terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Tragédia no templo da Renascer - domingo 18 de janeiro, 18h52

Ageu Heringer Lisboa

Vinte minutos após o término de um culto acontece um estrondo e o teto do grande templo da Rua Lins de Vasconcelos 1108, no Cambuci, São Paulo, sede internacional da Igreja Apostólica Renascer em Cristo desaba inteiramente. Neste momento encontravam-se entre 200 a 300 pessoas segundo estimativas de testemunhas. Praticamente vazio se compararmos com sua lotação costumeira nos momentos de cultos, de 1500 a 2.200 pessoas. Daí a poucos minutos estaria novamente cheio para outro culto. Ao meio dia da segunda-feira contabiliza-se nove mortos e uma centena de feridos. Antes disto, de dentro do templo, olhando para o teto se via uma grandiosa pintura dos céus; agora não mais uma representação e sim uma visão direta dos céus, dia e noite. O teto-céu veio abaixo. Misturou-se ao piso, cadeiras, bíblias e gente, trazendo ferros, madeira, concreto, um amálgama caótico. Teto-piso onde passam a movimentar bombeiros, policiais, socorristas e jornalistas, à procura de vítimas.

Cheguei ao local do sinistro às 21h00 movido por curiosidade, compaixão e solidariedade,  um senso de responsabilidade, com predisposição de ser útil no que fosse possível.Assim ocorreu com muitas outras pessoas. Lembre-me imediatamente do que ocorrera semanas antes em Santa Catarina, com as inundações e desabamento com tantas mortes e destruição e a boa resposta da população à emergência.

Em torno da igreja, num círculo de três a cinco quadras, ruas foram interditadas a veículos, num trabalho rápido da autoridade de segurança. Dezenas e carros ambulâncias do SAMU, helicópteros ambulâncias da PM e viaturas das policias e bombeiros atestam a grandiosidade da tragédia e a presteza e organização das operações de socorro em andamento. Helicópteros de redes de tv e carros reportagem estacionados nas imediações. Grupos de membros da igreja nas esquinas, atentos, em orações. Ouvem-se aplausos quando alguém é colocado numa ambulância. Um homem é visto ajoelhado ao lado de uma ambulância, orando. Alguns feridos já atendidos iam embora; outros se mantinham nos arredores aguardando algum amigo ou simplesmente esperando para se inteirar melhor dos fatos. Uma necessidade de estar presente como testemunha dos fatos e não ser indiferente. A multidão não chega a atrapalhar os serviços, por bem comportada.  O que contrasto com o que acontece em volta de estádios de futebol quando algum incidente ou acidente acontece, com gritarias, xingamentos, chutes, depredação.

Bem próximo ao cordão de isolamento do quarteirão da igreja encontrei-me com o pastor Micmás, que dirige um trabalho de capelania. Juntos nos aproximamos do bispo Tenuta, dirigente da igreja, e manifestamos nossa solidariedade e de nossas comunidades. Um homem com cabeça enfaixada nos detalhou o que observou de reação dos que se encontravam no interior do templo: gritos, espanto, exclamações, orações e atitudes reflexas de autoproteção e de ajuda a gente próxima. Vizinhos da igreja foram os primeiros a prestar socorro, a organizar a saída e controlar o trânsito até que chegaram os policiais. Felizmente o socorro especializado não demorou, substituindo aos poucos os próprios membros da igreja e vizinhos que se auto-organizavam e atendiam a quem podiam. Horas depois muita gente já tinha comparecido a hospitais da região para doação de sangue.

Enquanto se finaliza a busca por vítimas começa o trabalho de rescaldo e perícia técnica, laudos de engenharia e documentação junto à prefeitura e bombeiros. Tudo será visto e analisado. A ciência, a técnica e as leis estarão a serviço do aprimoramento das noções de segurança, dos procedimentos de prevenção de acidentes, das normas de construção e manutenção das edificações e do manejo de emergências.

Certamente muita oração aconteceu e continuará a ser feita em várias cidades. A necessidade da consolação a quem perdeu um parente ou amigo continuará. Um lugar que para muitos é garantia da presença de Deus e guardado por anjos é destruído de forma repentina. Como entender? Como os dirigentes da igreja compreenderão esta tragédia? O imaginário de crentes acostumados a tragédias bíblicas fervilhará. Perguntas do tipo sem-resposta são disparadas em muitas mentes: e Deus? Ou alguém sabe a resposta? Mais uma vez fomos sacudidos pelo imprevisto. Somos convidados a sermos prudentes, não-julgadores e a exercer misericórdia.

 


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