quarta-feira, 6 de maio de 2009

Perdoa as nossas dividas

Eduardo Ribeiro Mundim

A oração do Pai Nosso pode ser encarada como "popular": fácil de ser dita, não traz maiores compromissos ao ser recitada, supostamente une os cristãos (e quem sabe até os não-cristãos), e por aí vai. Contudo, nada mais distante da realidade.

Nunca foi o objetivo do Senhor Jesus estabelecer uma oração fixa, para ser repetida mecanicamente. Logo antes de ensiná-la, advertiu os seus ouvintes (os discípulos e a multidão que os acompanhava na ocasião) de que não deveriam orar nem como os pagãos (que repetiam palavras automaticamente e supunham com isto obter resultados) e nem como os hipócritas.

Apenas quem é descuidado não percebe os compromissos implícitos na oração, e seus desdobramentos. Dentre todos, o que mais me coloca contra a parede é pedir para ser perdoado do mesmo modo como perdoo. Como me atrever a fazer tal pedido?

Conheço-me razoavelmente bem e não dá para esconder rancores guardados a muito, às vezes envolvendo até pessoas já falecidas. Não dá para esconder que a decisão intelectual de perdão é, frequentemente, desacompanhada pela emoção. Raiva, ódio, desejo de reparação (termo mais político que vingança) são sentimentos poderosos que despertam em quem os cultiva, ou a quem vitimam, uma expectativa de poder ou uma ilusão de força - como abrir mão disto por um pedido de perdão que me esvazia, humilha, tirar poder?

Temo ser ouvido, e ser perdoado como não perdoo algumas pessoas: sempre perdoando para descobrir mais tarde que ainda não terminei o processo - o perdão ainda está incompleto. Não tenho coragem...

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