sexta-feira, 29 de maio de 2009

Constrangimento em Dallas

Mark Carpenter

Em março fui a Dallas para participar de uma nova feira de livros, a Christian Book Expo. Ao contrário das outras feiras, sempre restritas ao setor livreiro, esta abriu as portas ao público da cidade. Após dois anos de marketing e preparação, os organizadores esperavam 20 mil pessoas. A programação incluía palestras, sessões de autógrafos e debates entre as celebridades evangélicas mais badaladas. Mais de duzentos autores confirmaram presença. Dezenas de editoras montaram estandes para vender livros. Tudo isto no cavernoso Dallas Convention Center.

Resultado? Um verdadeiro fiasco. A feira atraiu apenas 1.500 pessoas ao longo dos três dias. O público de alguns dos muitos eventos da feira se restringiu a apenas dez ou quinze participantes. O salão de exposição de livros mais parecia uma cidade fantasma.

Na autópsia que se sucedeu, os organizadores justificaram o fracasso, procurando atribuir culpa à crise econômica (que, aliás, já é culpada por tudo), à falta de marketing de massa, à coincidência com o período de férias escolares conhecido como "spring break" etc. Porém nada conseguiu esconder o constrangimento dos organizadores ao constatarem a retumbante falta de interesse do público de Dallas, a capital americana mais evangélica de todas, situada dentro da cinturão da Bíblia e sede de várias megaigrejas.

É impossível afirmar com precisão, mas esta crise de apatia talvez reflita o que vem acontecendo nos Estados Unidos: perda de poder político da Direita Religiosa, crescimento do humanismo secular, ostracismo cultural do fundamentalismo cristão e uma incômoda falta de novas ideias (até a recente igreja emergente já está mais para "submergente"). Há uma sensação de que o futuro não reserva nenhuma reversão para a igreja evangélica americana, cada vez mais marginalizada pela sociedade, pela academia e pela "intelligentsia". As previsões de Philip Jenkins podem estar se materializando mais rapidamente que se esperava. O eixo do cristianismo global está de fato se movendo em direção ao hemisfério sul. É lá que acontece o crescimento, a paixão pela causa, o ímpeto evangelizador, as ondas de vidas transformadas, a rejeição ao liberalismo, o novo foco de estratégia missionária e as novas ideias.

O que falta ainda no hemisfério subequatoriano são pensadores e escritores capazes de mobilizar públicos internacionais. Acredito que não se trata da falta de capital intelectual, mas da resistência de barreiras linguísticas e logísticas que dificultam a disseminação. A língua franca do cristianismo continua sendo o inglês, e os "gatekeepers" das ideias ainda são as editoras americanas e inglesas, que emprestam a credibilidade de suas marcas aos textos dos seus autores.

Com a decadência da igreja nos Estados Unidos, no entanto, este quadro pode mudar. Enquanto as editoras americanas encolhem diante das diversas crises, no Brasil as editoras aumentam a produção, refletindo o crescimento da população evangélica. Hoje entendo que chegará um dia em que nossas editoras alcançarão seus congêneres americanos. Nesse momento a pujança econômica poderá alinhar-se às novas fronteiras da igreja, e o resultado poderá ser um grande potencial de influência global para nossos pensadores e escritores. Até lá, temos de aprender a pensar e a escrever.


Mark Carpenter é diretor-presidente da Editora Mundo Cristão e mestre em letras modernas pela USP.

fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=2398&secMestre=2409&sec=2429&num_edicao=318#

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Diário de Wesley, julho de 1736

Quinta-feira, 1º de julho. Os índios fizeram um encontro, e outro no sábado, quando Chicali, seu líder, jantou com o Sr. Oglethorpe. Depois do jantar, eu perguntei ao velho homem de cabelos grisalhos o que ele achava sobre qual seria a finalidade dele ter sido criado. Ele disse, "Aquele que está lá em cima sabe para qual finalidade ele nos criou. Nós não sabemos de nada. Estamos na escuridão. Mas homens brancos sabem muito. E também homens brancos constroem grandes casas, como se eles fossem viver para sempre. Mas homens brancos não podem viver para sempre. Em pouco tempo, homens brancos serão pó assim como eu." Eu disse a ele, "Se os homens vermelhos [índios americanos] estudarem o bom livro [a Bíblia], eles poderão saber tanto quanto os homens brancos. Mas nem nós nem vocês podemos entender esse livro, a não ser que sejamos ensinados por Aquele que está no céu. E Ele não ensinará, a menos que vocês evitem o que já sabem que não é bom." Ele respondeu, "Eu creio nisso. Ele não nos ensinará enquanto nossos corações não forem puros. E nossos homens fazem o que eles sabem que não é bom: eles matam seus próprios filhos. E nossas mulheres fazem o que elas sabem que não é bom: elas matam a criança antes de seu nascimento. Por isso, Aquele que está no céu não nos manda o bom livro." 

Ouvindo que a mais jovem das Senhoritas Boveys não estava bem, fiz-lhes uma visita rápida esta noite. Percebi que ela tinha apenas brotoeja, um tipo de erupção de pele, muito comum aqui no verão. Logo começamos uma conversa séria, depois que perguntei se elas não achavam que eram jovens demais para já se preocuparem com religião, e, se elas não poderiam adiar isso por dez ou doze anos. Ao que uma delas respondeu, "Se será razoável daqui a dez anos ser religiosa, é igualmente razoável agora. Eu não vou adiar um minuto." 

Quarta-feira, 7. Fui lá visitá-las novamente, estando determinado agora a falar mais intimamente. Mas, encontrando outras pessoas lá, a prudência me induziu a adiar até uma outra oportunidade. 

Quinta-feira, 8. Lá estando o Sr. Oglethorpe novamente, e casualmente falando da morte súbita, a Srta. Becky disse, "Fosse a vontade de Deus, eu escolheria morrer uma morte rápida." Sua irmã disse, "Então, você está preparada para morrer?" Ela respondeu, "Jesus Cristo sempre está preparado para me ajudar. E pouca ênfase deve ser colocada em semelhante preparação para a morte tal como se faz num ataque de doença." 

Sábado, 10. Bem no momento quando eles tinham terminado de tomar chá, a Sra. Margaret, vendo a mudança de sua cor, perguntou se ela estava bem. Ela não deu nenhuma resposta. Chegando o Dr. Tailfer logo após ser chamado, ela desejou que ele entrasse, e disse, "Senhor, minha filha, temo, não está bem." Ele olhou seriamente para ela, sentiu seu pulso, e respondeu, "Bem, senhora, sua filha está morrendo!" Entretanto, ele achou que era possível que a hemorragia pudesse ajudar. Ela sangrou aproximadamente uns 30 ml, inclinou-se para trás e morreu! 

Logo que tomei conhecimento, fui para a casa, e implorei que elas não a preparassem para o velório imediatamente, havendo uma possibilidade de, pelo menos, ela poder estar somente desmaiada. Havia essa pequena esperança, ela não apenas estando tão quente como sempre, mas tendo uma cor viva em suas bochechas, e algumas gotas de sangue começando a correr quando se dobrava o seu braço, mas não havia pulso e nem respiração, de forma que, tendo esperado algumas horas, percebemos que seu "espírito na verdade retornou a Deus que o deu." 

Eu nunca vi um defunto tão lindo em minha vida. Pobre conforto para o seu último habitante! Eu me surpreendi muito com sua irmã. Havia, em todo o seu comportamento, uma mistura inexprimível de ternura e resignação. A primeira vez que eu falei com ela, ela disse, "Todas as minhas aflições são nada se comparadas a isto. Eu não apenas perdi uma irmã, mas também uma amiga. Mas é a vontade de Deus. Eu confio nele, e não duvido que ele irá me ajudar a passar por isto." 

Esta noite tivemos um temporal de trovão e relâmpago como eu nunca tinha visto antes, até mesmo na Geórgia. Esta voz de Deus, também, me disse que eu não estava preparado para morrer, visto que estava com medo ao invés de desejoso disso. Ó, quando eu desejarei morrer e estar com Cristo? Quando eu amá-lo com todo o meu coração. 

Na noite seguinte, quase a cidade toda esteve presente ao funeral, onde muitos, sem dúvida, faziam uma porção de boas resoluções. Ó, quão poucos sinais da maioria destes serão deixados pela manhã! É verdadeiro aquele ditado que diz: "O inferno está cheio de boas intenções." 

Terça-feira, 20. Cinco dos índios Chicasaw (vinte dos quais tinham estado em Savannah vários dias) vieram nos ver, com o Sr. Andrews, seu intérprete. Todos eles eram guerreiros, quatro deles líderes de tribo. Os dois caciques eram Paustoobee e Mingo Mattaw. Nossa reunião aconteceu como segue: 

Pergunta. Vocês crêem que existe Alguém no céu que está acima de todas as coisas? 

Paustoobee respondeu, Cremos que há quatro coisas amadas no céu: as nuvens, o sol, o céu claro e Aquele que vive no céu claro. 

P. Vocês crêem que existe apenas Um que vive no céu claro? 

R. Cremos que existem Dois com Ele, Três no total. 

P. Você acredita que Ele criou o sol e as outras coisas amadas? 

R. Não podemos dizer. Quem viu? 

P. Você acredita que Ele criou vocês? 

R. Pensamos que no início Ele criou todos os homens. 

P. Como Ele os criou no início? 

R. Da terra. 

P. Vocês crêem que Ele ama vocês? 

R. Não sei. Não posso vê-lo. 

P. Mas Ele freqüentemente não tem preservado suas vidas? 

R. Sim. Muitas balas vieram por este lado e muitas por este outro, mas ele nunca deixou que elas me ferissem. E muitas balas entraram nestes jovens e todavia eles estão vivos. 

P. Então, Ele não pode salvar vocês de seus inimigos agora? 

R. Sim, mas não sabemos se Ele salvará. Temos agora tantos inimigos ao nosso redor que eu não penso em outra coisa senão na morte. E se devo morrer, que eu morra. Embora já tive muitos inimigos, Ele pode destruí-los todos. 

P. Como você sabe disso? 

R. Do que tenho visto. Antes, quando nossos inimigos vinham contra nós, então as amadas nuvens ficavam do nosso lado. E freqüentemente muita chuva, e algumas vezes granizo, caía sobre eles, e isso em um dia muito quente. E vi, quando muitos franceses, Choctaws e outros povos vieram contra uma de nossas cidades, o chão fez um barulho debaixo deles, e os amados no ar atrás deles, e eles ficaram com medo e foram embora, deixando sua carne, sua bebida e suas armas. Não estou mentindo. Todos estes viram também. 

P. Vocês ouviram esses barulhos em outras ocasiões? 

R. Sim, muitas vezes, antes e depois de quase toda batalha. 

P. Que tipo de barulhos foram esses? 

R. Como o barulho de tambores, armas e gritos. 

P. Você ouviu algum ultimamente? 

R. Sim, quatro dias depois de nossa última batalha com os franceses. 

P. Então você não ouviu nada antes disso? 

R. Na noite anterior sonhei que tinha ouvido muitos tambores lá em cima, e muitas trombetas lá, e muito barulho de pé batendo e gritos. Até então pensava que iríamos todos morrer. Mas então pensei que os amados viriam nos ajudar. E no dia seguinte ouvi no céu uma centena de armas dispararem antes da luta ter começado, e disse, "Quando o sol estiver lá, os amados nos ajudarão, e iremos vencer nossos inimigos." E assim fizemos. 

P. Vocês muitas vezes pensam e falam sobre os amados? 

R. Pensamos neles sempre, onde quer que estejamos. Falamos sobre eles e para eles, em nossa casa ou fora dela, na paz, na guerra, antes e depois de lutarmos, e, na verdade, toda vez e onde quer que nos reunimos. 

P. Para onde vocês pensam que suas almas irão após a morte? 

R. Cremos que as almas dos homens vermelhos caminham para lá e para cá, perto do lugar onde eles morreram, ou onde seus corpos se encontram, pois muitas vezes temos ouvido gritos e barulhos perto do lugar onde os prisioneiros foram queimados. 

P. Para onde as almas dos homens brancos irão após a morte? 

R. Não podemos dizer. Não temos visto. 

P. Acreditamos que somente as almas dos homens maus caminham para lá e para cá, mas as almas dos homens bons sobem. 

R. Acredimos nisso também. Mas eu somente disse a você o que pensa o nosso povo. 

(Sr. Andrews.– Eles disseram na hora do enterro que sabiam o que você estava fazendo. Você estava falando aos amados no céu para levantarem a alma da jovem mulher.) 

P. Temos um livro que nos diz muitas coisas dos nossos amados no céu. Você gostaria de conhecê-los? 

R. Não temos tempo agora senão para lutar. Se estivéssemos em paz, gostaríamos de conhecer. 

P. Vocês esperam alguma vez conhecer o que os homens brancos conhecem? 

(Sr. Andrew.– Eles disseram ao Sr. Oglethorpe que acreditavam que virá o tempo em que os homens vermelhos e brancos serão um.) 

P. O que os franceses ensinam a vocês? 

R. Os reis negros franceses nunca deixam suas casas [por 'reis negros' os índios querem dizer 'sacerdotes']. Vemos você vagueando por aí: gostamos disso, isso é bom. 

P. Como seu povo obteve o conhecimento que tem? 

R. Assim que o solo estava firme e preparado para ficarmos sobre ele, ele veio a nós, e tem estado conosco desde então. Mas somos jovens. Nossos pais sabem mais, mas nem todos eles sabem. Há apenas alguns, que o Amado escolhe desde criança, e está neles, e toma cuidado deles, e os ensina. Eles sabem estas coisas, e nossos pais praticam, por isso sabem. Mas eu não pratico, por isso sei pouco. 

Segunda-feira, 26. Meu irmão e eu rumamos para Charlestown, a fim dele embarcar para a Inglaterra mas, estando o vento contrário, não atingimos Port-Royal, quarenta milhas de Savannah, até a noite de quarta. Na manhã seguinte partimos. Mas o vento estava tão violento à tarde, enquanto atravessávamos o Canal de Santa Helena, que nosso marinheiro mais antigo gritou, "Agora é cada um por si." Eu disse a ele, "Deus cuidaria de todos nós." Quase tão logo as palavras foram ditas, o mastro caiu. Me mantive no canto do barco, para ficar desobstruído no caso dele afundar (o que a todo momento esperávamos que ia acontecer), embora com pouca esperança de nadar em direção à terra, contra esse vento e mar. Mas, "Como é que não tens fé?" No momento que o mastro caiu, dois homens o pegaram, e puxaram-no para o barco. Os outros três remaram com todas as suas forças, e "Deus repreendeu os ventos e o mar," de forma que em uma hora estávamos a salvo em terra firme. 

Sábado, 31. Chegamos a Charlestown. A igreja é de tijolo, mas toda coberta como pedra. Creio que acomodaria umas trezentas ou quatrocentas pessoas. Aproximadamente trezentas estavam presentes no culto matinal do dia seguinte (quando o Sr. Garden rogou que eu pregasse), e aproximadamente cinqüenta na santa ceia. Estava feliz de ver várias pessoas negras na igreja, uma das quais me disse que estava lá regularmente, e que sua antiga patroa (agora morta) tinha muitas vezes a instruído na religião cristã. Eu a perguntei que religião era. Ela disse que não sabia dizer. Eu perguntei se ela sabia de que essência era. Ela respondeu, "Não." Eu disse, "Você sabe que há algo em você diferente do seu corpo? Algo que você não pode ver ou sentir?" Ela respondeu, "Nunca me falaram dessas coisas antes." Eu acrescentei, "Você acha, então, que no geral um homem morre tal qual um cavalo morre?" Ela disse, "Sim, certamente." Ó Deus, onde estão tuas ternas misericórdias? Elas não estão sobre todas as tuas obras? Quando o Sol da Justiça nascerá sobre estes párias, com cura em Suas asas! [Ml 4.2]

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Tradução: Paulo Cesar Antunes

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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Aborto, Estado laico e igreja: até onde podemos opinar?

João Heliofar de Jesus Villar

Até onde você pode defender suas posições num debate público com base em suas convicções religiosas? Recentemente vi um artigo publicado num site cristão em que o autor dizia que pessoalmente era contrário ao aborto, mas que não se sentia com direito algum de intervir na escolha que eventualmente uma outra pessoa quisesse fazer a respeito do assunto. Ser contra o aborto nesses termos é de uma inutilidade prática absoluta.

Essa é a posição mais comum hoje: a de Barack Obama. Nela, como indivíduo e como cristão, posso ser contrário ao aborto e a outras práticas que ofendam os princípios cristãos, mas como cidadão não posso querer que outras pessoas -- que não professam a minha fé -- se sujeitem a essa posição. Desse modo, sou individualmente contrário a isto ou aquilo, contudo não me oponho a que o Estado legalize essas situações (aborto, células-tronco etc).

O fundamento para essa posição reside numa confusão que precisa de esclarecimento urgente. Normalmente essa postura tem por base o pressuposto de que o Estado é laico. Isso significaria que, como entidade secular, o Estado não pode ter posições religiosas e nem fundamentar suas decisões em pressuposições desse tipo.

Porém Estado laico não significa nada disso e o princípio de sua laicidade jamais deveria servir de cortina para os cristãos se omitirem de se posicionar na arena pública de acordo com suas convicções. Reconheço que é penoso e profundamente desconfortável defender certas posições com base em nossas pressuposições cristãs numa sociedade agudamente secularizada, especialmente quando a mídia já definiu o jogo contra nós. Mas daí, para se livrar do desconforto de assumir uma posição impopular, invocar o princípio de que o Estado é laico e dizer que não posso obrigar os outros a terem a minha posição é renunciar do modo mais covarde o nosso papel de ser sal em meio à nossa geração.

O princípio da laicidade implica que o Estado não pode favorecer uma religião. A primeira regra escrita surgiu na Constituição dos Estados Unidos, a qual dizia que "o Congresso não aprovará nenhuma lei relativa ao estabelecimento de religião ou que proíba seu livre exercício". Como se vê aí, a regra não implica amordaçar a ética cristã na arena pública, mas garantir a neutralidade do Estado em matéria de religião.

O Estado é religiosamente neutro, contudo não devemos esquecer que suas leis refletem a ética de seu povo, da sociedade. O Estado, quando autoriza o aborto, está fazendo uma opção ética: está sinalizando sua posição quanto ao que ele entende o que é o bem e o que é o mal. A definição da ética estatal depende das forças que gravitam nesse meio social. Se nós, como povo cristão, fazemos parte do Estado brasileiro, por que raios não iríamos querer influenciar na formação da vontade do Estado? Por que razão neste mundo renunciaríamos ao direito de procurar fermentar esse bolo de acordo com os princípios que dizemos crer?

Veja bem, não defendemos uma teocracia e nem desejamos que o Estado se transforme numa igreja ou que patrocine qualquer tipo de culto religioso. Apenas, como parte da nação, queremos participar na formação do rosto social que se reflete nas leis do Estado em que vivemos. Temos uma ética e o direito -- o dever, na verdade -- de defendê-la no debate público. Renunciar a isso e deixar de defender publicamente nossas posições sob o disfarce de favorecer liberdades laicas reduz à cultura de gueto a missão cultural que nos foi delegada por Jesus de Nazaré.


João Heliofar de Jesus Villar, 45 anos, é procurador regional da República da 4ª Região (no Rio Grande do Sul) e cristão evangélico.

domingo, 24 de maio de 2009

O fundo do poço

Eduardo Ribeiro Mundim

Fui comprar pão recentemente, cedo. Nossa cadela, Kiki, foi comigo, na coleira. À porta da mercearia, fez o que não está habituada: aguou a árvore (e o passeio que ao final da tarde é coroado por mesas para os butequeiros habituais) com uma grande poça de urina. Logo após, o dono chegou, e contou-me a novidade de como a urina canina estraga os metais das portas. Comentando sobre o frio, e sobre a crise, perguntou-me se eu era crente. Sua metralhadora não permitiu sequer que eu pensasse se responderia ou não, pois passou para o alvo: havia ouvido no noticiário da TV aberta que igrejas evangélicas não mais evangelizariam durante a crise econômica, pois ninguém teria como pagar o dízimo!

Hoje, vejo na revista Época que alguns pesquisadores projetam 50% da população brasileira identificada como evangélica em uma década não muito distante.

Na Ultimato deste bimestre um dos articulistas levanta que uma nova onda de perseguição deve estar chegando, sendo a "lei da homofobia" uma de suas vertentes.

É o fundo do poço.

Não sonho em metade dos brasileiros dentro de igrejas chamadas evangélicas. Provavelmente as estatísticas dizem respeito aqueles que Jesus rechaçou certa vez, dizendo-lhes que a única razão de O terem procurado foi terem se fartado de pão, multiplicado a partir da oferta de um garotinho (e ainda dizem que milagres são a cura da incredulidade...). A consequência da teologia da prosperidade é somente esta: templos cheios de gente que não querem ser cauda, mas cabeça, que não adoram, negociam, que não servem, mas buscam ser servidas.

Não quero metade da população evangélica, nem um presidente, ou governador, ou prefeito, ou síndico evangélico. Evangélicos que fraudam o imposto de renda, vendem seus votos nas assembleias, empregam parentes ou irmãos na fé, constituem ONGs de fachada, ou buscam meramente poder político.

Sonho com o meu vizinho confessando que nada tem a apresentar diante de Deus Pai todo poderoso, que se envergonha de pensar em estar na Sua presença, e que confessa merecer todos os castigos intermináveis do mundo, e que reconhece que Jesus o sofreu no seu lugar.

Sonho com cristãos que não fazem caso de rótulos, deixando suas denominações de lado, por mais históricas e firmes que possam ser, para, aceitando-se mutuamente, ajudarem o vizinho a realizar o mais difícil de todos os milagres. Não é mover a montanha de um lado para o outro, ou transformar pedras em pão, ou curar o câncer, ou o diabetes, ou devolver a vista aos cegos ou as pernas aos amputados pela guerra. É fazer a oração do fariseu: "ó Deus, tem piedade de mim porque sou pecador". É confessar que Jesus Cristo é Senhor com a boca e coração, mostrando frutos dignos de arrependimento e conversão, mesmo que morrendo na pobreza e enfrentando até o fim dificuldades sem fim.

É o fundo do poço quando somos identificados como estelionatários, falsários, ladrões ou qualquer coisa semelhante - como conseguimos esta proeza?

Quem vai sentir a nossa falta quando desaparecermos?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Por que os heróis sempre fracassam?

Elienai Cabral Júnior

Bíblia não é boa em contar histórias de heróis. Deus é um péssimo contador de histórias de heróis. Prefiro os mitos gregos. Hércules é muito melhor que Sansão. As histórias de heróis da Bíblia são ruins porque todos os seus heróis fracassam. São ruins e libertadoras de nossa humanidade.

O número 1, Adão, fracassou. Terminou expulso do lugar mais lindo em que alguém já viveu (Gn 3.23). Moisés, o libertador, fracassou. Conduziu uma nação inteira para um lugar em que ele mesmo não pôde viver (Dt 34.4). Davi, o garoto frágil e plebeu que fez tombar o gigante, quando nobre poderoso tombou diante de uma mulher indefesa (2 Sm 11). Elias, o profeta que fez descer fogo do céu também fracassou. Não esperou um dia depois do fogo para fugir deprimido em busca do suicídio (1 Rs 19). Maria, a virgem corajosa que deu à luz o Filho de Deus, comportou-se como uma mãe manipuladora tentando ensinar Jesus a ser o Cristo: "Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou" (Jo 2.4) -- replicou Jesus. Pedro, o intrépido decepador de orelhas, fraquejou diante da serva da casa de Caifás, traiu aquele a quem mais amou em toda a sua vida (Jo 18.15-18).

Jesus Cristo, de longe foi o Messias esperado pelo povo. O quadro depressivo que o acometeu no Getsêmani, sua prisão, os julgamentos, a "via crucis", sua inércia na cruz, seu desamparo por Deus seguido da morte, em nada lembra uma boa história de herói. Quando ressuscita, aparece a poucos. O mundo não viu o Cristo ressurreto, só pôde ver o Filho de Deus morto na cruz.

A história de Sansão no intenso e desajeitado livro dos Juízes (13-16) é marcada por fatos que o tornam um infeliz privilegiado. Sansão foi um milagre desde o nascimento. Sua mãe era estéril até ele ser concebido, sob a promessa de Deus de que seria o libertador de Israel. Tudo isso alardeado por nada mais, nada menos que o Anjo do Senhor, a grande manifestação divina do Antigo Testamento. Tornou-se nazireu por reivindicação divina. Recebeu um dom que todo 'macho' um dia já sonhou ter: uma força extraordinária, que o tornava imbatível para os demais.

Então vêm as aventuras de Sansão. Matou um leão apenas com as mãos. Arrancou as portas de uma cidade. Matou mil homens com a queixada tirada da carcaça de um jumento. Capturou trezentas raposas, amarrou-as aos pares pelo rabo, prendeu uma tocha incendiária em cada par de raposas e as soltou pela plantação dos filisteus, devastando tudo o que fora cultivado pelos seus detratores. Tudo isso com ar de sarcasmo. Brigou como quem se divertia. Tem-se a impressão de que distribuía bordoadas às gargalhadas.

Porém a história de Sansão também é marcada pela decadência. O capítulo final é funesto, sombrio e deprimente. Sansão foi derrotado pela fantasia de indestrutibilidade. Dalila insistiu e arrancou-lhe o segredo para tanta força. Traído e preso, teve os olhos perfurados. Foi humilhado e serviu de diversão para os inimigos. Por um lapso vexatório de tempo, tornou os deuses falsos mais verdadeiros que o Deus bíblico.

Aprendemos com Sansão que se tornar uma exceção também é provar um fim trágico. Todo ser humano, na vivência bíblica, com vantagens sobrenaturais termina os seus dias como um fracassado. Vejamos.

Quem venceu no final da história não foi o mesmo Sansão do início. Foi um outro Sansão, cego e frágil, no seu último fôlego de vida. O que a ruína de um herói pode nos ensinar sobre a vida? Essa é uma pergunta que a Bíblia nos impõe com insistência, como um antídoto para o veneno de nossos exagerados idealismos.

Quando idealizamos demais a pessoa humana, terminamos por roubar-lhe a liberdade. Prisioneira de nossas românticas expectativas, precisa mascarar suas verdades para sustentar a fantasia. Uma história assim só pode produzir ruínas. Idealizamos exageradamente os filhos e os submetemos a uma escravidão de culpa. Também o fazemos aos crentes e os obrigamos a viver em um faz-de-conta religioso que esmaga suas identidades. Fantasiamos a igreja e a obrigamos a ser um lugar de decepções, ambiente da verdade que sem uma visão realista pode apagar esperanças. Qualquer pessoa diminui quando sujeita às idealizações.

Duas histórias muito parecidas revelam um 'bobão' por trás do grandalhão, de Sansão (14 e 16). Em ambas, quem tira a roupa do herói e desnuda o 'bobão' é uma mulher, o que não deixa de ser sugestivo. A truculência implacável de um homem desmoronou diante da fragilidade sagaz de duas mulheres, o que apenas confirma o emburrecimento que se esconde nos heroísmos. Na primeira história, temos a mulher que se tornou sua esposa. Sansão propôs um enigma aos amigos da noiva que participavam de sua festa de casamento: "Do que come saiu comida; do que é forte saiu doçura" (Jz 14.14). De tanto insistir, a mulher, convencida pelos adversários, fez Sansão revelar o enigma, que em seguida foi informado aos seus inimigos. Todo mundo vê, menos o 'bobão'.

Infelizmente, Sansão não aprendeu a lição. O 'bobão' foi despido de novo, mas desta vez foi fatal. Dalila, sua amante, tentou por três vezes seguidas entregá-lo aos seus inimigos, revelando o provável segredo de sua força e ele simplesmente pareceu não desconfiar de nada. Muito poder parece inchar as aparências e atrofiar a alma, idiotizar o verdadeiro 'eu'. Pela quarta vez seguida, Dalila tentou convencê-lo a contar seu segredo, e ele cedeu, expôs-se ao perigo, como se nada pudesse de fato acontecer, como se tudo, inclusive suas verdades mais íntimas, fossem uma ficção. Nada é para valer quando nos sentimos privilegiados por tanto poder. Sempre que nos tornamos muito poderosos nossa alma é idiotizada.

Não seria isso o que aconteceu com o mundo pentecostal brasileiro? Numa velocidade incrível, tornou-se um enorme movimento religioso. O Brasil não é mais apenas o maior país católico do mundo, é também o maior país pentecostal. Canais de TV, emissoras de rádio, templos sofisticados, cargos em todas as instâncias de poder. Grandes executivos e marketeiros tornaram-se os mais poderosos líderes evangélicos no país. No entanto, o custo disso é um movimento moralmente enlameado. Pior, é o nome que é sobre todo nome, Jesus, jogado na lama dos golpistas, estelionatários, formadores de quadrilha, enganadores da fé popular, agentes de lavagem de dinheiro. E todos continuam, varrem para debaixo da mais medíocre justificativa: perseguição religiosa! Por que se importar? De tão poderosos, nosso Deus e nossa consciência se tornaram apenas ficção.

Uma vida privilegiada, como querem muitos religiosos, que conta com favores sobrenaturais, desenvolve um falso senso de intocabilidade. Por isso uso o termo ficção para descrever no que se torna a vida turbinada pela panaceia de um Deus que me dá tudo através de milagres. A vida não é para valer se sou potencializado por forças extraordinárias. Por que fazer contas? Para que me preocupar com as consequências do que faço? Para que buscar o aperfeiçoamento de meus ofícios? Para que, se Deus me confere o privilégio de facilitar minha vida com milagres pontuais?

Talvez, enxergando o avanço desse emburrecimento na vida dos crentes, Jesus tenha proposto a parábola do administrador infiel. Um homem flagrado em injustificável delito é peremptoriamente convidado a prestar contas para ser demitido. Sem poder contar com nenhuma clemência, sem recursos para dirimir o problema, desenvolve um hábil e pertinente plano para escapar do, até então, aparente beco sem saída. Renegocia as dívidas de seu patrão, oferecendo descontos especiais, talvez proporcionais às comissões que teria, e se cerca de amigos que depois de demitido certamente o ajudarão a se refazer. A conclusão da parábola é desprezada com frequência nos sermões que abordam o assunto: os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz (Lc 16.8). Melhor, os não-crentes são mais inteligentes que os crentes. Por quê? Porque, como aquele homem, não se escoram na fantasia de que Deus fará por eles. Se não têm com quem contar, pensam mais, criam mais, trabalham mais, suam mais. Vivem mais. E isso revolta Jesus a ponto de ele fazer essa denúncia sem pena nem dó.

Quando nos comportamos como heróis da fé, não apenas nossa alma é idiotizada; também perdemos o senso de repercussão dos nossos atos. Parece típico do comportamento dos melhores super-heróis guardar para o último instante o grande movimento, a grande vitória, o milagre.

O Super-homem só mostra seus poderes quando falta um segundo para a mocinha se espatifar no chão. O Batman só se acerta com Robin e suas parafernálias poderosas quando a água está para cobrir a cabeça. E o Popaye -- ele é o melhor -- só come espinafre quando o rolo compressor, conduzido pelo diabo do Brutus, está a um centímetro de esmagá-lo. Só então ele se ergue, sai do barril de concreto duro, dá um soco no rolo compressor com o Brutus junto e termina com um beijo magnífico na Olívia Palito.

É assim que vejo Sansão. Vive sempre com a ideia de que na última hora dá um jeito. Na última hora, o Espírito vem e é pancada para todo lado e tudo dá certo. Mentira. Na última hora a força não aparece e Sansão fracassa! Talvez o fracasso do herói seja a única forma de ele acordar da ficção para voltar à vida.

É assim que vejo também alguns religiosos hoje. Tocam a vida, adiam decisões, aceitam pecados, prorrogam acertos, escondem imoralidades e na igreja pedem milagres. É pecado e trágico, incredulidade e engano, viver na dependência de milagres. Quem vive esperando por milagres se torna um irresponsável, como Sansão. Sempre que vivo contando com um milagre torno-me não uma pessoa que vive pela fé, mas um leviano.

Para não nos tornarmos uma ficção a caminho da tragédia, precisamos viver como se Deus não fosse fazer milagre algum. E, provavelmente, a maioria dos milagres, se não todos, com os quais sonhamos não vão acontecer. Porque os milagres não são da nossa conta. Não são do nosso mundo. Não são da nossa vida. São da conta, do mundo e da vida de Deus. Se ele fizer é porque há alguma razão sempre muito maior que nossa individualidade envolvida, e não porque queira tornar a nossa vida mais fácil e privilegiada. Deus já aprendeu com os heróis que criou. Gente privilegiada, com uma biografia recheada de milagres, se desumaniza. Fracassa.

Quem sabe nesse nosso tempo evangélico de escândalos possamos acordar da ficção de heroísmo em que tornamos nossa vida? Quem sabe?

Há um outro detalhe que me chama a atenção nas duas histórias já referidas. Em ambas, Sansão se descuida com pequenos segredos por incontrolável intolerância. É um tédio insuportável a insistência das mulheres para que lhes revele suas verdades. O texto denuncia o que acontece na alma de Sansão.

Ela chorou durante o restante da semana da festa. Por fim, no sétimo dia, ele lhe contou, pois ela continuava a perturbá-lo. Ela, por sua vez, revelou o enigma ao seu povo. (Jz 14.17)

Importunando-o o tempo todo, ela o cansava dia após dia, ficando ele a ponto de morrer. Por isso ele lhe contou o segredo. (Jz 16.16-17)

Sansão é um homem tão acostumado com os prodígios que acaba entediado, perde a paciência, com aquilo que é comum da vida. Verdades como fidelidade, paciência, discernimento, perseverança, lucidez, humildade, afetos, conversas, amizade, companheirismo, tornam-se insuportáveis. Uma reação, talvez, semelhante à do protagonista de "A Náusea", de Jean Paul-Sartre. Um homem que ao assistir às banalidades da vida, como pessoas passeando pelas ruas da cidade, surta com náuseas fortíssimas. Sempre que me cerco de grandes feitos torno-me entediado com a vida.

Durante muito tempo se papagaiou um jargão entre os evangélicos: 'Nenhuma oração, nenhum poder. Pouca oração, pouco poder. Muita oração, muito poder'. Parece fazer algum sentido, mas não faz nenhum. Segundo a tragédia de Sansão, o oposto é que faz sentido: 'Muito poder, nenhuma oração. Nenhum poder, muita oração'.

Sansão não foi derrotado por algo ou alguém com mais poder do que ele. Foi derrotado pela realidade. Pela simplicidade da vida. Pela insistência sensual de uma mulher. Pelas disputas de poder nos bastidores de seus relacionamentos. Coisas que fazem parte da vida de qualquer mortal.

Toda a história de Sansão é marcada por vitórias com um jeito artificial. São vitórias fictícias, sem consistência. Não são vitórias de fato. Sem o último capítulo suspeitaríamos de uma história para fazer um pequeno hebreu dormir. A única vitória com gosto de verdade acontece apenas no final, mas com sabor agridoce.

Sansão vence para valer os filisteus quando está cego, enfraquecido e humilhado. Vence-os com poucas palavras e sem espetáculo algum, pelo menos não um espetáculo para si mesmo. Não há um sorriso de herói acima dos demais. Sansão vence os filisteus não para ser um vencedor, mas para fazer seu povo vencedor. Ele vence, mas não vive para ver a vitória. Seu último pedido é também uma desistência. "Que eu morra com os filisteus!" (Jz 16.30).

A história termina com uma grandeza estranha. Sansão foi mais vencedor na morte do que na vida: "Assim, na sua morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida" (v. 30).

Vencemos na vida quando morremos para nossas ficções messiânicas, quando perdemos nossas falsas onipotências. Um vencedor nunca é um herói. É um de nós apenas -- lembra a morte.

(Capítulo do livro "Salvos da Perfeição -- mais humanos e mais perto de Deus", lançamento de junho da Editora Ultimato)


Elienai Cabral Júnior é casado com Bete e pai de Ana Clara, Gabriela e Thales. É a terceira geração de pastores em sua família. Muito cedo optou por uma pregação crítica e imaginativa, o que o levou a acrescentar aos estudos de teologia a formação em filosofia. É mestrando em ciências da religião na Universidade Metodista de São Bernardo e pastoreia a Igreja Betesda do Tatuapé, em São Paulo. Escreve regularmente em seu blog: www.elienaijr.wordpress.com

fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=5&registro=1044&pagina=4#

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Aclaración de Amnistía Internacional sobre su postura ante el aborto

Amnistía Internacional, tiene una historia de defensa de los derechos humanos que siempre va a estar ahí como ejemplo de defensa de los derechos humanos ante las instituciones y los estados.

Es evidente que, como toda institución constituida por personas, puede acertar o equivocarse en sus análisis y juicios sobre el ejercicio de estos derechos. En la misma historia de Amnistía Internacional se han dado casos de importantes equivocaciones.

Uno de los puntos más debatidos estos últimos años, ha sido su postura ante el aborto. Me parece que la misma ONG puede haber necesitado un tiempo para platearse su postura, y, que ésta, también puede haber evolucionada con el tiempo.

Por eso es de agradecer su claridad en la contestación a una pregunta sobre este tema que le ha hecho Francisco Rodríguez Barragán. Su correo es:

aiEstimado amigo:

Muchas gracias por contactar con nosotros. En respuesta a su correo recientemente recibido, quiero informarle de algunas cuestiones relativas a nuestra postura sobre el aborto.

Amnistía Internacional no considera el aborto como un derecho humano, tal y como erróneamente se ha difundido en algunos medios de comunicación, ni solicita su legalización sin más. Nuestra política sobre los derechos sexuales y reproductivos tiene por objeto garantizar que las mujeres y los hombres puedan ejercer sus derechos sexuales y reproductivos sin sufrir coacción, discriminación o violencia como, por ejemplo, determinadas medidas coercitivas de control de la natalidad como la esterilización y el aborto forzados.

Es decir, Amnistía Internacional insta a los Estados y a otros agentes pertinentes, según proceda, a facilitar a mujeres y hombres información completa sobre salud sexual y reproductiva; derogar leyes que penalicen el aborto; asegurar que toda mujer que sufra complicaciones derivadas de un aborto tenga acceso a los servicios de salud que precise, con independencia de que haya obtenido el aborto de forma legal o ilegal; garantizar el acceso a servicios de aborto a las mujeres que se queden embarazadas como consecuencia de una violación, una agresión sexual o un incesto, o cuando el embarazo ponga en peligro la vida de la mujer o suponga un grave riesgo para su salud.

Al no adoptar postura alguna sobre si las mujeres deben someterse o no a un aborto en cualquiera de las circunstancias mencionadas, sino que se esfuerza por conseguir servicios de aborto seguros y accesibles para estas mujeres con el fin prevenir las violaciones graves que podrían sufrir si se les negase esta opción.

Amnistía Internacional seguirá trabajando para que las mujeres puedan decidir libremente si desean mantener relaciones sexuales y en qué condiciones, con el fin de evitar embarazos no deseados o la aparición de otros factores que impulsan a las mujeres a recurrir al aborto, pero también continuará apoyándolas cuando estén expuestas a sufrir violaciones graves de sus derechos humanos a consecuencia de un embarazo no deseado.

Atentamente,

Esteban Beltrán Verdes. Director de Amnistía Internacional España.

La contestación es clara y no necesita muchos comentarios:

  • no considera el aborto un derecho humano
  • insta a que todas las legislaciones legalicen el aborto en distintos supuestos
fonte: http://blog.bioeticaweb.com/aclaracion-de-amnistia-internacional-sobre-su-postura-ante-el-aborto/

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Modelos para relacionar ciência e religião*



Denis R. Alexander

Em ciência, modelos rivais frequentemente são foco de intenso debate. O termo “modelo” tem vários sentidos em ciência, mas em geral se refere a uma ideia chave capaz de incorporar satisfatoriamente certo grupo de dados. No começo dos anos 1950, por exemplo, diversos modelos rivais tentaram descrever a estrutura do DNA, a molécula que codifica os genes, mas no final Watson e Crick puseram fim à discussão: o modelo da dupla hélice de fato proveu a melhor forma de descrever a estrutura do DNA.1

Seria possível um modelo único capaz de esclarecer, de um modo semelhante, o relacionamento entre a ciência e a religião? Parece bem improvável. Para começar, ambas são empreendimentos altamente complexos. Além do mais, ambas existem em constante fluxo. Diferentemente da estrutura imutável do DNA, descrita por um modelo único e bem estabelecido descoberto recentemente, não há um relacionamento entre a ciência e a religião aguardando para ser descoberto. Assim, há boas razões para crer que a abordagem mais segura ao investigar ciência e religião seria simplesmente descrever a complexidade dessa relação.2

Mas a vida é curta e modelos têm certa utilidade conceitual para mapear os meios de relacionar diferentes saberes, servindo ao menos como ferramentas introdutórias ao que é agora uma vasta literatura. Ademais, defensores barulhentos continuam a sustentar que um único modelo seria suficiente para cobrir o relacionamento de ciência e religião. Assim este artigo tem dois fins principais: o primeiro é apresentar quatro dos modelos mais importantes, de modo a permitir a visualização das interações entre ciência e fé, e o segundo é criticar a noção de que qualquer um destes modelos isoladamente seja suficiente, embora destacando um modelo em particular que tem se provado o mais frutífero. Tratamentos completos do tema estão disponíveis, apresentando coleções de modelos mais nuançadas.3

Definindo ciência e religião
Falar a respeito das interações entre dois corpos de conhecimento já supõe a sua distinção. Tal suposição teria parecido algo sem sentido para os eruditos medievais, para os quais teologia e filosofia natural existiam fundidas em um corpo abrangente de conhecimento. Hoje, no entanto, ao menos no mundo de fala inglesa, o termo “ciência” é comumente usado para se referir à “moderna ciência experimental”, um empreendimento claramente distinto da teologia, sendo as linhas de demarcação há muito reconhecidas pela estrutura universitária. Para os propósitos deste artigo, podemos definir ciência como “um esforço intelectual para explicar o funcionamento do mundo físico, informado por investigações empíricas e conduzido por uma comunidade treinada em certas técnicas especializadas”.

Definir religião de forma sucinta é algo notoriamente difícil, mas para os nossos objetivos podemos defini-la como “um sistema de crenças relacionado a realidades transcendentes, concernente ao propósito e ao sentido do mundo, expresso em certas práticas sociais”.

Os quatro modelos de relacionamento
Vamos descrever quatro modelos, destacando tanto a utilidade como as inadequações de cada um para lidar com os dados disponíveis. Na discussão que se segue, é preciso lembrar que modelos podem desempenhar tanto o papel descritivo como o normativo: eles reivindicam descrever o que a realidade “é”, mas frequentemente são usados para promover o que ela “deveria ser”.

1. O modelo do conflito
Como o nome sugere, este modelo propõe que ciência e religião existem em oposição fundamental, e que sempre foi assim. A ideia é claramente expressa por Worrall: “Ciência e religião estão em conflito irreconciliável... Não há modo de manter uma mentalidade apropriadamente científica e ser, ao mesmo tempo, um crente religioso verdadeiro”.4 Note-se tanto a presença de elementos descritivos quanto de normativos em sua afirmação.

Apoio para o modelo
Sociologicamente falando, há pouca dúvida de que esse modelo permanece popular. Em pesquisa recente entre “UK Sixth Formers” 5 por exemplo, 29% concordaram que “a ciência está em conflito com a religião”.6 Suas suposições são alimentadas pela mídia, que frequentemente favorece o conflito a fim de prender a atenção dos ouvintes. Richard Dawkins é um defensor estridente do modelo do conflito: “Eu retribuo às religiões o cumprimento de considerá-las teorias científicas e [...] eu vejo Deus como uma explicação concorrente para os fatos do universo e da vida”.7

A ideia de conflito é também apoiada pelos ramos mais fundamentalistas das fés abraâmicas, que adotam interpretações muito literalistas da Bíblia ou do Corão. Nos Estados Unidos, cerca de 40% da população sustenta crenças criacionistas.8 Mais recentemente um movimento anti-darwiniano conhecido como Design Inteligente (DI) alcançou a popularidade nos Estados Unidos, reivindicando que certas entidades biológicas são demasiado complexas para terem surgido por “acaso”, o que evidenciaria a sua origem por “design”, alternativamente. Tanto o criacionismo como o DI conduziram a ostensivos processos legais sobre o currículo em escolas nos Estados Unidos. No contexto mais secularizado da Europa, onde os currículos educacionais são estabelecidos nacionalmente, ao invés de o serem por comitês escolares locais, como na América, o criacionismo e o DI atraíram relativamente pouca atenção. A despeito disso, a enorme influência da mídia dos Estados Unidos, somada à cobertura dada por revistas científicas, assegurou a tais conflitos locais uma abrangência internacional.

Em geral, o conflito ocorre quando a ciência ou a religião adotam atitudes “expansionistas”, reivindicando responder a questões que pertencem ao outro domínio de inquirição. Em seu livro “Consiliência”, por exemplo, E.O. Wilson sugere que todo conhecimento, sem exceção, incluindo a religião, pode ser transformado em conhecimento científico.9 Muitos cientistas e filósofos, em contrapartida, sustentam que tal expansionismo científico é um abuso da ciência, e que o grande sucesso desta se deve em parte à modéstia de suas ambições explanatórias.

Gerações de escritores que promoveram o modelo do conflito tendem a se apoiar em exemplos históricos para sustentar sua tese. Episódios como o choque de Galileu com a Igreja em torno da teoria heliocêntrica, e a suposta oposição da Igreja à evolução Darwiniana são os exemplos costumeiros. Entretanto, apenas a extrema pobreza de conhecimento em literatura de história da ciência permite o emprego de tal material para sustentar o modelo do conflito. De fato, como discutiremos abaixo, a literatura em geral tende a subverter este modelo.10

Uma crítica do modelo do conflito
O grau de popularidade de uma ideia no domínio público é um critério pobre para julgar a sua veracidade. Teorias científicas são aceitas com base em dados, não por voto popular. Aqueles que desejam avaliar o modelo do conflito como cientistas devem estar mais interessados em evidências do que em popularidade.

O fato de o modelo do conflito ser largamente sustentado por opostos polares, nas margens mais extremas, tanto da comunidade científica como da religiosa, deveria nos fazer cautelosos. O fato é que o número de cientistas especializados em atacar a religião em nome da ciência é um minúsculo subconjunto da comunidade científica. Porém, com a atenção da mídia a voz dos extremistas é amplificada. Polos opostos têm mais em comum do que gostariam de admitir. Mais interessante, no entanto, é a questão das crenças religiosas dos cientistas. Se o modelo do conflito tivesse algum valor, poderíamos prever uma relação negativa entre a prática religiosa e a científica. Nos Estados Unidos, no entanto, os dados sugerem que a crença em um Deus pessoal que responde a orações permaneceu virtualmente inalterada, em torno de 40% dos cientistas entre 1916 e 1996.11 Além disso, há na Europa e nos Estados Unidos uma pletora de sociedades e periódicos envolvendo cientistas que desejam investigar as implicações de sua ciência para a sua fé, e tais atividades não indicam qualquer incompatibilidade intrínseca entre ciência e crença religiosa.12

Os abusos ideológicos da ciência contribuíram muito para o modelo do conflito, mas tais aplicações ideológicas não são intrínsecas às teorias. Não obstante, pessoas frequentemente usam o prestígio da ciência e das “Grandes Teorias”, particularmente, para fundamentar suas ideologias particulares. O fato de a teoria darwiniana, por exemplo, ter sido usada para apoiar o capitalismo, o comunismo, o racismo, o teísmo e o ateísmo deveria, ao menos, levar a uma pausa para reflexão.13

O que solapa o modelo do conflito, talvez mais do que qualquer outra coisa, é a contribuição da crença religiosa para a emergência histórica da ciência moderna. Muitos dos filósofos naturais com papéis chave na fundação das disciplinas científicas atuais viam a sua fé em Deus como uma motivação importante para a exploração e a compreensão do mundo criado por ele.14 A emergência de aspectos específicos da inquirição científica foi nutrida pela fé cristã. A atitude empírica (= experimental), por exemplo, tão central para desenvolvimento da ciência moderna, foi estimulada pela noção de um relacionamento contingente entre Deus e a ordem criada, de modo que as propriedades da matéria poderiam ser determinadas apenas experimentalmente, ao invés de deduzidas de primeiros princípios. A ideia de leis científicas, articulada claramente pela primeira vez nos escritos de Newton, Boyle e Descartes, foi nutrida pela ideia bíblica de Deus como legislador. Hoje nenhum historiador da ciência crê que o modelo do conflito forneça uma estrutura abrangente e satisfatória para explicar as interações históricas entre ciência e religião. Quando a fricção ocorria, tratava-se mais de rusgas entre primos de primeiro grau, e jamais aquele tipo de inimizade que nasce da incompatibilidade essencial.15

2. O modelo “MNI”
Stephen Jay Gould popularizou a noção de que ciência e religião pertenceriam a “Magistérios Não-Interferentes”, ou MNI, em sua obra “Rocks of Ages”.16 Segundo ele, ciência e religião operam em compartimentos separados, lidando com questões de tipos muito diferentes; assim, por definição, não pode haver conflito entre elas.

Gould sustentou ainda que a ciência lida com fatos, ao passo que a religião lida com ética, valores e propósito. Gould não foi o primeiro a sustentar isso, mas vamos aproveitar o rótulo “MNI”, inventado por ele, por ser muito conveniente.

Apoio para o modelo
A melhor evidência em favor do modelo MNI é precisamente aquela citada por Gould: de fato, ciência e religião levantam questões de tipos bem diferentes sobre o mundo. A ciência se interessa por explicações mecanicistas, que elucidem a origem e o funcionamento das coisas. Ela busca generalizações amplas, que descrevam as propriedades da matéria para viabilizar predições acuradas. A ciência busca expressões matemáticas de dados, sempre que possível. O teste experimental e a replicabilidade são fatores críticos para o método científico. A religião, em contraste, se interessa por questões últimas; como no famoso aforismo de Leibiniz: “Porque há alguma coisa ao invés de nada?” A religião quer saber, em primeiro lugar, porque a ciência é possível. Nas palavras de Stephen Hawking: “O que põe fogo nas equações?” Porque o universo se dá ao trabalho de existir? Teria a vida um significado ou propósito supremo? Deus existe? Como deveríamos agir no mundo? Gould estava certo: ciência e religião levantam questões de tipos diferentes.

Uma crítica do modelo MNI
Três críticas principais podem ser levantadas contra o MNI. A primeira é histórica. O próprio Gould mina fatalmente o seu modelo ao escrever cativantes ensaios sobre figuras chave na história da ciência cujas ideias foram grandemente influenciadas por suas crenças religiosas.17 O tráfego constante de ideias entre a ciência e a religião ao longo de séculos, e ainda hoje, é um ponto contra a tese de que elas existem em domínios separados.

A segunda crítica principal destaca que, embora a ciência e a religião levantem, sim, questões qualitativamente diferentes, o fato é que ambas se referem à mesma realidade. A ciência deve seu sucesso à natureza restrita de suas indagações. No entanto, mesmo este foco limitado põe à mostra fatos que, para muitos cientistas, têm sentido religioso. O Professor Paul Davies, por exemplo, um cosmologista que não adota nenhuma crença religiosa tradicional, descobriu-se forçado, diante do elegante ajuste-fino das leis que estruturam o universo, a considerar as explicações religiosas.18 Tais conclusões não deveriam acontecer, se o MNI fosse correto em sua versão “forte”.

Um terceiro problema do modelo advém do fato bastante óbvio de que tanto a ciência como a religião são atividades profundamente humanas. O cientista com crenças religiosas, que trabalha na segunda-feira com uma equipe de pesquisa na bancada de um laboratório, é a mesma pessoa que adora a Deus com outras pessoas no domingo, em uma igreja. Embora as duas atividades sejam claramente distintas, o cérebro simplesmente não foi projetado para compartimentalizar as diferentes facetas de nossas vidas, como se elas carecessem de conexões. De fato, muitos cristãos encontram sinergias poderosas entre a vida de fé e a vivência científica.19 Ademais, crentes religiosos cuja fé requer bases evidenciais argumentariam que suas crenças religiosas são tão factuais como as suas crenças científicas. Estas características bem estabelecidas do pensamento e da experiência religiosa não se encaixam prontamente com o modelo MNI.

3. Modelos de fusão
Modelos de fusão representam o oposto polar do modelo MNI, na sua tendência de apagar completamente a distinção entre os tipos científico e religioso de conhecimento, ou na tentativa de utilizar a ciência para construir sistemas religiosos de pensamento, ou vice-versa. O uso do plural (“modelos”) é necessário porque há uma diversidade de estratégias para a fusão.

Modelos de fusão que partem da ciência para a religião são mais favorecidos em sistemas monistas do que em sistemas dualistas de pensamento. Pensar o conhecimento de Deus (teologia) como algo distinto do conhecimento da ordem material (ciência) é mais fácil em culturas influenciadas pelas fés abraâmicas, que tradicionalmente distinguem entre Deus e sua criação. Em contraste, para culturas influenciadas pelos sistemas monistas de pensamento do hinduísmo e do budismo, nos quais todo conhecimento é visto como parte da mesma realidade suprema, até mesmo o falar sobre “relacionar conhecimento científico e religioso” pode soar bem ambíguo. Se todo conhecimento é enfim uma parte da mesma realidade, como em princípio estes domínios podem estar separados?

Essa cosmovisão vem alimentando livros que sugerem que a mecânica quântica, por exemplo, se encaixa particularmente com o pensamento religioso oriental, exemplificando assim a abordagem de “fusão”.20 A teologia do processo tem alguma afinidade com os sistemas monistas de pensamento, e em sua “versão forte” exemplifica o modelo de fusão.21 Vindo da direção oposta, os criacionistas apresentam convicções religiosas como se fossem ciência, buscando fundir conhecimento científico e religioso pela priorização das crenças religiosas.

Apoio para os modelos de fusão
A diversidade entre as tentativas de fundir conhecimento científico e religioso é tal que precisaríamos tratar cada caso separadamente, o que nosso espaço não permite. Mas em geral, os modelos de fusão têm o mérito de usualmente (mas nem sempre) levarem a sério tanto a ciência como a religião; tanto que gostariam de lançar mão das convicções de uma para construir elementos da outra. Tais tentativas devem ser claramente diferenciadas da teologia natural, para a qual certas propriedades da natureza, reveladas pela ciência, expressam a existência e/ou a natureza de Deus. Os modelos de fusão vão além da teologia natural propondo que o próprio conteúdo da ciência informe o conteúdo da crença religiosa, e vice-versa.

Uma crítica dos modelos de fusão
Duas críticas mais importantes podem ser feitas aos modelos de fusão. A primeira advém da importante decisão tomada pelos fundadores da Royal Society, com sua divisa: “Nullius in verba” (“a mera palavra não é suficiente”), para focalizar a filosofia natural e evitar discutir religião em seus eventos. A decisão não se deveu de modo algum à ausência de convicções cristãs por sua parte -- longe disso -- mas ao seu reconhecimento de que o sucesso no estudo da criação requer um foco em suas propriedades, ao invés do foco em seu sentido supremo. Em retrospecto, a decisão parece ter desempenhado um importante papel, ao encorajar o desenvolvimento da ciência como um corpo distinto de conhecimento sobre o mundo, marcadamente separado, no que tange ao conteúdo de suas publicações, dos mundos da política e da religião. De um ponto de vista pragmático, foi um enorme avanço. Uma grande força da comunidade científica é o fato de pessoas de qualquer fé ou nenhuma poderem cooperar na realização de certos objetivos limitados usando métodos, técnicas e veículos de publicação padronizados. Ademais, uma forte tendência à perda de clareza é o que se obtém quando conceitos científicos e religiosos são misturados confusamente no mesmo discurso.

A segunda crítica dirige-se às tentativas de construir as crenças religiosas a partir da ciência corrente. O problema com essa abordagem é que a ciência se move muito rápido. As teorias da moda de hoje são os restos de amanhã. Os que fundamentam suas crenças religiosas em teorias científicas talvez se descubram edificando sobre a areia.

4. O modelo da complementaridade
Este modelo sustenta que a ciência e a religião referem-se à mesma realidade a partir de diferentes perspectivas, provendo explanações complementares, de modo algum rivais. A linguagem da complementaridade foi originalmente introduzida pelo físico Niels Bohr para relacionar as descrições da matéria como partícula e como onda; foi necessário sustentar ambas simultaneamente para fazer justiça aos dados. Desde o tempo de Bohr a ideia de complementaridade vem sendo grandemente ampliada, no interior do diálogo entre religião e ciência, de modo a incluir qualquer entidade que requeira múltiplos níveis de explicação para dar conta de sua complexidade.

O exemplo clássico é a multiplicidade de descrições necessárias à compreensão do indivíduo humano, que correspondem à variedade de níveis de análise proporcionados por disciplinas como a bioquímica, a biologia celular, a fisiologia, a psicologia, a antropologia e a ecologia. Nenhuma dessas descrições científicas é uma rival das outras -- todas são necessárias à nossa compreensão da complexidade dos seres humanos no contexto de seu ambiente. Um relacionamento complementar semelhante é o que une cérebro e mente. As descrições científicas dos eventos neuronais que ocorrem durante a atividade cerebral complementam a linguagem do “eu”, da agência pessoal, que reflete os pensamentos da mente consciente. Ignorar um nível em favor de outro empobrece a nossa compreensão da personalidade humana.

Falando a linguagem da complementaridade, diríamos que a religião provê um conjunto adicional de explanações, fora dos poderes de avaliação da ciência, ligado a questões factuais sobre o propósito supremo, o valor e o sentido das coisas. Nada, nestes níveis explanatórios da religião, precisa existir em rivalidade com os níveis explanatórios da ciência: as descrições são complementares. Assim como é possível, em princípio, usar imagens cerebrais para descrever a atividade neuronal do cérebro de uma cientista enquanto ela avalia dados em seu laboratório e pondera sobre o seu significado para certa teoria, é igualmente possível realizar o mesmo experimento com uma pessoa (a mesma, eventualmente) em outro contexto, enquanto ela mesma avalia a evidência em favor de uma crença religiosa. Porém, em nenhum caso os dados gerados por neuroimagem poderiam ser usados para justificar (ou não) as conclusões internas à reflexão dessas pessoas; tais conclusões teriam de se basear nas considerações racionais feitas pelas próprias pessoas envolvidas. As reflexões pessoais e as descrições da atividade cerebral durante tais reflexões fornecem percepções complementares de uma realidade unificada. Mas “ambos” os relatos são essenciais para fazer justiça ao fenômeno.

Apoio para o modelo da complementaridade
O modelo tem a grande vantagem de levar a sério tanto a explicação científica como a religiosa, fazendo justiça a ambas. Em vez de cair na armadilha do reducionismo ingênuo, de assumir que as explicações científicas seriam as únicas relevantes, aspira considerar as questões mais amplas e últimas que transcendem a ciência; mas sem desqualificar o conhecimento científico. Ao mesmo tempo, o modelo tende a subverter os modelos de fusão, ao mostrar que estes ou investem as teorias científicas de implicações religiosas injustificadas, ou incorporam crenças religiosas a um contexto científico de modo inapropriado, quando na realidade a situação requer a explicação multifacetada que o modelo da complementaridade proporciona.

O modelo também subverte o cenário desejado por Dawkins, citado acima, no qual as explicações científica e religiosa aparecem como rivais.

Uma crítica do modelo da complementaridade
Duas críticas principais têm sido assestadas contra o modelo. A primeira é a de que ele pode escorregar rapidamente para uma forma MNI, fugindo assim à difícil tarefa de reunir dados aparentemente irreconciliáveis em uma teoria unificada. Esta é uma crítica válida levantada por Donald MacKay, para quem explicações complementares seriam justificadas “apenas quando concluímos que ambas são necessárias para fazer justiça à experiência”. 22

Conforme a segunda crítica, o modelo pode dar a impressão de que a ciência é a esfera da verdade objetiva e dos fatos, ao passo que a religião seria a esfera das convicções subjetivas e dos valores. Porém, não há razão, em princípio, para supor que descrições morais e religiosas não possam ser vistas como factuais tais como as descrições científicas. Podemos aceitar, por exemplo, como um fato moral, que o estupro e o canibalismo são errados. Se aceitarmos tais afirmações como fatos morais, não parecerá irracional argumentar que as dimensões morais ou religiosas em nossas descrições complementares da realidade podem ser tão factuais quanto a descrição científica.

Conclusões
Não há um modelo único que abranja adequadamente todas as complexidades das interações variadas entre a ciência e a religião. A despeito disso, um modelo parece ser claramente mais útil. Para aqueles interessados em dados, mais do que em retórica, o modelo do Conflito carece de plausibilidade, embora a sua exclusão não implique a ausência de fricção ocasional. Igualmente, o modelo MNI não convence, ao menos em sua forma “forte”. Os modelos de Fusão correm o risco de apagar os limites entre diferentes corpos de conhecimento, que deveriam ser mantidos distintos a bem da clareza. O modelo da complementaridade não dá conta de todas as interações entre a ciência e a religião, mas é válido para muitas delas, reconhecendo que a realidade é multifacetada. Aqueles que pensam que o conhecimento fornecido por sua própria especialidade é o único conhecimento que importa deveriam abrir suas mentes e ser menos paroquiais.

Notas
1. Watson J. D. and Crick F. H. C. “Nature” (1953) 171, 737-738.
2. John Hedley Brooke: 161.58.114.60/webexclusives.php?article_id=590
3. Barbour, I. “When Science Meets Religion”. San Francisco: Harper (2000); Haught, J. F., “Science and Religion; From Conflict to Conversation”. Paulist Press (2005); Stenmark, M. “How to Relate Science and Religion”. Grand Rapids/Cambridge: Eerdmans (2004).
4. Worral, J. “Science Discredits Religion”. In: Peterson, M. L. e Van Arragon, R. J., ed. “Contemporary Debates in Philosophy of Religion”. Blackwell (2004), p. 60.
5. “Sixth Form” é o termo usado no sistema educacional britânico para designar os estudos preparatórios para o exame nacional “A Level”, necessário para o ingresso na Universidade. A pesquisa foi feita entre esses estudantes (N. T.).
6. Wilkinson, D. “Hawking, Dawkins and The Matrix”. In: Alexander, D., ed. “Can We Be Sure About Anything?”. Leicester: Apollos (2005) p. 224.
7. Dawkins, R. “River Out of Eden”. Harper Collins (1995), p. 46-47. Em Português: “O Rio que Saía do Éden”. Rocco (1996).
8. Miller, J.D., Scott, E.C. and Okamoto, S. “Public Acceptance of Evolution”. “Science” (2006) 313: 765-766.
9. Wilson, E.O. “Consiliência; A Unidade do Conhecimento”, Campus (1999).
10. Para leitura posterior: Brooke, J. H. “Ciência e Religião; Algumas Perspectivas Históricas”. Porto Editora, 2005. Lindberg, D.C. “The Beginnings of Western Science”, University of Chicago Press (1992); Lindberg, D. e Numbers, R., ed. “When Science and Christianity Meet”. University of Chicago Press (2004); Brooke, J. & Cantor, G. “Reconstructing Nature; The Engagement of Science and Religion”. T & T Clark, Edinburgh (1998); Harrison, P. “The Bible, Protestantism and the Rise of Natural Science”. Cambridge University Press (1998).
11. Larson, E. J. and Witham, L. “Scientists are still keeping the faith”, “Nature” (1997) 386, 435-436. Outra investigação ampla, organizada pela Comissão Carnegie entre 60 mil professores universitários nos Estados Unidos, aproximadamente um quarto de toda a docência universitária no país, mostrou que 55% daqueles envolvidos em ciências físicas e ciências da vida descreveram a si mesmos como religiosos, e cerca de 43% deles vão à igreja regularmente.
12. Por exemplo, “Christians in Science” (www.cis.org.uk); the “American Scientific Afilliation” (www.asa3.org); the “International Society for Science and Religion” (www.issr.org.uk), mas há muitas outras; ver links em: www.st-edmunds.cam.ac.uk/faraday/links.php.
13. Alexander, D. R. “Rebuilding the Matrix; Science & Faith in the 21th Century”, Oxford: Lion (2001), cap. 7.
14. Veja a nota 10.
15. Veja a nota 10.
16. “Non-Overlapping Magisteria -- NOMA”. Gould, S.J., “Os Pilares do Tempo”, Rocco (2002).
17. Por exemplo, Gould, S.J., sobre o reverendo Thomas Burnet (autor da obra setecentista “The Sacred Theory of Earth”), In: “Ever Since Darwin”, Penguin Books (1980), cap. 17, p. 141-146.
18. Davies, P. “The Mind of God; The Scientific Basis for a Rational World”. Simon e Schuster, ed. Reimpressa (1993); Davies, P. “The Goldilocks Enigma: Why is the Universe Just Right for Life?” London: Allen Lane (2006).
19. Berry, R.J., ed. “Real Science, real faith: 16 scientists discuss their work and faith”. Monarch, reprint (1995).
20. P. ex. Zukav, G. “A Dança dos Mestres Wu Li; Um Panorama da Nova Física”, ECE (1979).
21. Whitehead, A. N. “Process and Reality; An Essay in Cosmology”, New York: Macmillan (1929). Critical edn. By Griffin, D. R. & Sherbourne, D.W., New York: Macmillan (1978).
22. MacKay, D.M. “The Open Mind”, Leicester: IVP (1988), p 35.


Denis Alexander é diretor do Faraday Institute for Science and Religion, e “Fellow” do St Edmund’s College, em Cambridge; é também “Senior Affiliated Scientist” no Babraham Institute, em Cambridge, onde foi anteriormente chefe do Programa de Imunologia Molecular e do Laboratório de Sinalização e Desenvolvimento de Linfócitos. O Dr. Alexander é também editor da revista “Science & Christian Belief” e autor de “Rebuilding the Matrix – Science and Faith in the 21th Century” (Lion, 2001).

* Esse artigo é parte da série “Faraday Papers”, publicada pelo Instituto Faraday para Ciência e Religião, uma organização sem fins lucrativos para educação e pesquisa localizada em Cambridge, Reino Unido. Uma lista desses artigos está disponível em www.faraday-institute.org. Traduzido por Guilherme de Carvalho.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Eu não escolhi a família em que nasci

Rev. Jeremias Carneiro

Há um tempo na vida do ser humano, especialmente na adolescência, em que questionamos a razão de termos nascido na família que temos e somos. Desprezamos a idéia de partilharmos dos mesmos hábitos, da mesma genética, da mesma fé, da mesma cultura e valores que já encontramos à nossa disposição.

Percebemo-nos vítimas de uma conspiração da qual não podemos fugir, vencer ou desfazer. Sentimentos de amargura, revolta e distanciamento norteiam as nossas ações. Nesse tempo, somos um poço de revolta. Alguns pais não dão conta de lidar com esta fase da existência dos filhos. Queremos estabelecer os nossos próprios valores e à luz desta busca contestamos a tudo e a todos. Muitas vezes dissemos e agora ouvimos: "Eu não pedi para nascer."

Na adolescência parece que estamos sempre em guerra, emburrados e desdenhando da má sorte de nossos pais por nos terem gerado. Isto, como diz o escritor do Eclesiastes, também passa. O desejo pela auto-afirmação se esvai e a vida volta ao curso de outrora.

E o que faz a vida regressar ao leito da quietude? O fato de chegarmos ao entendimento de que a família na qual nascemos não é fruto da nossa escolha. Nascemos ali. Crescemos entre aqueles que nos foram preparados por Deus. Somos fruto de relações que nos antecederam. Elas já nos trazem legados questionáveis, é verdade, mas não podemos desprezar a nossa família por não ser o que gostaríamos que ela fosse.

É certo, não podemos escolher a família na qual nascemos. Por essa razão, muitos de nós rejeitamos a sua cor, estética, pobreza, a simplicidade dos pais, a falta de cultura desses, a obesidade, a magreza e outros.

Amigo, nós não escolhemos três coisas nesta vida: Aonde vamos nascer (país, cidade, família), quando morreremos e de que morreremos. A família que tenho é algo que eu não escolho. Contudo, eu posso escolher a família que eu quero ser. Posso decidir ser uma família perdoadora, amorosa, cúmplice, dedicada a Deus, ao próximo, envolvida na igreja, envolvente em seus relacionamentos.

Isso está em meu poder. É possível construir um lar de valores, de fé, de amizade e de pais e filhos convertidos ao mesmo propósito. Essa é uma escolha possível, mas que vai demandar muito esforço, investimento de tempo e afeto.

Não se revolte pela família que você tem. Veja em sua família uma oportunidade de crescimento para sua vida cristã, pessoal e social. Não perca tempo com a família que você sonha em ter, invista com o coração na família que você pode ser. Fale com Deus sobre estas coisas. Amém.


publicado no boletim da 2a Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte em 10/05/09

domingo, 10 de maio de 2009

Duas mães no dia das mães

A Folha de São Paulo do dia 10 de maio de 2009 trouxe uma pequena notícia, acompanhada pela entrevista de uma professora de sociologia da Universidade Estadual Paulista, à página terceira, do caderno Mais.

Um casal homossexual solicitou à justiça que ambas constem como mães do casal de gêmeos resultante de uma fertilização in vitro. Uma doou o óvulo, fecundado com espermatozoide de doador anônimo, e a outra gestou e deu à luz.

Segunda a professora Lucila Scavone, o pedido sem precedentes faz sentido, pois o limite entre o social e o biológico são tênues. Gradativamente a ligação biológica tem sua importância reduzida frente aos outros vínculos afetivos e sociológicos.

Alerta significativo é a banalização de um procedimento médico planejado para auxiliar casais inférteis se banalizar no futuro, com a consequente mercantilização da vida.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

FRENTE EVANGÉLICA - INFORMATIVO 03/2009 (19 de abril a 03 de maio)

INFORMATIVO FPE

03/2009: 19 de abril a 03 de maio

 


IGREJA

 


NOVAS PROPOSTAS

Igreja - Câmara

IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR PODERÁ SER HOMENAGEADA

Apresentado o Requerimento 4617/2009, do Dep. Mário de Oliveira (PSC/MG), que requer a convocação de sessão solene da Câmara, para o dia 13 de novembro, às 09h, em homenagem ao aniversário da Igreja do Evangelho Quadrangular.

 

VOTO DE LOUVOR À IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM ALTAMIRA, NO PARÁ

Através do Requerimento 4659/2009, o Dep. Wandenkolk Gonçalves (PSDB/PA), requereu Voto de Louvor à Igreja Evangélica Assembléia de Deus do Município de Altamira - PA, pela comemoração dos seus 70 anos de sua fundação.

 

Igreja / Teologia - Senado

AUDIÊNCIA PÚBLICA DEBATERÁ PROPOSTA DO Sen. CRIVELLA SOBRE TÉOLOGO

Sen. Paulo Paim, relator na Comissão de Assuntos Sociais do Projeto de Lei 114/2005, do Sen. Marcelo Crivella, sobre a profissão de teólogo, apresentou o Requerimento 30/2009 requerendo realização de Audiência Pública, com vistas a instruir a referida proposta.

O requerimento, já aprovado, lista como convidados representantes da PUC/RS e das Faculdades EST, ESTEF e UNILASALLE; o Prof. Vitor Feller (Diretor do ITESC de Florianópolis), um Conselheiro da SOTER, além de outros a serem definidos pela comissão.

A proposta é considerada positiva por distinguir o sacerdócio da profissão de Teólogo.

 

Outras Religiões - Câmara

CENTENÁRIO DO MÉDIUM CHICO XAVIER PODE SER OBJETO DE SESSÃO SOLENE

O Dep. Paulo Piau (PMDB/MG) apresentou em 29 de abril o Requerimento 4656/2009, pela convocação de Sessão Solene da Câmara, com vistas a homenagear o centenário de nascimento do médium Chico Xavier.

 

REQUERIDA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR ACORDO BRASIL - SANTA SÉ

O Dep. Damião Feliciano (PDT/PB) apresentou em 24 de abril na Comissão de Relações Exteriores o Requerimento 260/2009 solicitando que seja realizada Audiência Pública a fim de discutir a Mensagem 134/2009, do Executivo, que submete à apreciação do Congresso Nacional, o texto do Acordo entre o Brasil e a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil.

A proposta foi retirada de pauta em reunião daquela Comissão no dia 29 de abril.

 

Outros - Câmara

COMISSÃO PODERÁ CONHECER A SEGURANÇA PÚBLICA EM ISRAEL

O Requerimento 141/2009, apresentado pelo Dep. Hugo Leal (PSC/RJ) na Comissão de Segurança Pública, requer o deslocamento de representantes daquela Comissão para visitar o Estado de Israel com o intuito de obter informações acerca das inovações tecnológicas no campo de segurança pública.

 

 

OUTRAS ALTERAÇÕES

Igreja - Câmara

APROVADO PL QUE INSTITUI DIA DA PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO

Foi aprovado em 22 de abril na Com.Constituição e Justiça, o PL 2828/2003, do Dep. Neucimar Fraga (PR/ES), que institui o dia 31 de Outubro como Dia Nacional da Proclamação do Evangelho. A matéria, após aprovação da redação final, seguirá para o Senado.

 

Igreja - Senado

DESIGNADO RELATOR DE PROPOSTA SOBRE INJÚRIA RELIGIOSA

O Sen. Romeu Tuma (PTB/SP) foi designado em 30 de abril relator na Comissão de Constituição e Justiça do Projeto de Lei da Câmara 37/2009 (PL 36/1999 do Dep. Paulo Rocha - PT/PA) que estabelece que no caso da injúria consistir de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, caberá representação do ofendido, tornando pública a ação judicial.

 

Igreja / Ministério - Câmara

PROPOSTA QUE ACABA COM PRISÃO ESPECIAL PARA SACERDOTES RELIGIOSOS RETORNA À CÂMARA

O PL 111/2008, do Executivo, que após aprovação na Câmara foi alterado pelo Senado, retorna à apreciação da Câmara com a identificação EMS (Emenda do Senado) 111/2008.  Dentre as mudanças, a proposta que altera dispositivos do Código de Processo Penal, está a que proíbe a concessão de prisão especial, salvo a destinada à preservação da vida e da incolumidade física e psíquica do preso, assim reconhecida por decisão fundamentada da autoridade judicial ou, no caso de prisão em flagrante ou cumprimento de mandado de prisão, da autoridade policial encarregada do cumprimento da medida.

Assim, perdem direito à prisão especial, entre outros, os governadores, deputados, senadores, prefeitos e ministros de confissão religiosa (padres, pastores e demais sacerdotes religiosos).

 

Igreja / Discriminação Religiosa - Câmara

ABERTO PRAZO PARA EMENDAS NO SENADO À PL QUE ABORDA INJÚRIA COM ELEMENTO RELIGIOSO

Identificado no Senado como Projeto de Lei da Câmara 037/2009, a proposta do Dep. Paulo Rocha (PT/PA), que estabelece que no caso da injúria consistir de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, caberá representação do ofendido, tornando pública a ação judicial, será analisado em decisão terminativa pela Com. Constituição e Justiça do Senado.

O prazo para apresentação de Emendas iniciou-se no dia 23 e se estendeu até o dia 29 de abril.

 

Igreja / Tributos - Senado

PL SOBRE ISENÇÃO PARA TEMPLOS É REJEITADO PELA CCJ DO SENADO

Foi rejeitado, no dia 29 de abril, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o Projeto de Lei 231/2005, do Sen. Gerson Camata (PMDB/ES), que confere isenção do pagamento de foro e taxas de ocupação, relativos aos terrenos de marinha e acrescidos, aos templos de qualquer culto e às instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos.

O parecer do Sen. Antonio Carlos Valadares, aprovado, era contrário à matéria.

 

Outras Religiões - Câmara

DESIGNADO NA CCJ RELATOR DO PL SOBRE PATRONO DA CONSTRUÇÃO CIVIL.

O Dep. Marcelo Ortiz (PV-SP), será o relator na Com. Constituição e Justiça do PL 3631/2008, do Dep. Dr. Talmir (PV/SP), que declara Santo Antônio de Sant'Anna Galvão Patrono da Construção Civil no Brasil.

Foi aberto prazo de 5 sessões ordinárias a partir de 27 de abril, para apresentação de emendas ao PL.

 

 

EVENTOS

 

SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AO 48º ANIVERSÁRIO DA IGREJA NOVA VIDA

Câmara dos Deputados - 22 de maio de 2009 - 15 h

Autores: Dep. William Woo e Dep. Neilton Mulim


 

OUTROS TEMAS

 


NOVAS PROPOSTAS

Vida - Câmara

PROPOSTA SEMANA DA VIDA

Foi apresentado em 28 de abril, o PL 5126/2009, do Dep. Dr. Talmir (PV/SP), que institui a Semana da Vida a ser celebrada de 1 a 8 de outubro de cada ano.

 

Trabalho / Discriminação - Câmara

PL PREVÊ INDENIZAÇÃO POR DISCRIMINAÇÃO EM TRABALHO

O PL 5128/2009, do Dep. Sebastião Bala Rocha (PDT/AP), apresentado em 28 de abril, dispõe sobre indenização em caso de discriminação.  A proposta altera a Consolidação das Leis do Trabalho.

Art. 1º A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei 5452/1943, passa a vigorar acrescida do seguinte artigo:

Art. 461-A Verificada a diferença de salários, de exercício de funções ou de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor, estado civil, ou por ser o trabalhador portador de deficiência, é devida indenização, nos seguintes termos:

 

Adoção - Câmara

FILHO ADOTIVO E CRIANÇA SOB GUARDA BENEFICIADOS EM PLANO DE SAÚDE

O Dep. Waldir Neves (PSDB/MS) apresentou em 29 de abril o PL 5143/2009, que altera a Lei 9656/1998 (Planos e seguros privados de assistência à saúde) para a inclusão da inscrição de filho adotivo, adotando e criança ou adolescente sob guarda, aproveitando os prazos de carência contratado pelo adotante ou guardião.

 

Direito Civil - Câmara

GOVERNO APRESENTA PL PARA DISCIPLINAR A AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A TUTELA DE INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS OU INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Através do PL 5139/2009, de 29 de abril, o  Executivo está disciplinando a ação civil pública para a tutela de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos.NOTA: É preciso atenção quanto à apresentação de emendas sobre temas correlatos

 

 

OUTRAS ALTERAÇÕES

Família - Câmara

APROVADO PL QUE FACILITA DIVÓRCIO NO EXTERIOR

Foi aprovado dia 23 de abril na Com. Constituição e Justiça, o PL 791/2007, do Dep. Walter Ihoshi (PFL/SP), que autoriza as autoridades consulares celebrarem a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros no exterior. Após aprovação da redação final, a matéria seguirá para o Senado.

 

47 EMENDAS APRESENTADAS A SUBSTITUTIVO DO PL QUE REGULAMENTA UNIÃO ESTÁVEL

Foram apresentadas 47 emendas - a maioria elaborada pela Frente Parlamentar Evangélica - ao substitutivo do Dep. José Linhares (PP-CE), ao PL 674/2007, do Dep. Vaccarezza (PT/SP), que regulamenta o art. 226 § 3º da Constituição Federal, união estável, institui o divórcio de fato; estabelece o estado civil das pessoas em união estável como o de Consorte.

Ao PL original, foi anteriormente acatada emenda apresentada pelo Dep. Antonio Bulhões (PMDB/SP) para evitar o reconhecimento da união homossexual.

 

Família - Senado

PL SOBRE ADMISSÃO DE PATERNIDADE RECEBE PARECER FAVORÁVEL

Recebeu parecer favorável do Sen. Antonio Carlos Júnior (DEM/BA) na Comissão de Constituição e Justiça, o Projeto de Lei da Câmara 31/2007 (PL 064/1999, da Dep. Iara Bernardi - PT/SP) que estabelece admissão tácita de paternidade no caso que o suposto pai recuse a submeter-se a exame de material genético - DNA.

 

Planejamento Familiar - Câmara

PROPOSTA SOBRE ESTERILIZAÇÃO E OFERTA DE MÉTODOS DE CONTRACEPÇÃO TEM RELATOR NA CCJ

Será relatado na Comissão de Constituição e Justiça, pela Dep. Alice Portugal (PCdoB-BA), o PL 313/2007, do Dep. Maurício Trindade (PR/BA), que estabelece a oferta de pelo menos três métodos de contracepção reversíveis, um método irreversível para homem e um para mulher; possibilita a esterilização voluntária a partir dos 23 anos           e elimina o consentimento expresso do cônjuge para a esterilização; diminui o prazo das penas previstas aos médicos por ato em desacordo com a lei; acrescenta pena de prisão a gestores municipais que não atenderem em 90 dias os pedidos de métodos contraceptivos reversíveis ou a esterilização voluntária.-  Essa última modificação é merecedora de discussão considerando a proposta de redução da pena para médicos.

 

Discriminação - Senado

AGUARDA RELATOR NA COM. ASSUNTOS SOCIAIS, PL SOBRE OUVIDORIA DO SENADO DESTINADA A DENÚNCIAS DE PRECONCEITO.

O Projeto de Resolução do Senado 004/2003, do Sen. Paulo Paim (PT/RS), que institui a Ouvidoria Permanente do Senado para encaminhar denúncias de preconceitos e discriminações, encontra-se na Comissão de Assuntos Sociais aguardando designação de relator. A matéria foi recentemente aprovada pela Com. Constituição e Justiça daquela Casa.

 

Discriminação / Homofobia - Senado

REAPRESENTADO PARECER FAVORÁVEL A PROJETO SOBRE HOMOFOBIA

A Sen. Fátima Cleide (PT/RO) reapresentou em 29 de abril, na Comissão de Assuntos Sociais, parecer favorável ao polêmico Projeto de Lei da Câmara 122/2006 (PL 5003/2001, da Dep. Iara Bernardi  - PT/SP), que estabelece sanção à prática discriminatória em razão da orientação sexual das pessoas.

 

Sexo / Educação - Câmara

PL SOBRE ENSINO DA SEXUALIDADE E DAS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS TEM RELATOR DESIGNADO NA CCJ

O PL 3995/1997, do Dep. Enio Bacci (PDT/RS), que estabelece a inclusão obrigatória da disciplina Sexualidade e Doenças Sexualmente Transmissíveis, Formas de Contágio e Prevenção, no currículo da escola fundamental, será analisado na Com. Constituição e Justiça pelo Dep. Márcio França (PSB-SP)

 

Entidades / Tributos - Câmara

PL QUE BENEFICIA A QUEM EFETUA DOAÇÕES A ENTIDADES TERÁ NOVO RELATOR NA COMISSÃO DE FINANÇAS

Foi devolvido sem manifestação pelo Dep. Colbert Martins (PMDB-BA) na Comissão de Finanças, o PL 2426/1996, do Dep. Cunha Bueno (PPB/SP), que restabelece a dedutibilidade, para efeito da apuração da base de cálculo do imposto de renda das pessoas físicas, das doações efetuadas às entidades de que trata o art. 1º da Lei 3830/1960.

A proposta já foi aprovada na Comissão de Seguridade Social e agora será relatada pelo Dep. João Dado (PDT-SP)

 

NOTÍCIAS

Drogas

CURSO DO GOVERNO CAPACITARÁ RELIGIOSOS E ENTIDADES QUE ATUAM NO TRATAMENTO DE DEPENDENTES QUÍMICOS

A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas em parceria com o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), está desenvolvendo o Projeto Prevenção do Uso de Drogas em Instituições Religiosas e Movimentos Afins – "Fé Na Prevenção".

O curso é gratuito e será oferecido na modalidade de Ensino a Distância objetivando capacitar cinco mil pessoas durante dois meses, com carga horária de sessenta horas. Será dada preferência a lideranças religiosas de diferentes doutrinas (padres, bispos, pastores) e movimentos afins que atuem na prevenção e acolhimento de pessoas com problemas decorrentes do uso de álcool e/ou outras drogas. Informações podem ser obtidas no site http://www.fenaprevencao.org.br/senad/.

 

Discriminação - Câmara

MINISTRA APOIA PROJETO DE CRIMINALIZAÇÃO DO PRECONCEITO DE GÊNERO

A ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, defendeu no dia 29 de abril, em audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o Projeto de Lei 4857/09, que criminaliza a discriminação contra a mulher, principalmente no ambiente de trabalho.

Para a ministra, o texto apresentado pelo Dep. Valtenir Pereira (PSB-MT) vai ao encontro do Segundo Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, lançado pelo governo no ano passado, e pode ser o embrião de um estatuto contra a desigualdade de gênero no País, que abarque também o preconceito contra gays, lésbicas e transsexuais, entre outros. Pode assim, se tornar um grande guarda-chuva para trabalhar a igualdade no País nas suas mais diferentes manifestações. Ainda, o Congresso pode usar a proposta como plataforma para uma norma similar à Lei Orgânica para a Igualdade Efetiva entre Homens e Mulheres, aprovada na Espanha em 2007, que instituiu o chamado "princípio da presença equilibrada" de mulheres e homens em todas as instâncias da sociedade, como no ambiente de trabalho e em cargos políticos.

O projeto lista nove formas de discriminação contra a mulher e impõe uma pena de detenção de 6 meses a três anos, além de multa, para acusados de preconceito de gênero. A pena pode ser aumentada em 2/3 se a discriminação for acompanhada de violência física. 


fonte: gabinete do Dep Henrique Afonso, através de correiro eletrônico