Mark Carpenter
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Resultado? Um verdadeiro fiasco. A feira atraiu apenas 1.500 pessoas ao longo dos três dias. O público de alguns dos muitos eventos da feira se restringiu a apenas dez ou quinze participantes. O salão de exposição de livros mais parecia uma cidade fantasma.
Na autópsia que se sucedeu, os organizadores justificaram o fracasso, procurando atribuir culpa à crise econômica (que, aliás, já é culpada por tudo), à falta de marketing de massa, à coincidência com o período de férias escolares conhecido como "spring break" etc. Porém nada conseguiu esconder o constrangimento dos organizadores ao constatarem a retumbante falta de interesse do público de Dallas, a capital americana mais evangélica de todas, situada dentro da cinturão da Bíblia e sede de várias megaigrejas.
É impossível afirmar com precisão, mas esta crise de apatia talvez reflita o que vem acontecendo nos Estados Unidos: perda de poder político da Direita Religiosa, crescimento do humanismo secular, ostracismo cultural do fundamentalismo cristão e uma incômoda falta de novas ideias (até a recente igreja emergente já está mais para "submergente"). Há uma sensação de que o futuro não reserva nenhuma reversão para a igreja evangélica americana, cada vez mais marginalizada pela sociedade, pela academia e pela "intelligentsia". As previsões de Philip Jenkins podem estar se materializando mais rapidamente que se esperava. O eixo do cristianismo global está de fato se movendo em direção ao hemisfério sul. É lá que acontece o crescimento, a paixão pela causa, o ímpeto evangelizador, as ondas de vidas transformadas, a rejeição ao liberalismo, o novo foco de estratégia missionária e as novas ideias.
O que falta ainda no hemisfério subequatoriano são pensadores e escritores capazes de mobilizar públicos internacionais. Acredito que não se trata da falta de capital intelectual, mas da resistência de barreiras linguísticas e logísticas que dificultam a disseminação. A língua franca do cristianismo continua sendo o inglês, e os "gatekeepers" das ideias ainda são as editoras americanas e inglesas, que emprestam a credibilidade de suas marcas aos textos dos seus autores.
Com a decadência da igreja nos Estados Unidos, no entanto, este quadro pode mudar. Enquanto as editoras americanas encolhem diante das diversas crises, no Brasil as editoras aumentam a produção, refletindo o crescimento da população evangélica. Hoje entendo que chegará um dia em que nossas editoras alcançarão seus congêneres americanos. Nesse momento a pujança econômica poderá alinhar-se às novas fronteiras da igreja, e o resultado poderá ser um grande potencial de influência global para nossos pensadores e escritores. Até lá, temos de aprender a pensar e a escrever.
• Mark Carpenter é diretor-presidente da Editora Mundo Cristão e mestre em letras modernas pela USP.
fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=2398&secMestre=2409&sec=2429&num_edicao=318#
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