Mark Carpenter
Em março fui a Dallas para participar de uma nova feira de livros, a Christian Book Expo. Ao contrário das outras feiras, sempre restritas ao setor livreiro, esta abriu as portas ao público da cidade. Após dois anos de marketing e preparação, os organizadores esperavam 20 mil pessoas. A programação incluía palestras, sessões de autógrafos e debates entre as celebridades evangélicas mais badaladas. Mais de duzentos autores confirmaram presença. Dezenas de editoras montaram estandes para vender livros. Tudo isto no cavernoso Dallas Convention Center.
Resultado? Um verdadeiro fiasco. A feira atraiu apenas 1.500 pessoas ao longo dos três dias. O público de alguns dos muitos eventos da feira se restringiu a apenas dez ou quinze participantes. O salão de exposição de livros mais parecia uma cidade fantasma.
Na autópsia que se sucedeu, os organizadores justificaram o fracasso, procurando atribuir culpa à crise econômica (que, aliás, já é culpada por tudo), à falta de marketing de massa, à coincidência com o período de férias escolares conhecido como "spring break" etc. Porém nada conseguiu esconder o constrangimento dos organizadores ao constatarem a retumbante falta de interesse do público de Dallas, a capital americana mais evangélica de todas, situada dentro da cinturão da Bíblia e sede de várias megaigrejas.
É impossível afirmar com precisão, mas esta crise de apatia talvez reflita o que vem acontecendo nos Estados Unidos: perda de poder político da Direita Religiosa, crescimento do humanismo secular, ostracismo cultural do fundamentalismo cristão e uma incômoda falta de novas ideias (até a recente igreja emergente já está mais para "submergente"). Há uma sensação de que o futuro não reserva nenhuma reversão para a igreja evangélica americana, cada vez mais marginalizada pela sociedade, pela academia e pela "intelligentsia". As previsões de Philip Jenkins podem estar se materializando mais rapidamente que se esperava. O eixo do cristianismo global está de fato se movendo em direção ao hemisfério sul. É lá que acontece o crescimento, a paixão pela causa, o ímpeto evangelizador, as ondas de vidas transformadas, a rejeição ao liberalismo, o novo foco de estratégia missionária e as novas ideias.
O que falta ainda no hemisfério subequatoriano são pensadores e escritores capazes de mobilizar públicos internacionais. Acredito que não se trata da falta de capital intelectual, mas da resistência de barreiras linguísticas e logísticas que dificultam a disseminação. A língua franca do cristianismo continua sendo o inglês, e os "gatekeepers" das ideias ainda são as editoras americanas e inglesas, que emprestam a credibilidade de suas marcas aos textos dos seus autores.
Com a decadência da igreja nos Estados Unidos, no entanto, este quadro pode mudar. Enquanto as editoras americanas encolhem diante das diversas crises, no Brasil as editoras aumentam a produção, refletindo o crescimento da população evangélica. Hoje entendo que chegará um dia em que nossas editoras alcançarão seus congêneres americanos. Nesse momento a pujança econômica poderá alinhar-se às novas fronteiras da igreja, e o resultado poderá ser um grande potencial de influência global para nossos pensadores e escritores. Até lá, temos de aprender a pensar e a escrever.
• Mark Carpenter é diretor-presidente da Editora Mundo Cristão e mestre em letras modernas pela USP.
fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=2398&secMestre=2409&sec=2429&num_edicao=318#
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