bebam, ou o que quer que façam, não tem nenhum outro fim nisso senão agradar a Deus! A esses todas as coisas são puras, toda criatura é boa, e nada há que ser rejeitado. Mas deixe que aqueles que sabem e sentem que não são tão puros assim, usem toda ajuda, e removam todo impedimento, sempre lembrando que, “Aquele que despreza as coisas pequenas cairão pouco a pouco” [Sabedoria 12.2, 10; também 11.16].

fora de perigo.

Domingo, 21. Tivemos quinze comungantes, que era um número usual aos domingos: no Natal tivemos dezenove, mas no Ano Novo apenas quinze.

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Tradução: Paulo Cesar Antunes

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