quinta-feira, 28 de maio de 2009

Diário de Wesley, julho de 1736

Quinta-feira, 1º de julho. Os índios fizeram um encontro, e outro no sábado, quando Chicali, seu líder, jantou com o Sr. Oglethorpe. Depois do jantar, eu perguntei ao velho homem de cabelos grisalhos o que ele achava sobre qual seria a finalidade dele ter sido criado. Ele disse, "Aquele que está lá em cima sabe para qual finalidade ele nos criou. Nós não sabemos de nada. Estamos na escuridão. Mas homens brancos sabem muito. E também homens brancos constroem grandes casas, como se eles fossem viver para sempre. Mas homens brancos não podem viver para sempre. Em pouco tempo, homens brancos serão pó assim como eu." Eu disse a ele, "Se os homens vermelhos [índios americanos] estudarem o bom livro [a Bíblia], eles poderão saber tanto quanto os homens brancos. Mas nem nós nem vocês podemos entender esse livro, a não ser que sejamos ensinados por Aquele que está no céu. E Ele não ensinará, a menos que vocês evitem o que já sabem que não é bom." Ele respondeu, "Eu creio nisso. Ele não nos ensinará enquanto nossos corações não forem puros. E nossos homens fazem o que eles sabem que não é bom: eles matam seus próprios filhos. E nossas mulheres fazem o que elas sabem que não é bom: elas matam a criança antes de seu nascimento. Por isso, Aquele que está no céu não nos manda o bom livro." 

Ouvindo que a mais jovem das Senhoritas Boveys não estava bem, fiz-lhes uma visita rápida esta noite. Percebi que ela tinha apenas brotoeja, um tipo de erupção de pele, muito comum aqui no verão. Logo começamos uma conversa séria, depois que perguntei se elas não achavam que eram jovens demais para já se preocuparem com religião, e, se elas não poderiam adiar isso por dez ou doze anos. Ao que uma delas respondeu, "Se será razoável daqui a dez anos ser religiosa, é igualmente razoável agora. Eu não vou adiar um minuto." 

Quarta-feira, 7. Fui lá visitá-las novamente, estando determinado agora a falar mais intimamente. Mas, encontrando outras pessoas lá, a prudência me induziu a adiar até uma outra oportunidade. 

Quinta-feira, 8. Lá estando o Sr. Oglethorpe novamente, e casualmente falando da morte súbita, a Srta. Becky disse, "Fosse a vontade de Deus, eu escolheria morrer uma morte rápida." Sua irmã disse, "Então, você está preparada para morrer?" Ela respondeu, "Jesus Cristo sempre está preparado para me ajudar. E pouca ênfase deve ser colocada em semelhante preparação para a morte tal como se faz num ataque de doença." 

Sábado, 10. Bem no momento quando eles tinham terminado de tomar chá, a Sra. Margaret, vendo a mudança de sua cor, perguntou se ela estava bem. Ela não deu nenhuma resposta. Chegando o Dr. Tailfer logo após ser chamado, ela desejou que ele entrasse, e disse, "Senhor, minha filha, temo, não está bem." Ele olhou seriamente para ela, sentiu seu pulso, e respondeu, "Bem, senhora, sua filha está morrendo!" Entretanto, ele achou que era possível que a hemorragia pudesse ajudar. Ela sangrou aproximadamente uns 30 ml, inclinou-se para trás e morreu! 

Logo que tomei conhecimento, fui para a casa, e implorei que elas não a preparassem para o velório imediatamente, havendo uma possibilidade de, pelo menos, ela poder estar somente desmaiada. Havia essa pequena esperança, ela não apenas estando tão quente como sempre, mas tendo uma cor viva em suas bochechas, e algumas gotas de sangue começando a correr quando se dobrava o seu braço, mas não havia pulso e nem respiração, de forma que, tendo esperado algumas horas, percebemos que seu "espírito na verdade retornou a Deus que o deu." 

Eu nunca vi um defunto tão lindo em minha vida. Pobre conforto para o seu último habitante! Eu me surpreendi muito com sua irmã. Havia, em todo o seu comportamento, uma mistura inexprimível de ternura e resignação. A primeira vez que eu falei com ela, ela disse, "Todas as minhas aflições são nada se comparadas a isto. Eu não apenas perdi uma irmã, mas também uma amiga. Mas é a vontade de Deus. Eu confio nele, e não duvido que ele irá me ajudar a passar por isto." 

Esta noite tivemos um temporal de trovão e relâmpago como eu nunca tinha visto antes, até mesmo na Geórgia. Esta voz de Deus, também, me disse que eu não estava preparado para morrer, visto que estava com medo ao invés de desejoso disso. Ó, quando eu desejarei morrer e estar com Cristo? Quando eu amá-lo com todo o meu coração. 

Na noite seguinte, quase a cidade toda esteve presente ao funeral, onde muitos, sem dúvida, faziam uma porção de boas resoluções. Ó, quão poucos sinais da maioria destes serão deixados pela manhã! É verdadeiro aquele ditado que diz: "O inferno está cheio de boas intenções." 

Terça-feira, 20. Cinco dos índios Chicasaw (vinte dos quais tinham estado em Savannah vários dias) vieram nos ver, com o Sr. Andrews, seu intérprete. Todos eles eram guerreiros, quatro deles líderes de tribo. Os dois caciques eram Paustoobee e Mingo Mattaw. Nossa reunião aconteceu como segue: 

Pergunta. Vocês crêem que existe Alguém no céu que está acima de todas as coisas? 

Paustoobee respondeu, Cremos que há quatro coisas amadas no céu: as nuvens, o sol, o céu claro e Aquele que vive no céu claro. 

P. Vocês crêem que existe apenas Um que vive no céu claro? 

R. Cremos que existem Dois com Ele, Três no total. 

P. Você acredita que Ele criou o sol e as outras coisas amadas? 

R. Não podemos dizer. Quem viu? 

P. Você acredita que Ele criou vocês? 

R. Pensamos que no início Ele criou todos os homens. 

P. Como Ele os criou no início? 

R. Da terra. 

P. Vocês crêem que Ele ama vocês? 

R. Não sei. Não posso vê-lo. 

P. Mas Ele freqüentemente não tem preservado suas vidas? 

R. Sim. Muitas balas vieram por este lado e muitas por este outro, mas ele nunca deixou que elas me ferissem. E muitas balas entraram nestes jovens e todavia eles estão vivos. 

P. Então, Ele não pode salvar vocês de seus inimigos agora? 

R. Sim, mas não sabemos se Ele salvará. Temos agora tantos inimigos ao nosso redor que eu não penso em outra coisa senão na morte. E se devo morrer, que eu morra. Embora já tive muitos inimigos, Ele pode destruí-los todos. 

P. Como você sabe disso? 

R. Do que tenho visto. Antes, quando nossos inimigos vinham contra nós, então as amadas nuvens ficavam do nosso lado. E freqüentemente muita chuva, e algumas vezes granizo, caía sobre eles, e isso em um dia muito quente. E vi, quando muitos franceses, Choctaws e outros povos vieram contra uma de nossas cidades, o chão fez um barulho debaixo deles, e os amados no ar atrás deles, e eles ficaram com medo e foram embora, deixando sua carne, sua bebida e suas armas. Não estou mentindo. Todos estes viram também. 

P. Vocês ouviram esses barulhos em outras ocasiões? 

R. Sim, muitas vezes, antes e depois de quase toda batalha. 

P. Que tipo de barulhos foram esses? 

R. Como o barulho de tambores, armas e gritos. 

P. Você ouviu algum ultimamente? 

R. Sim, quatro dias depois de nossa última batalha com os franceses. 

P. Então você não ouviu nada antes disso? 

R. Na noite anterior sonhei que tinha ouvido muitos tambores lá em cima, e muitas trombetas lá, e muito barulho de pé batendo e gritos. Até então pensava que iríamos todos morrer. Mas então pensei que os amados viriam nos ajudar. E no dia seguinte ouvi no céu uma centena de armas dispararem antes da luta ter começado, e disse, "Quando o sol estiver lá, os amados nos ajudarão, e iremos vencer nossos inimigos." E assim fizemos. 

P. Vocês muitas vezes pensam e falam sobre os amados? 

R. Pensamos neles sempre, onde quer que estejamos. Falamos sobre eles e para eles, em nossa casa ou fora dela, na paz, na guerra, antes e depois de lutarmos, e, na verdade, toda vez e onde quer que nos reunimos. 

P. Para onde vocês pensam que suas almas irão após a morte? 

R. Cremos que as almas dos homens vermelhos caminham para lá e para cá, perto do lugar onde eles morreram, ou onde seus corpos se encontram, pois muitas vezes temos ouvido gritos e barulhos perto do lugar onde os prisioneiros foram queimados. 

P. Para onde as almas dos homens brancos irão após a morte? 

R. Não podemos dizer. Não temos visto. 

P. Acreditamos que somente as almas dos homens maus caminham para lá e para cá, mas as almas dos homens bons sobem. 

R. Acredimos nisso também. Mas eu somente disse a você o que pensa o nosso povo. 

(Sr. Andrews.– Eles disseram na hora do enterro que sabiam o que você estava fazendo. Você estava falando aos amados no céu para levantarem a alma da jovem mulher.) 

P. Temos um livro que nos diz muitas coisas dos nossos amados no céu. Você gostaria de conhecê-los? 

R. Não temos tempo agora senão para lutar. Se estivéssemos em paz, gostaríamos de conhecer. 

P. Vocês esperam alguma vez conhecer o que os homens brancos conhecem? 

(Sr. Andrew.– Eles disseram ao Sr. Oglethorpe que acreditavam que virá o tempo em que os homens vermelhos e brancos serão um.) 

P. O que os franceses ensinam a vocês? 

R. Os reis negros franceses nunca deixam suas casas [por 'reis negros' os índios querem dizer 'sacerdotes']. Vemos você vagueando por aí: gostamos disso, isso é bom. 

P. Como seu povo obteve o conhecimento que tem? 

R. Assim que o solo estava firme e preparado para ficarmos sobre ele, ele veio a nós, e tem estado conosco desde então. Mas somos jovens. Nossos pais sabem mais, mas nem todos eles sabem. Há apenas alguns, que o Amado escolhe desde criança, e está neles, e toma cuidado deles, e os ensina. Eles sabem estas coisas, e nossos pais praticam, por isso sabem. Mas eu não pratico, por isso sei pouco. 

Segunda-feira, 26. Meu irmão e eu rumamos para Charlestown, a fim dele embarcar para a Inglaterra mas, estando o vento contrário, não atingimos Port-Royal, quarenta milhas de Savannah, até a noite de quarta. Na manhã seguinte partimos. Mas o vento estava tão violento à tarde, enquanto atravessávamos o Canal de Santa Helena, que nosso marinheiro mais antigo gritou, "Agora é cada um por si." Eu disse a ele, "Deus cuidaria de todos nós." Quase tão logo as palavras foram ditas, o mastro caiu. Me mantive no canto do barco, para ficar desobstruído no caso dele afundar (o que a todo momento esperávamos que ia acontecer), embora com pouca esperança de nadar em direção à terra, contra esse vento e mar. Mas, "Como é que não tens fé?" No momento que o mastro caiu, dois homens o pegaram, e puxaram-no para o barco. Os outros três remaram com todas as suas forças, e "Deus repreendeu os ventos e o mar," de forma que em uma hora estávamos a salvo em terra firme. 

Sábado, 31. Chegamos a Charlestown. A igreja é de tijolo, mas toda coberta como pedra. Creio que acomodaria umas trezentas ou quatrocentas pessoas. Aproximadamente trezentas estavam presentes no culto matinal do dia seguinte (quando o Sr. Garden rogou que eu pregasse), e aproximadamente cinqüenta na santa ceia. Estava feliz de ver várias pessoas negras na igreja, uma das quais me disse que estava lá regularmente, e que sua antiga patroa (agora morta) tinha muitas vezes a instruído na religião cristã. Eu a perguntei que religião era. Ela disse que não sabia dizer. Eu perguntei se ela sabia de que essência era. Ela respondeu, "Não." Eu disse, "Você sabe que há algo em você diferente do seu corpo? Algo que você não pode ver ou sentir?" Ela respondeu, "Nunca me falaram dessas coisas antes." Eu acrescentei, "Você acha, então, que no geral um homem morre tal qual um cavalo morre?" Ela disse, "Sim, certamente." Ó Deus, onde estão tuas ternas misericórdias? Elas não estão sobre todas as tuas obras? Quando o Sol da Justiça nascerá sobre estes párias, com cura em Suas asas! [Ml 4.2]

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Tradução: Paulo Cesar Antunes

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