Eduardo Ribeiro Mundim
Fui comprar pão recentemente, cedo. Nossa cadela, Kiki, foi comigo, na coleira. À porta da mercearia, fez o que não está habituada: aguou a árvore (e o passeio que ao final da tarde é coroado por mesas para os butequeiros habituais) com uma grande poça de urina. Logo após, o dono chegou, e contou-me a novidade de como a urina canina estraga os metais das portas. Comentando sobre o frio, e sobre a crise, perguntou-me se eu era crente. Sua metralhadora não permitiu sequer que eu pensasse se responderia ou não, pois passou para o alvo: havia ouvido no noticiário da TV aberta que igrejas evangélicas não mais evangelizariam durante a crise econômica, pois ninguém teria como pagar o dízimo!Hoje, vejo na revista Época que alguns pesquisadores projetam 50% da população brasileira identificada como evangélica em uma década não muito distante.
Na Ultimato deste bimestre um dos articulistas levanta que uma nova onda de perseguição deve estar chegando, sendo a "lei da homofobia" uma de suas vertentes.
É o fundo do poço.
Não sonho em metade dos brasileiros dentro de igrejas chamadas evangélicas. Provavelmente as estatísticas dizem respeito aqueles que Jesus rechaçou certa vez, dizendo-lhes que a única razão de O terem procurado foi terem se fartado de pão, multiplicado a partir da oferta de um garotinho (e ainda dizem que milagres são a cura da incredulidade...). A consequência da teologia da prosperidade é somente esta: templos cheios de gente que não querem ser cauda, mas cabeça, que não adoram, negociam, que não servem, mas buscam ser servidas.
Não quero metade da população evangélica, nem um presidente, ou governador, ou prefeito, ou síndico evangélico. Evangélicos que fraudam o imposto de renda, vendem seus votos nas assembleias, empregam parentes ou irmãos na fé, constituem ONGs de fachada, ou buscam meramente poder político.
Sonho com o meu vizinho confessando que nada tem a apresentar diante de Deus Pai todo poderoso, que se envergonha de pensar em estar na Sua presença, e que confessa merecer todos os castigos intermináveis do mundo, e que reconhece que Jesus o sofreu no seu lugar.
Sonho com cristãos que não fazem caso de rótulos, deixando suas denominações de lado, por mais históricas e firmes que possam ser, para, aceitando-se mutuamente, ajudarem o vizinho a realizar o mais difícil de todos os milagres. Não é mover a montanha de um lado para o outro, ou transformar pedras em pão, ou curar o câncer, ou o diabetes, ou devolver a vista aos cegos ou as pernas aos amputados pela guerra. É fazer a oração do fariseu: "ó Deus, tem piedade de mim porque sou pecador". É confessar que Jesus Cristo é Senhor com a boca e coração, mostrando frutos dignos de arrependimento e conversão, mesmo que morrendo na pobreza e enfrentando até o fim dificuldades sem fim.
É o fundo do poço quando somos identificados como estelionatários, falsários, ladrões ou qualquer coisa semelhante - como conseguimos esta proeza?
Quem vai sentir a nossa falta quando desaparecermos?
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