segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O sucesso aqui não garante o sucesso lá

 
Data da impressão: 19 de janeiro de 2009

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Capa — Missões brasileiras em resposta ao clamor do mundo

   Nesta matéria:
Missões brasileiras em resposta ao clamor do mundo
Presente e futuro da igreja evangélica no Brasil (parte 2)
O que fazer entre a ascensão e a parúsia de nosso Senhor Jesus Cristo
De devedor a inocente
Os católicos também fazem missões
O sucesso aqui não garante o sucesso lá
Centelhas do que foi dito no 5º Congresso Brasileiro de Missões
A contribuição de Orlando Costas para a compreensão da missão integral
O amor prova a espiritualidade e conduz à missão
A mais contundente palestra do 5º CBM foi feita por Paul Freston, sociólogo especializado no estudo da sociologia das igrejas evangélicas brasileiras, professor da Universidade Federal de São Carlos e pesquisador do Instituto de Estudos da Religião na Universidade Baylor (Estados Unidos). Foi uma palestra pensada e pesada, um discurso duro de se ouvir, mas construtivo e necessário. O tom exortativo, porém não arrogante, facilitou a assimilação da mensagem. Além de conhecer a mentalidade evangélica brasileira dentro do país, Freston visitou e estudou comunidades evangélicas brasileiras nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, e entrevistou muitos missionários brasileiros e líderes evangélicos de países que recebem nossos missionários. Os organizadores do CBM mostraram sabedoria e coragem ao convidar o professor Freston para falar sobre os desafios atuais das missões brasileiras. Entre o que foi dito, vale destacar:

Globalização
A globalização cria a ilusão de um mundo muito mais uniforme do que realmente é. Ela incentiva a superficialidade no contato transcultural e atrapalha o engajamento de longo prazo, sem o qual não se faz uma evangelização mais profunda. Facilidades de viagem, internet etc., desencorajam a permanência mais longa e o mergulho profundo em outra cultura.

Proselitismo
Não somos fundamentalistas violentos, e a diferença é clara não só no fato de não jogarmos bombas, mas também na linguagem que usamos. O aumento da interação entre as religiões mundiais exigirá normas consensuais de respeito e civilidade. No mundo plural, é necessário respeitar outras religiões e não ridicularizá-las. Precisamos tomar cuidado com conceitos territoriais nas novas versões de batalha espiritual ("demônios territoriais"), para não voltarmos à territorialidade da cristandade medieval.

Inexperiência
Os missionários brasileiros geralmente são inexperientes (como indivíduos e agências). Estão entrando num mundo pós-colonial (Ásia e África) ou pós-cristão (Europa), muitas vezes ingenuamente. Precisam perder logo o costume de atacar as outras religiões do país no púlpito ou na mídia, de demonizar a outra cultura, de julgar apressadamente as características culturais de um povo que não conhecem direito e cuja língua mal conseguem falar. Os missionários têm de superar o etnocentrismo e a falta de empatia com a população nativa. Precisamos saber que missões não justificam a intolerância, antes, baseiam-se na tolerância. Ninguém tem monopólio no etnocentrismo. A má prática missionária é sempre má, não importa de que país você venha nem o quanto você diga que está cheio do Espírito Santo.

Novo nascimento
O "andar em bando" dificulta ver o país com olhos nativos. O missionário deve separar-se de outros brasileiros (e estrangeiros em geral) por alguns meses, para começar a ver o país -- e até o Brasil e o mundo -- do ponto de vista dos nativos. O espírito missionário é a capacidade de "tornar-se criança" para nascer de novo na nova cultura.

Humildade
O missionário precisa desaprender o que dá certo no Brasil, pois o sucesso aqui não garante o sucesso lá! Ele não pode deixar de aprender com a história e com outros povos, só porque conta com o auxílio do Espírito. Também deve desistir da explicação: "Não deu certo lá porque os nativos são duros e teimosos".

Geopolítica
O missionário deve evitar o antiislamismo que jorra do mundo evangélico norte-americano, baseado na necessidade de uma visão de mundo maniqueísta. No campo missionário, é muito importante não ver o mundo a partir da visão geopolítica da direita cristã americana. Também é importante evitar o sionismo cristão. Deve-se repensar o apoio incondicional a Israel, que caracteriza muitos evangélicos. Isso afeta profundamente a obra missionária. Se as pessoas ao redor do mundo vissem claramente que o cristianismo transformou as atitudes geopolíticas e econômicas dos cristãos dos países ricos e poderosos... essa seria a maneira mais rápida de ganhar corações e mentes. Seria a apologética mais eficaz; seria muito mais prático do que todas as "estratégias de evangelização mundial" produzidas por agências missionárias do norte.
 
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