segunda-feira, 11 de maio de 2009

Eu não escolhi a família em que nasci

Rev. Jeremias Carneiro

Há um tempo na vida do ser humano, especialmente na adolescência, em que questionamos a razão de termos nascido na família que temos e somos. Desprezamos a idéia de partilharmos dos mesmos hábitos, da mesma genética, da mesma fé, da mesma cultura e valores que já encontramos à nossa disposição.

Percebemo-nos vítimas de uma conspiração da qual não podemos fugir, vencer ou desfazer. Sentimentos de amargura, revolta e distanciamento norteiam as nossas ações. Nesse tempo, somos um poço de revolta. Alguns pais não dão conta de lidar com esta fase da existência dos filhos. Queremos estabelecer os nossos próprios valores e à luz desta busca contestamos a tudo e a todos. Muitas vezes dissemos e agora ouvimos: "Eu não pedi para nascer."

Na adolescência parece que estamos sempre em guerra, emburrados e desdenhando da má sorte de nossos pais por nos terem gerado. Isto, como diz o escritor do Eclesiastes, também passa. O desejo pela auto-afirmação se esvai e a vida volta ao curso de outrora.

E o que faz a vida regressar ao leito da quietude? O fato de chegarmos ao entendimento de que a família na qual nascemos não é fruto da nossa escolha. Nascemos ali. Crescemos entre aqueles que nos foram preparados por Deus. Somos fruto de relações que nos antecederam. Elas já nos trazem legados questionáveis, é verdade, mas não podemos desprezar a nossa família por não ser o que gostaríamos que ela fosse.

É certo, não podemos escolher a família na qual nascemos. Por essa razão, muitos de nós rejeitamos a sua cor, estética, pobreza, a simplicidade dos pais, a falta de cultura desses, a obesidade, a magreza e outros.

Amigo, nós não escolhemos três coisas nesta vida: Aonde vamos nascer (país, cidade, família), quando morreremos e de que morreremos. A família que tenho é algo que eu não escolho. Contudo, eu posso escolher a família que eu quero ser. Posso decidir ser uma família perdoadora, amorosa, cúmplice, dedicada a Deus, ao próximo, envolvida na igreja, envolvente em seus relacionamentos.

Isso está em meu poder. É possível construir um lar de valores, de fé, de amizade e de pais e filhos convertidos ao mesmo propósito. Essa é uma escolha possível, mas que vai demandar muito esforço, investimento de tempo e afeto.

Não se revolte pela família que você tem. Veja em sua família uma oportunidade de crescimento para sua vida cristã, pessoal e social. Não perca tempo com a família que você sonha em ter, invista com o coração na família que você pode ser. Fale com Deus sobre estas coisas. Amém.


publicado no boletim da 2a Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte em 10/05/09

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