Terça-feira, 1º de junho. Após orar com ele, fui surpreendido ao encontrar uma das mais controversas questões na teologia, o amor desinteressado, resolvida de imediato por um pobre homem, sem educação ou conhecimento, ou qualquer esclarecimento senão o Espírito de Deus. Eu lhe perguntei o que ele achava do Paraíso (ao qual ele tinha dito que estava indo). Ele disse: "Para falar a verdade, é um lugar agradável. Mas não estou preocupado com isso. Não me importa o lugar em que estou. Que Deus me coloque onde quiser, ou faça comigo o que quiser, contanto que eu possa apenas promover Sua honra e glória."
Quinta-feira, 3. Sendo o Dia da Ascensão, tivemos a Santa Comunhão, mas somente a família do Sr. Hird participou [Os Hird eram a família quaker que Wesley batizou a bordo do Simmonds no dia 16 de novembro de 1735]. Uma razão porque não havia mais foi porque uma mulher tinha inadvertidamente falado algumas palavras que deixaram a cidade inteira encolerizada. Ai! Como uma cidade permanecerá de pé estando dividida contra si mesmo! Onde não há amor fraternal, nem submissão, nem indulgência, nem perdão entre si, mas inveja, malícia, vingança, desconfiança, ódio, protesto, amargura, maledicência sem fim! Esta é uma prova abundante de que não pode haver amor genuíno no homem, a não ser que ele seja edificado sobre o amor de Deus.
Domingo, 6. Visitando o Sr. Lassel, e perguntando como ele estava, "Minha partida," disse ele, "eu espero que esteja próxima." Perguntei, "Isso não te preocupa?" Ele respondeu, "Ó, não. Partir e estar com Cristo é muito melhor. Não desejo mais nada deste mundo mau. Minha esperança, minha alegria e meu amor está lá." A próxima vez que eu o vi, ele disse, "A coisa que mais desejo é que Deus perdoe os meus muitos e grandes pecados. Eu seria humilde. Eu seria a criatura mais humilde que existe. Meu coração é miserável e está ferido por meus pecados. Conte-me, ensina-me, o que faço para agradar a Deus. Eu faria de bom grado seja qual for a sua vontade." Eu disse, "É da vontade dele que você sofra." Ele respondeu, "Então eu irei sofrer. Irei alegremente sofrer o que quer que for da Sua vontade."
Segunda-feira, 7. Encontrando-o mais fraco, perguntei, "Você ainda deseja morrer?" Ele disse, "Sim, mas eu não ouso orar por isto, pois temo desagradar meu Pai celestial. Que Sua vontade seja feita. Deixe-o realizar sua vontade, em minha vida ou em minha morte."
Quinta-feira, 10. Começamos a cumprir em Frederica o que tínhamos anteriormente concordado fazer em Savannah. Nosso objetivo era [similar ao que faziam em Oxford, no Clube Santo], aos domingos, à tarde, e toda noite, após o culto público, passar algum tempo com os mais comprometidos dos comungantes, cantando, lendo e conversando. Esta noite tivemos somente Mark Hird [o primeiro metodista em Frederica]. Mas, no domingo, o Sr. Hird e outros dois mostraram interesse em ser admitidos. Após um salmo e um pouco de conversa, lemos a Perfeição Cristã do Sr. Law e concluímos com outro salmo.
Sábado, 12. Estando com alguém que desejava muito conversar comigo, mas não sobre religião, falei neste caso, "Suponha que esteja indo a um país onde todos falam latim, e não entendem nenhuma outra língua, e nem conversariam com qualquer pessoa que não a entendesse. Suponha que alguém tenha sido enviado para ficar neste lugar algum tempo, com o propósito de ensiná-la a você. Suponha que essa pessoa, satisfeita com sua companhia, gaste seu tempo em coisas inúteis com você, e não ensine a você nada daquilo para o qual ele veio. Esta seria uma missão satisfatória? Todavia, este é o nosso caso. Você está indo a um país onde todos falam do amor de Deus. Os cidadãos do céu não entendem outra língua. Eles não conversam com ninguém que não a entendem. Na verdade, tal pessoa nem é admitida lá. Eu fui enviado de Deus para ensinar isto a você. Poucos dias me foram confiados para esse propósito. Eu estaria, então, fazendo bem em, porque gosto de sua companhia, gastar este curto tempo com coisas inúteis, e não ensinar nada daquilo para o qual fui enviado? Deus não o permita! Antes, não quero conversar com você de forma alguma. Dos dois extremos, este é o melhor."
Quarta-feira, 16. Mais um pequeno grupo se reuniu. O Sr. Reed, Davidson, Walker, Delamotte e eu. Cantamos, lemos um pouco do Sr. Law, e depois conversamos. Estabelecemos as quartas e sextas-feiras para nossas freqüentes reuniões.
Quinta-feira, 17. Um comandante de um navio de guerra, caminhando bem atrás de nós, com dois ou três amigos, amaldiçoava e blasfemava muito, mas quando o repreendi, ele pareceu muito comovido, e acabou me agradecendo.
Sábado, 19. O Sr. Oglethorpe retornou do sul, e deu ordens no domingo, dia 20, para que ninguém profanasse o dia (como era de praxe anteriormente) pescando ou caçando aves. À tarde, fiz um sumário do que tinha visto ou ouvido em Frederica, inconsistente com o Cristianismo, e, conseqüentemente, com a prosperidade do local. O resultado foi como deveria: alguns dos ouvintes se beneficiaram e os demais ficaram profundamente ofendidos.
Neste dia, às dez e meia, Deus ouviu a oração de seu servo, e o Sr. Lassel, conforme o seu desejo, "partiu para estar com Cristo."
Terça-feira, 22. Observando o comportamento do Sr. Horton, perguntei-lhe qual a razão de tanta frieza. Ele respondeu, "Eu não gosto de nada do que você faz. Todos os seus sermões são sátiras de certas pessoas, por isso nunca mais vou ouvir você, e todo o povo é do mesmo parecer, pois não ficaremos mais ouvindo sermos abusados.
"Além disso, eles dizem que são protestantes. Mas quanto a você, eles não podem dizer de que religião você é. Eles nunca ouviram falar dessa religião antes. Eles não sabem o que fazer dela. E também seu comportamento pessoal: todas as brigas que aconteceram desde a sua vinda foram por sua causa. Na verdade, não há homem ou mulher nesta cidade que se importa com uma palavra do que você diz. Por isso, pode pregar o tempo que quiser, mas ninguém virá para ouvir você."
Ele estava irado demais para ouvir uma resposta. Assim, não tive nada a fazer senão agradecê-lo por sua sinceridade, e deixar passar.
Quarta-feira, 23. Tive uma longa conversa com o Sr. M___, sobre a natureza da verdadeira religião. Então lhe perguntei por que ele não se esforçava para recomendá-la a todos com quem conversava. Ele disse, "Eu fiz assim uma vez, e por algum tempo achei que fazia muito bem agindo dessa forma. Mas depois constatei que eles nunca eram os melhores e eu mesmo era o pior. Por isso agora, embora sempre tento ser inofensivo em minha conversa, não me esforço para tornar as pessoas religiosas, a não ser aquelas que desejam ser assim, e estão, portanto, desejosas de me ouvir. Mas eu ainda não encontrei (não falo de você ou de seu irmão) alguém assim na América."
"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!" Observe a tendência deste princípio maldito! Se você falar somente para aqueles que estão desejosos de ouvir, veja quantos você irá dissuadir do erro de seus caminhos! Se, portanto, esforçando para fazer o bem, você causa dano, e daí? Assim fez São Paulo. Assim fez o Senhor da vida. Até Sua palavra foi "cheiro de morte assim como cheiro de vida." Por isso, então, você não irá mais se esforçar? Deus o proíba! Esforce mais humildemente, mais calmamente, mais cautelosamente. Não se esforce como fazia anteriormente, mas se esforce enquanto o sopro de Deus estiver em suas narinas!
Devendo deixar Frederica à noite, prestei mais atenção às palavras da Lição do dia: "A quem, pois, compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. Porque veio João o Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio; veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores" Lc 7.31-34.
Aproximadamente onze da noite embarcamos, e no sábado, 26, por volta de uma da tarde, viemos para Savannah. Ó, o que nos falta aqui, seja para a vida, seja para a religiosidade! Se sofrimento, Deus o enviará em seu tempo.
Domingo, 27. Aproximadamente vinte pessoas se uniram a nós para a oração da manhã. Uma hora ou duas depois, um grande grupo de índios Creek chegou, a expectativa dos quais nos privou de nosso lugar de adoração pública, no qual eles deviam ter seu encontro.
Quarta-feira, 30. Esperava que uma porta fosse aberta para subirmos imediatamente aos Choctaws, os menos civilizados, isto é, os menos corrompidos, de todas as raças de índios. Mas quando informei o Sr. Oglethorpe de nosso propósito, ele citou em oposição, não somente o perigo de sermos interceptados ou mortos pelos franceses lá, mas muito mais, o inconveniente de deixarmos Savannah sem um ministro. À noite, contei estes argumentos aos nossos irmãos [morávios], que foram de uma mesma opinião, "Não devemos ir ainda."
Tradução: Paulo Cesar Antunes
Nenhum comentário:
Postar um comentário